Capítulo 5 – O inesperado e O impossível
- Não diga besteiras! - Gal respondeu de impulso, enquanto começava a chorar. - E pare de se culpar por algo que não foi você quem fez! Eu nunca o culpei! E nunca teria esse direito! Você só queria salvar minha irmã!
- Gal... - E por um instante, ambos se esqueceram da figura grotesca que estava se aproximando lentamente deles. - ...Obrigado.
- Idiota.
- Pois é, nunca pensei direito, né? - E sorriu para o filho.
O último que ele veria, em meio a sangue e na hora da morte.
- Agora, você precisa ir.
- ...
- Apenas vá. Senão, meu sacrifício aqui foi em vão. E tente descobrir o que é isso. Depois, se afaste de tudo isso, meu filho. Viva uma vida normal e feliz, por mim. - E com isto, ele lançou seu olhar encorajador para o filho. Um que Gal não via por muitos anos, e que, da última vez, levou Mancy a decisão mais fatal de sua vida. Aquele olhar movia montanhas com sua força.
Movido por esta força de vontade, o garoto levantou-se, deixando o pai com um sorriso na face. O grande monstro agora estava praticamente em cima dele, mas a janela ainda estava ao seu lado. Lançou-se por ela segurando com as duas mãos a pequena bolsa de couro, mas foi tarde demais: O monstro agiu mais rápido que o esperado e seu longo braço se moveu para agarrar a perna de Gal, o parando antes que seu corpo ficasse completamente fora do quarto. Ele pôde ver Gary e Ann saindo do colchão com olhares assustados na direção dele, para logo em seguida ser jogado para dentro bruscamente.
- Argh! - E seu corpo se chocou contra a parede do quarto com força.
Por um leve momento o garoto pensou que ia perder a consciência, mas revelou-se mais forte que o esperado. Rapidamente levantou-se para analisar a situação: Agora a criatura estava no caminho entre ele e a janela, e não havia muita coisa a se usar como arma contra ela. De modo que, tudo que Gal fez, foi guardar a bolsa no bolso e se preparar para esquivar-se do monstro. Apostava que ele seria lento para reagir caso esquivasse, era sua única saída.
Não teve de esperar muito, a investida veio pela direita com toda força e velocidade possíveis. Gal se jogou para o chão e rolou por debaixo do braço do monstro quando este passava por cima dele. Mal teve tempo de se levantar antes que o monstro recuasse um passo e já avançasse para cima dele com o outro punho, agora frontalmente. Não haveria tempo para rolar novamente, mas o corpo de Gal agiu antes que ele mesmo pensasse. O jovem correu na direção do punho e usou os braços para se apoiar na mão do monstro, usando-a como apoio para saltar por cima do soco, antes que o atingisse. Se jogou na direção da cama e caiu sobre ela, já levantando-se no mesmo instante. Talvez tivesse alguma chance de escapar. A criatura virou-se para ele e soltou um urro disforme, como se sua presa estivesse escapando demais de seus golpes. E assim ela partiu para cima dele desferindo uma sequencia interminável de socos com os braços enormes, Gal agiu novamente com uma precisão incrível, se lançando ao chão novamente para passar por debaixo das pernas dele. Porém, neste instante, a criatura afastou-se um passo virando em direção a ele, e como resultado, acabou chutando Gal sem querer. O chute o lançou contra a parede novamente, fazendo ele perder todo o ar e sentir toda a dor que tentava ignorar com a adrenalina. E agora, o monstro vinha para cima dele com tudo, o braço direito já arqueado acima da cabeça, pronto para esmagá-lo ali.
Gal recolheu-se, não havia tempo para esquivar-se e seu corpo não respondia aos seus comandos por causa da dor. Seria seu fim, ele apenas fechou os olhos e pôs os braços a frente do corpo. E assim, passaram-se os próximos segundos. Um silêncio repentino tomou conta do quarto por alguns segundos e Gal abriu os olhos para ver porque ainda não havia morrido.
A frente dele, estava um homem de cabelos negros compridos e esfarrapados, vestia uma calça bege cheia de bolsos e uma camiseta preta justa. Na cintura, haviam duas espadas presas em suas devidas bainhas, e em suas mãos havia mais uma espada. Esta, estava trespassada no punho da criatura. Até ela demorou para entender o que estava acontecendo.
- Saia daqui agora, garoto! - Esbravejou o homem.
Mas Gal estava perdido demais para fazer qualquer coisa. O monstro urrou e repeliu o homem com o outro braço enquanto recolhia o ferido para perto do corpo. Ele apenas sacou outra espada enquanto saltou para trás para esquivar-se do braço. E antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a criatura investiu contra ele.
Gal seriamente pensou que agora ele também estaria perdido, visto a veracidade com a qual a criatura havia avançado. Mas estava enganado. O homem saltou por cima do punho quando este passou horizontalmente contra ele, e logo depois abaixou-se e rolou quando o braço ferido investiu contra ele, ainda com a espada fincada nela. Mal terminado o golpe da criatura, o homem rolou mais uma vez, agora chegando assustadoramente perto da criatura, como se ela não lhe botasse medo algum, e fincou a segunda espada na cintura dela, fazendo questão de colocar toda a lâmina para dentro do corpo monstruoso.
Daquela vez a criatura tombou para trás, fazendo toda a casa tremer e fazendo também algumas boas rachaduras surgirem no chão do quarto. O desconhecido se afastou e olhou para mim mais uma vez.
- Já não disse!? Saia daqui!
Mal podia ele imaginar que Gal agora estava mais confuso que antes e por isto continuou parado observando a cena. Ele reclamou consigo mesmo enquanto sacava a terceira espada da cintura, sabia que ainda teria de lutar. Mas agora, o monstro estava completamente desestruturado, levantou-se com muita dificuldade e deu passos cambaleantes na direção de Gal.
E antes que puder fazer mais qualquer coisa, o homem saltou contra ela e fincou a terceira e última lâmina no meio do peito. A criatura urrou, e logo depois, se desfez no meio de uma grande massa negra que começou a se dissipar como fumaça no ar. Como podia ser tão fácil para ele? Era o que Gal pensava.
Enquanto isto o desconhecido foi até ele e o fez levantar-se a força, o puxando pelos braços.
- Escute, mais deles virão. Então, precisamos ir.
- Quem é você?
- Não há tempo para explicações agora. Apenas vamos.
- Gary e Ann?
- Eles vão ficar bem, os Negros vem atrás de você. E de mais ninguém.
- Negros?
- É. Vamos.
E cortou o assunto, puxando o garoto por um braço pela porta. Gal teve a infelicidade de ver tod o caminho traçado pelo monstro pela casa enquanto seguia imponente o desconhecido de cabelos compridos. Viu o Senhor e a Senhora Walles mortos pelo caminho, mas tentou ignorar a cena enquanto descia as escadas. O homem abriu a porta de entrada e saiu para o meio da rua.
Ali fora, tudo parecia normal ainda. Uma leve brisa de madrugada passou por Gal quando ele observava se mais alguma coisa anormal acontecia. Várias casas em volta já estavam com luzes acesas, e provavelmente não demorariam mais cinco minutos até abrirem as portas para olharem o que acontecia na casa dos Walles. Gal também não duvidava que já tinham chamado a polícia.
Gal foi arrastado até o meio da rua, quando o homem o soltou, e pegou algo no bolso, colocando no ouvido.
- Onde está me levando?
- Por enquanto é melhor não saber de nada, garoto. - Foi a cortada que levou.
- O que eram aquelas coisas, pelo menos diga isso!
- Não.
- Elas mataram meu pai! Diga algo!
- ... - E pareceu pensar por um instante. - Elas são...
Mas neste exato instante, um ronco de motor altíssimo surgiu, interrompendo a fala do homem. Na esquina, virou um grande veículo de três rodas em alta velocidade. Ele parecia com um tanque de guerra cinza-escuro com um motor de avião embutido. Tinha três enormes rodas, quase do tamanho das rodas de tratores, uma na frente e duas nas extremidades traseiras, fazendo ele ter uma forma triangular. Ele freou com tudo a frente da casa e então a parte da frente do veículo. se abriu e uma voz e coou lá de dentro.
- O que estão esperando!? Vamos, logo a polícia vai aparecer!
E antes que algo mais pudesse ser dito, o homem empurrou Gal para dentro do triciclo-de-guerra, e entrou em seguida. Ali dentro haviam quatro lugares, Gal se acomodou no mais ao fundo, enquanto o homem sentava ao seu lado. Na cadeira mais a frente, onde haviam diversos controles e painéis, estava sentado um homem de short marrom, camisa florida e chinelos de dedo. Ele parecia ter entre cinquenta e sessenta anos e tinha no máximo um metro e meio de altura. Também teve tempo para analisar, o homem que o salvou. Ele tinha um ar sério e grandes cicatrizes na face e em partes do corpo, como nos braços, não tinha mais de trinta e cinco anos, e parecia bem familiar para ele. Então a porta se fechou e o veículo acelerou pela rua numa velocidade impressionante, que fez o corpo de Gal ser lançado contra o banco.
Pelas poucas janelas do veículo era possível ver que se moviam rapidamente, e que haviam saído da rua. Bluesky era uma cidade pequena e cercada de campos abertos. Por isso, não foi difícil para eles saírem do perímetro da cidade, ainda mais num veículo super potente como aquele, que fazia tudo virar borrões pela janela. O velho que pilotava-o parecia ter uma prática incrível com ele, pois apertava botões e acionava alavancas com uma precisão e rapidez fora do comum. Simplesmente parecia uma só com a máquina.
E foi quando o admirava que ele virou os olhos na direção dele, encarando-o.
- Este é o escolhido?
- Sim, tenho certeza absoluta. - O homem respondeu.
- Ora! Porque diabos um garoto!? Olhe só para ele, não pode fazer nada!
- Tudo tem seu tempo, Hórus. Vamos ver o que ele é capaz de fazer outra hora. Por enquanto precisamos apenas nos afastarmos para conseguir alguma segurança. É melhor um escolhido imprestável vivo do que um útil e morto.
- É, tem razão. Tem razão. - Disse Hórus, e apertou mais uma sequencia de botões do painél.
O veículo responde com alguns sons baixos que soaram perto dos controles e em seguida acelerou. Gal achou que seria uma boa hora para perguntar algo.
- Será que agora poderiam me dizer alguma coisa?
- ... - O homem o observou. - O que acha, Hórus?
- É uma boa falar algo para ele. Vai que ele fica doido?
- Tudo bem. Diga o que quer saber. - E virou-se para Gal.
- Primeiramente, quem são vocês?
- Enviados para te salvar. Prefiro não entrar em detalhes sobre isso agora. Quando lhe explicar toda a história, entenderá tudo. Prossiga.
- Tudo bem... O que é aquele... Monstro?
- Nós os chamamos de Negros. São grandes criaturas formadas de uma personificação de caos e destruição. Em breve, vão começar a surgir muitos deles pelo mundo, e não conseguiremos mais escondê-los.
- Existem mais?
- Sim. Infinitos. E está encerrado, prefiro não lhe dizer mais nada por enquanto.
- Só mais uma pergunta, então.
- ...
- Posso?
- Diga logo.
- Quem é você?
- Eu sou Khalador.
Não fiz revisão. Podem haver erros de português. Me avisem caso acharem algum deles.
muito bom o texto,obrigado pela visita ao meu blog =D
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