sábado, 22 de maio de 2010

O Criminoso Cortês

ㅤㅤㅤㅤ – E quem diria que esse momento chegaria, heim, Punho Firme? - Língua Preta riu alto, saindo do meio do grupo de homens armados que fechavam a saída do escritório de Punho Firme. O Chefão estremeceu nas bases ao ver Língua Preta ali.
ㅤㅤ – Então, era mesmo você, teu pedaço de merda.
ㅤㅤ – É. Tô aqui pra ver a cena que mais esperei a vida toda...
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ㅤㅤ – É. Este mesmo.
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ㅤㅤ E Túlio “Punho Firme” sorriu, mostrando os dentes amarelados em contraste com os de ouro. Nem ele mesmo ainda tinha total certeza da razão de seus últimos atos, mas só sabia que aquilo o alegrava. E o que alegrava o Punho Firme sempre deve ser feito, como era dito no submundo do crime organizado de Ponta-Porã. A cidade fronteira entre Paraguai e Brasil tinha um altíssimo índice de criminalidade, mas nada perto do real. Afinal de contas, os grandes chefes do submundo tem seus homens espalhados até as entranhas mais profundas da política.
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ㅤㅤ – Tem certeza, Seu Punho Firme? O moleque parece tão magrela.
ㅤㅤ – É ele mesmo. - E Punho Firme virou-se, caminhando até a saída. Sua ordem não seria questionada mais do que uma vez. E se fosse, não seria mais pela mesma pessoa. - Vô estar esperando no carro. Te apressa, Lingote.
ㅤㅤ – P-p-pó deixar. Ele já tá indo. - Foi tudo que Lingote conseguiu falar.
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ㅤㅤ O lugar era precário, ficava numa sala fechada com porta de metal, que ficava num porão de uma boate, que ficava no subsolo de um prédio que caía aos pedaços. A multidão dava espaço para Túlio passar, murmurando qualquer coisa enquanto abaixavam a cabeça. Toda aquela algazarra não era do gosto dele, mas Punho Forte sabia muito bem que era num lugar daqueles que seus produtinhos de qualidade vendiam aos montes.
ㅤㅤ Seus passos se apressaram conforme a saída se aproximava, de forma que seus últimos passos foram dados quase que correndo, até finalmente um de seus homens lhe abrir a porta da saída e ele se deparar com as escadas que levavam até a superfície. Dali, sentiu o ar fresco e respirou melhor, observando com o canto do olho a porta da boate, com um sorriso de escárnio na face. E quem disse que a escravidão terminou? Bando de babacas. Pensou ele, tendo já visto diversos fatos que contradiziam as leis da constituição. Prostitutas que deviam a vida, Órfãos filhos de marginais mortos, Homens endividados. Todos se podiam comprar. Todos eram escravos.
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ㅤㅤ – Punho Firme, bora pro carro. Aqui perigoso. - O gigante Golias veio acudir o chefe. Ele era o mais velho dos funcionários de Túlio, e talvez um dos únicos que nunca teve algo amputado pelo poderoso chefão. Também, sua vida se resumia a proteger o Punho e acatar suas ordens sem questionamentos. Sua inteligência quase nula ajudava a fechar o círculo de qualidades do sujeito que tinha os dedos cheios de anéis de ouro e outras pedras. Se Túlio, até aquele momento, acreditava que alguém não o fosse traí-lo, esse alguém era Golias.
ㅤㅤ Entrou no carro e afundou no banco da caminhonete, enquanto Golias sentava ao seu lado, e mais dois seguranças no banco da frente. Havia mais três capangas do lado de fora, atentos a qualquer brusco movimento. E, não demorou mais do que alguns segundos para este acontecer: Lingote saltou da porta, afobado como sempre, trazendo consigo um menino. Os três capangas automaticamente se viraram para o mercador de escravos com armas prontas. Lingote levantou as mãos, deixando suas pizzas de suor a mostra por debaixo das gorduras do corpo velho, cobertas pela camisa de botão florida.
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ㅤㅤ – Opa! Opa! Opa! É pro patrão! É pro patrão! Te acalma aí, capangagem! - Falou, empurrando o menino para frente enquanto seguia logo atrás subindo os poucos degraus. Passou entre os homens de Punho Firme e abaixou-se frente a janela do Chefão. - Tá aqui o garoto, Seu Punho Firme.
ㅤㅤ Túlio observou o menino uma última vez e sorriu novamente, em seguida abrindo a porta e fazendo o garoto entrar. O moleque de cabelo crespo e desgrenhado sentou-se sem soltar um pio, com cabeça baixa e retendo as mãos dentro dos bolsos da calça em trapos que usava. Punho Firme olhou para o menino ao seu lado uma última vez, e em seguida virou-se para Lingote.
ㅤㅤ – O pagamento virá amanhã, sem falta.
ㅤㅤ – P-p-pode levar o tempo que quiser, Seu Punho Firme.
ㅤㅤ – Tá. Tá. Até mais, Lingote. - E o carro acelerou.
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ㅤㅤ Uma vez voltando para casa, Túlio virou-se e encarou o menino.
ㅤㅤ – Qual teu nome, moleque? - Mas não houve resposta.
ㅤㅤ – Não me ouviu não? Te perguntei teu nome, guri! - O menino se encolheu, mas nada falou.
ㅤㅤ Túlio respirou fundo e conteve Golias, que já estava prestes a dar um tabefe no menino. Ajeitou-se no banco da caminhonete, desta vez ficando frente-a-frente com o menino órfão. Pegou o moleque pelo queixo e o aproximou de si.
ㅤㅤ – Certo. Já entendi. Se quer assim, vamos pelo meu jogo. - E sorriu, deixando seu bafo terrível escapar. - De agora em diante, tu é Carlos. Carlos “Língua Presa”.
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ㅤㅤ O apelido de chacota não durou mais que alguns meses. Logo, Carlos Língua Presa havia se tornado Carlos Língua Preta, apelido que causara medo nos anos conseguintes. E já acompanhava o Punho, onde quer que ele fosse. O menino de doze anos ou menos tinha os olhos atentos, mas pouco ou quase nada falava. Mesmo assim, seguia fielmente as ordens de seu tutor.
ㅤㅤ Aprendia na prática e na teoria tudo que Punho Firme aprendera sem nenhum professor. Recebia conselhos e dicas sobre como agir na vida. Sobre como mentir e a hora certa de trair. Via Punho Forte honrar sua alcunha ao cobrar a dívida dos que estavam em sua mão, como usava Golias para amedrontar a qualquer besteira que tentassem. O menino tinha um mestre genial do mundo do crime.
ㅤㅤ E ele também tinha o dom.
ㅤㅤ Sempre que Punho Forte pedia para ele intervir, ele agia com uma classe descomunal. Suas palavras, quando pronunciadas, eram tão ácidas e ameaçadoras que faziam até os mais endividados pagarem suas contas com Punho Forte. Ao mesmo tempo, as mesmas palavras era doces e sutis, sempre que era necessário negociar com gente importante. Era dali que sua alcunha mudara para Língua Preta. O comércio de Ponta-Porã, o contrabando de drogas e a cobrança de dívidas foram dominadas plenamente pela mente jovem do garoto.
ㅤㅤ Ele compreendeu como deveria se portar diante de outros nomes famosos, como Juan Del Montevidel, um Paraguaio que chefiava todas as bocas de fumos do outro lado da fronteira. E em que momentos deveria ousar quebrar os tratados que eles fizeram. Entendeu também como deveria implantar o terror nos seus atos, usando de Golias para ameaçar e torturar as pessoas. Assim, acostumou-se a cenas horríveis, como ver um homem preso a uma cadeira enquanto levava pregos nas unhas, e outras coisas do tipo.
ㅤㅤ E Túlio ia, aos poucos, se dando conta de que algum dia, o menino iria até mesmo traí-lo. Uma coisa óbvia. Mas que ele não aceitava de modo algum. Se negava a concordar, pois, em Carlos, Túlio via a única coisa que ele realmente procurava. Um legado. Ele era aquele que iria sucedê-lo. Era para isso que o comprara de Lingote. Em algum lugar atrás dos dentes de ouro e da mente perversa do contrabandista de renome, havia uma fagulha de paternidade que surgira pelo garoto que ele criava, já fazia uns poucos anos. Língua Preta já tinha mais de seis anos juntos de Punho Firme. Ele crescia e tomava fama com facilidade. Ele crescia e roubava a fama de Punho Firme com facilidade. Mas o Punho, começou a afrouxar, e ignorou tudo aquilo. Vivendo o terror mental ao mesmo temo que a felicidade familiar.
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ㅤㅤ – Caralho! Porra! Cacete! - Xingava sem parar enquanto jogava os papéis para o lado. O último semestre tinha sido o pior de todos que Punho Firme já tivera enfrentado. Uma batida da polícia organizada após denúncia anônima fora feita e ele perdera grande parte de seu estoque de drogas. Também, Juan Del Montevidel declarou oficialmente Túlio como seu inimigo, visto que conseguiram pegar alguns vendedores da droga de Punho Firme na zona de Montevidel durante quatro semanas seguidas. Isso causava uma série de ataques e tiroteios a suas bocas de fumo e aos laboratórios onde ele produzia a droga. Tudo estava indo ralo abaixo, e apenas a cobrança de Dívidas agora parecia sustentar a mansão de Túlio. Mansão feita após anos de contrabando, que agora falhavam cada vez mais.
ㅤㅤ – Que merda. Porque diabos tá acontecendo tudo de uma única vez? Tá tudo caindo pro meu lado, cacete! - Falava consigo mesmo. Um hábito que nunca perdera. - E agora? O que tu vai fazer Punho Forte!? Porque essa merda toda!?
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ㅤㅤ Não teve tempo de responder a si mesmo. Todos seus pensamentos se desligaram quando as luzes da mansão se desativaram, assim como o resto da energia. E só então notou: Aquela merda de casa estava quieta demais. Num intuito forte e fugaz, resolveu chamar por Língua Preta. Talvez por acreditar que ele pudesse lhe dizer o que ocorria. Talvez para ter certeza que ele não estava envolvido naquilo tudo. Ou talvez, retida no âmago de sua mente e sentimentos, era simplesmente o fato de tê-lo por perto, diante de um mau presságio.
ㅤㅤ O fato era que, a energia da mansão nunca fora cortada. E quando fosse, haviam geradores no porão. O que levava Punho Firme a pensar que realmente não era tudo tão simples assim. Mal se levantou de sua cadeira no escritório para correr pelos corredores enquanto puxava o celular, a porta se abriu. A figura troncuda de Golias se formava na penumbra.
ㅤㅤ – Hah, Golias! Demorou! Que porra está acontecendo? - Não houve resposta.
ㅤㅤ – Golias! Que houve!? Além de burro está virando surdo? - Novamente, nada.
ㅤㅤ – Não está escutando, maldito!? Me responde, caralho! - E nesse momento as luzes se acenderam novamente. Golias estava na porta, com um pano molhado na boca e um corte aberto na garganta, pela qual vazava seu sangue viscoso. Seus olhos estavam tortos e sem vida, assim como o resto de seu pesado corpo. Ele tombou no chão, ao mesmo tempo que Punho Forte puxara a pistola da cintura, mirando para a porta. As mãos tremiam e ele estava com os olhos arregalados. O pegaram desprevenido.
ㅤㅤ E, um a um, mais corpo foram jogados sobre a porta. Um, dois, três, quatro... Os treze seguranças da ronda caíram mortos, amontoados em cima do grande corpo de Golias. Todos tinham quase o mesmo tipo de ferimento. Ou tiros – que Punho Forte deduziu terem sido disparados com silenciadores – ou com marcas de cortes largos na garganta. Assim que o último homem tombou, começaram a entrar na sala, um a um, os assassinos. Todos usavam óculos escuros e estavam vestidos o mais vagabundamente possível. Túlio sentiu o cheiro de álcool vindo deles, paraguaios imundos. Surgiram cerca de dez homens que entraram na sala e foram ocupando aquele lado da mesma.
ㅤㅤ Punho Firme sabia que não poderia atirar. Um tiro liberaria para que eles acabassem com a raça do Punho. Uma pistola não daria conta de sub-automáticas e tantas outras armas que eles portavam, apenas afastou-se lentamente e apoiou a cintura sobre sua própria mesa. No exato instante em que Juan Del Montevidel surgiu na porta, usando o mesmo terno social apertado e fedido que sempre usava.
ㅤㅤ – Ora, ora, ora. Nunca esperei que seria tão fácil encontrar Fuerte Muñeca.
ㅤㅤ – Tch. - Túlio cuspiu no chão, contendo toda sua raia no range de dentes que só ele ouvia.
ㅤㅤ – Parece que chegou a hora de eu acertar as contas contigo, ninõ.
ㅤㅤ – Não há nada para acertar, Montevidel, leve seus homens embora.
ㅤㅤ – Huh. Usted eres tão maldoso! - E ele fez a melhor cara de escárnio que tinha. Antes de se recompor, num olhar sério. - Acorde, Fuerte Muñeca, tínhamos um acordo e usted não o honrou. É hora de pagar.
ㅤㅤ – Claro. Vai meter bala em mim e não ganha nada. Genial você, Montevidel.
ㅤㅤ – Tch! - Montevidel pareceu claramente se irritar com Punho Firme. Justamente por ele ser firme até num momento daqueles. - Certo! Certo! Se é assim, vamos ver o quanto usted consegue argumentar agora! Tragam el niño!
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ㅤㅤ – E quem diria que esse momento chegaria, heim, Punho Firme? - Língua Preta riu alto, saindo do meio do grupo de homens armados que fechavam a saída do escritório de Punho Firme. O Chefão estremeceu nas bases ao ver Língua Preta ali.
ㅤㅤ – E-então, era mesmo v-você, teu pedaço de merda. - Conseguiu gaguejar.
ㅤㅤ – É. Tô aqui pra ver a cena que mais esperei a vida toda...
ㅤㅤ Uma máscara de anos juntos se quebrou naquele dia. E toda a ilusão na qual Túlio vivia desmoronou. Ele sempre sabia da verdade: Não era lógico que Língua Preta fosse sempre leal a ele. Era um garoto que nascera no mundo do crime, e sabia muito bem a ambição que tinha. Ele ensinara tudo ao garoto e agora, aquela era a alforria dele.
ㅤㅤ Mas mesmo assim, mesmo tendo total certeza do que Língua Preta fazia, só agora lhe doía. Só agora seu peito explodiu numa dor que ele mesmo nunca pensava que teria: A dor de perder um familiar importante. Pois afinal de contas, aquele menino que ele criou acabou ganhando uma importância sem tamanho. Mesmo com os tratamentos frios que Punho Firme e Língua Preta mantinham a maior parte do tempo.
ㅤㅤ – Entendi. - Túlio disse por fim.
ㅤㅤ – Entendeu o que, Muñeca!? - E Montevidel riu, mais atrás. - Yo no voy hacer nada mais. Acho que su niño pode terminal o serviço aqui!
ㅤㅤ – Hah, se posso, Montevidel. - Completou Língua Preta, virando-se para trás para encarar o seu aliado. E novamente virou-se para encarar seu tutor. - Bom... Acho que não duvida de mais nada, não é? Abriu seus olhos?
ㅤㅤ – Nem abri nada, cacete. Eles sabiam desde o princípio que este dia ia chegar.
ㅤㅤ – E que dia seria este, Punho Firme?
ㅤㅤ – O dia da sua filha-da-putagem, claro.
ㅤㅤ – Feh. - E riu para si próprio, o garoto. - Certo.
ㅤㅤ – Vamos logo, termina com essa merda.
ㅤㅤ – Quer ser tão rápido assim?
ㅤㅤ – Sim. Vambora, bostinha.
ㅤㅤ – Como desejar. Aqui está... - E as palavras seguintes, Língua Preta sussurrou. De modo que ninguém ouvisse, mas que Punho Firme entendesse claramente com leitura labial. - Minha Lealdade sem fim.
ㅤㅤ Língua Preta retirou do bolso um pequeno dispositivo e jogou contra Punho Firme. No segundo seguinte ele se virou para trás, surpreendendo a todos quando levantou a arma para Montevidel, que arregalou os olhos. Cinco tiros foram disparados contra o corpo do gordo paraguaio, antes que seus capangas agissem, estraçalhando o garoto com tiros.
ㅤㅤ E ali, Túlio não entendeu nada. Ele conseguiria aceitar que Língua Preta o traísse. Era algo que, mesmo duro de aceitar, graças a emoção humana, fazia sentido. Mas agora, ele nunca conseguiria imaginar que Língua Preta morreria e ainda servisse lealdade a ele até o último momento. Nunca iria esperar que o garoto pudesse engenhar um plano tão bom quanto trazer Montevidel e seus melhores capangas para dentro de sua mansão. Um plano suicida, mas genial.
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ㅤㅤ – C-c-carlos. - Gaguejou. - L-língua preta, caralho...
ㅤㅤ E nem notou quando alguns tiros começaram a atravessar seu corpo em diversas partes. Não que aquilo importasse muito. Sentiu a dor, mas nada como a dor que acabara de notar: Seu Filho, Carlos, morreu para ele. Antes de receber o quinto tiro de bala, Punho Firme apertou o dispositivo que Língua Preta havia jogado para ele.
ㅤㅤ Uma explosão aconteceu atrás dos capangas e tudo que Punho Firme viu a partir daquele instante; fora poeira, fumaça, destroço e fogos.
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ㅤㅤ – Tem certeza mesmo, Seu Punho Firme?
ㅤㅤ – Puta merda, Lingote. - E o velho chefão tomou fôlego. - Quer continuar a me questionar?
ㅤㅤ – N-não, é só que....
ㅤㅤ – Vá para o inferno. - E um tiro aliviante foi disparado pelo capanga do velho Punho Firme. E Lingote caiu morto no chão, ao lado de um menino de cabelos desgrenhados e crespos. Túlio já estava velho, mas um sorriso estava mantido em seu rosto, marcado por cicatrizes de explosão e queimaduras. Assim como todo seu corpo parecia debilitado e frágil. Mas Punho Firme ainda sorria. Aquilo o alegrava. E como todos sabiam, o que alegrava Punho Firme, deve ser feito sempre.
ㅤㅤ – Qual o seu nome, garoto? - Não houve resposta.
ㅤㅤ – Certo. Já entendi. Se quer assim, vamos pelo meu jogo. - E sorriu, deixando seu bafo terrível escapar. - De agora em diante, tu é Antônio. Antônio “Língua Presa”.
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Leia até o fim...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Rumos do Conhecimento

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ㅤㅤ As minhas mãos já estavam cheias de feridas abertas na época. Os professores eram, como sempre, severos ao extremo e a palmatória era fichinha perto do que eu sofria. Ainda mais comigo, o filho do grande Sir Grandford. Mas que diabos eu poderia fazer? Simplesmente não conseguia me manter acordado durante as oito horas de aula diárias que eles davam na escola para filhos de Influentes da sociedade.
ㅤㅤ Era lógico que tudo aquilo tinha um motivo, e mesmo com meu pai e toda minha família sabendo, eu não tinha nenhum privilégio. E toda noite era sempre o mesmo sofrimento, como se sempre eu fosse o mesmo louco. Sofria de insônia, a doença criava no antro da noite os maiores pesadelos para meus sentidos, não me deixando descansar em paz. E foi numa daquelas noites que eu conheci a alforria para tudo que me fazia mal.
ㅤㅤ Chovia forte e os trovões cruzavam os céus. Para pessoas normais, era simplesmente uma boa noite de sono, mas para mim, aquilo era a pior das noites da minha vida. As sombras feitas pelos trovões criavam fantasmas no meu quarto e eu só temia. No meu desespero, me encolhi no canto da cama e levantei a vela próxima ao corpo, junto da primeira coisa que havia ali. Folheava as palavras do livro quase sem sentido, tentando achar ali uma escapatória. E, de fato, ali estava ela.
ㅤㅤ As vozes sumiram, assim como todas as imagens que eu via de madrugada. Tudo porque eu gastava as horas de todas as noites debruçadas sobre os livros. Viajando em histórias mitológicas e fantásticas sobre grandes guerreiros e heróis. Também começava a usar a madrugada para estudar, e assim, com as notas altas, os professores não mais reclamavam de minhas sonecas durante a aula. Os livros me trouxeram a paz, e eu, aos poucos, abracei meu vício. Olheiras eram cada vez maiores, assim como minha pele se tornava frágil e pálida pela ausência da luz. Comia e bebia pouco, apenas me dedicando a leituras cada vez mais complexas.
ㅤㅤ Foi neste com este contexto que entraram no castelo Grandford. Membros da inquisição, abriram meu quarto e me prenderam, sobre acusações de magia negra e vampirismo. Diziam que eu estava cultuando o negro e o diabo, e o fato de eu já não conseguir olhar para o sol normalmente – devido à falta de costume, e unicamente a isso – assegurou mais ainda os fatos. Eu ouvi gritos de “Vampiro!” direcionados a mim enquanto ardia e agoniava na fogueira. E talvez, fosse isso mesmo. Não é o vampiro que transcende o tempo e o espaço com ajuda de um néctar sagrado chamado sangue? Era eu uma pessoa que transcendia qualquer barreira, com ajuda do meu néctar sagrado: A Leitura.

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ㅤㅤ Não que eu não fosse capaz de sobreviver do jeito que eu era antes. É só que... eu descobri um modo melhor. Meus antigos anos de ouro vieram na época em que eu era tão gentil quanto uma serra elétrica. Em menos de duas semanas meu pseudônimo e meu apelido ficaram conhecidos por todo o Brasil. Eu era nada mais que o “Curupira”. Nunca entendi direito, mas gostava do apelido e me lembrava dele sempre que eu dilacerava uma vítima minha no meio do mato.
ㅤㅤ Mas todos meus dias de glória terminaram quando o Delegado Prado e seus puxa-sacos conseguiram me encontrar. Pensei que minha posição social pudesse me salvar, afinal de contas. Me jogaram numa sala individual e a prisão se tornou um inferno. Cheio dos gritos de tortura que os presos continham em suas celas cheias. Minha felicidade decaiu. Nunca mais consegui dilacerar ninguém e o prazer por dissecar os órgãos de um ser humano vivo iam aos poucos perecendo, assim como a fúria de um leão que é preso em cativeiro.
ㅤㅤ Continuaria pura e simplesmente assim, por muito e muito tempo. Se não fosse por aquele milagroso dia. O horário de almoço era sempre algo tenso para os presos de celas individuais. Era um horário em que nós estávamos juntos dos outros presos. Todos sedentos por te matar por seus crimes lá fora. A gororoba era a mesma de sempre, mas já estava me acostumando com aquilo. Estava me acostumando demais com tudo aquilo, tanto que nem percebi quando o ser do meu lado começou a cochichar xingamentos a mim. Os primeiros foram tão baixos que eu nem pude notar, mas conforme passaram os poucos minutos, a intensidade e deboche com a qual ele falava começou a me perturbar exageradamente. Tanto que, enraivecido, ataquei-o. Vocês não sabem como é ótimo ver uma colher de plástico enfiada no olho de alguém que você odeia.
ㅤㅤ Achei divino a cena e aquilo acendeu quase todos meus ânimos. Até os agentes chegarem, me espancarem e me jogarem na solitária. O cubículo não tinha nada, e um dos guardas, dando risada jogou um livro para dentro da cela, dizendo que seria meu único companheiro por toda minha estadia na cela. Nutrido pelos meus ânimos despertos pelo sangue do outro, peguei o livro e dei risadas enquanto o lia com o pequeno faixo de luz que adentrava a cela. A primeira semana se passou daquela forma, só lia. Lia e Relia “O Mágico de Oz”. Animado. A segunda se passou com eu admirando cada palavra do livro, a loucura tomou conta, impulsionada pela solidão e pela recente matança. E foi com ela que comecei a amar o tal livro. O restos dos dias se passaram da mesma forma, até que fora libertado.
ㅤㅤ Novamente livre, lia todos os livros que me eram dados com um prazer imensurável. Esqueci do tempo, do meu corpo e do resto de minha vida. E quando menos notei, estava livre. Pronto para ler histórias de livros para homens com sangue no lugar dos olhos e da língua. Minha nova época de ouro havia chegado.

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ㅤㅤ Dois registros me interessaram muito hoje. Quero dizer, para alguém cujo trabalho é ler sobre o passado para criar soluções para o futuro, não é tão raro descobrir coisas interessantes. Mas mesmo assim, estas merecem registros em minha lente eletrônica:
ㅤㅤ Completamente averso a nosso atual mundo de carros flutuantes e cidades debaixo da terra, o primeiro dos registro trata da época em que cavalos ainda eram os meios de transporte. Deus, faz décadas que não vejo um animal desses. Eram registros do antigo Vaticano, da época da Inquisição. Registro antigos de registros antigos.
ㅤㅤ Conta a história de um homem que fora acusado de uso de magia negra a tal ponto que se tornou um vampiro. Falava de toda sua história de vida. Desde o momento em que deixou de surgir para a luz do sol para se manter incubado em sua biblioteca, até os anos em que os boatos começaram a surgir de que morte cercava seu castelo em noites sem lua. O filho de um Lorde foi queimado na fogueira, por simplesmente ler livros de madrugada. Atos que o salvavam de uma insônia terrível que lhe causava alucinações. Mas esta, com certeza fora amena, em relação a seguinte.
ㅤㅤ Francisco Del Montenegro foi preso depois de cinco meses solto, matando mulheres depois de torturas terríveis que se resumiam tirar toda a pele e deixar sangrar até a morte. Ele era filho de um grande empresário, de modo que foi difícil chegar até seu nome, ainda mais com o governo cheio de conspirações que reinava na época. Isso faz uns duzentos anos.
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ㅤㅤ A prisão só lhe serviu para uma coisa: Aumentar sua criatividade doentia.
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ㅤㅤ Depois de algumas encrencas que arrumou ali dentro, surpreendentemente se envolveu com livros. Devorava as páginas com os olhos quase o dia todo, de modo que até quase o internaram num hospício. Lia pelo menos seis livros por semana, e os guardas se cansaram de contar sobre as vezes que ficava contando as histórias em voz alta no meio da noite. Pelo menos, ele ficou manso durante todos os seus anos de pena.
ㅤㅤ Quarenta anos depois foi solto, com a mente perturbada e pronto para fazer mais loucuras. Se isto fosse nos dias de hoje, estaria trancafiado na prisão mais próxima do centro da terra possível até o dia de sua morte. Mas enfim, não deu uma semana até que novos registros dele surgiram. Mortes horríveis. As próximas doze pessoas que ele matou tinham sido desmembradas, com olhos arrancados e bocas cortados fora. Tudo isso enquanto ele lia em voz alta e em tom melódico suas histórias preferidas. Ele foi novamente preso, desta vez nos Estados Unidos da América, assim chamado na época. E lá, foi condenado a morte.
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ㅤㅤ Agora... O porque de eu registrar estes dois fatos como um historiador da FyCNet? É porque estes foram os primeiros registros que eu li, nesse meu trabalho promissor para o Sistema de Defesa da Terra, em que a leitura só serviu para aumentar a desgraça do mundo.
A primeira vez que o conhecimento nutriu morte, horror e sofrimento. Fico pensando se realmente a sabedoria é o caminho certo, talve ser ignorante seja a melhor coisa a se fazer numa vida. Assim você fecha os olhos para o óbvio horrível. Eu? Eu já estou viciado demais nas letras para parar com elas. Meu trabalho continua, e passo a maior parte do dia fazendo exatamente o que eles faziam: Lendo. Não livros, obviamente. Mas minha cadeira de conexão à rede com acesso aos registros históricos de Nível Y é a maior biblioteca do mundo.
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ㅤㅤ Maldição! Maldição! Mas que máquinas malditas! Maldição! Desgraça foi o dia em que decidi virar um historiador de registros! E Desgraça também foi a minha maldita curiosidade! Vou relatar isto da melhor maneira possível em menos de alguns segundos: O Nível Y tinha uma brecha com uma senha simples para entrar para o Nível Z do setor de registros. E lá estavam os fatos que as máquinas ocultaram de nós, humanos. Fatos que aconteceram durante a ascensão e que ainda ocorriam. Notícias de jornais publicados por gente, dizendo sobre como a FyCNet dominou o mundo com o horror e ameaças e de como eles manipularam a mente dos grandes políticos com sua inteligência artificial criada por nós mesmos. Também, ocultava registros e vídeos de rebeldes que lutam acima da superfície, rebeldes que eram e são humanos como eu. Usando armas de pólvora contra o terror dos lasers do Sistema de Defesa!
ㅤㅤ Alguns meses atrás digitei sobre a maldição do conhecimento exacerbado. E aqui, retifico isto: Sejam ignorantes! Pois a leitura me trouxe somente a desgraça! ....Ho, meu deus. Estão quebrando a senha de entrada que fiz para a porta da cadeira de Leitura! Não me resta muito! Isto é um registro que ocultarei num programa secreto que desenvolvi nas últimas semanas. Para os que ficam, saibam: As letras revelam sentimentos, mas ocultam muito! A senha para o Nível Z dos registro, se quiser é... ADIUEG@(G#YHRH*FO*HE#*OIEDaSXxsssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss.....


ㅤㅤ Conexão do Setor de Historiadores cortada. Analisando dados perdidos e deletando erros.


ㅤㅤ FIM
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Este conto foi produzido no improviso. A partir das duas idéias antes citadas, numa tentativa de uni-las numa mesma história. Agradeço a Thiemi e a Akina por me fazerem escrever os textos com o tema "Como um Livro mudou minha vida", que resultou em "Prazeres Devaneios" e "Durante Madrugadas". :D
Leia até o fim...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Durante Madrugadas

As minhas mãos já estavam cheias de feridas abertas na época. Os professores eram, como sempre, severos ao extremo e a palmatória era fichinha perto do que eu sofria. Ainda mais comigo, o filho do grande Sir Grandford. Mas que diabos eu poderia fazer? Simplesmente não conseguia me manter acordado durante as oito horas de aula diárias que eles davam na escola para filhos de Influentes da sociedade.

Era lógico que tudo aquilo tinha um motivo, e mesmo com meu pai e toda minha família sabendo, eu não tinha nenhum privilégio. E toda noite era sempre o mesmo sofrimento, como se sempre eu fosse o mesmo louco. Sofria de insônia, a doença criava no antro da noite os maiores pesadelos para meus sentidos, não me deixando descansar em paz. E foi numa daquelas noites que eu conheci a alforria para tudo que me fazia mal.

Chovia forte e os trovões cruzavam os céus. Para pessoas normais, era simplesmente uma boa noite de sono, mas para mim, aquilo era a pior das noites da minha vida. As sombras feitas pelos trovões criavam fantasmas no meu quarto e eu só temia. No meu desespero, me encolhi no canto da cama e levantei a vela próxima ao corpo, junto da primeira coisa que havia ali. Folheava as palavras do livro quase sem sentido, tentando achar ali uma escapatória. E, de fato, ali estava ela.

As vozes sumiram, assim como todas as imagens que eu via de madrugada. Tudo porque eu gastava as horas de todas as noites debruçadas sobre os livros. Viajando em histórias mitológicas e fantásticas sobre grandes guerreiros e heróis. Também começava a usar a madrugada para estudar, e assim, com as notas altas, os professores não mais reclamavam de minhas sonecas durante a aula. Os livros me trouxeram a paz, e eu, aos poucos, abracei meu vício. Olheiras eram cada vez maiores, assim como minha pele se tornava frágil e pálida pela ausência da luz. Comia e bebia pouco, apenas me dedicando a leituras cada vez mais complexas.

Foi neste com este contexto que entraram no castelo Grandford. Membros da inquisição, abriram meu quarto e me prenderam, sobre acusações de magia negra e vampirismo. Diziam que eu estava cultuando o negro e o diabo, e o fato de eu já não conseguir olhar para o sol normalmente – devido à falta de costume, e unicamente a isso – assegurou mais ainda os fatos. Eu ouvi gritos de “Vampiro!” direcionados a mim enquanto ardia e agoniava na fogueira. E talvez, fosse isso mesmo. Não é o vampiro que transcende o tempo e o espaço com ajuda de um néctar sagrado chamado sangue? Era eu uma pessoa que transcendia qualquer barreira, com ajuda do meu néctar sagrado: A Leitura.
Leia até o fim...

Prazeres Devaneios

Não que eu não fosse capaz de sobreviver do jeito que eu era antes. É só que... eu descobri um modo melhor. Meus antigos anos de ouro vieram na época em que eu era tão gentil quanto uma serra elétrica. Em menos de duas semanas meu pseudônimo e meu apelido ficaram conhecidos por todo o Brasil. Eu era nada mais que o “Curupira”. Nunca entendi direito, mas gostava do apelido e me lembrava dele sempre que eu dilacerava uma vítima minha no meio do mato.

Mas todos meus dias de glória terminaram quando o Delegado Prado e seus puxa-sacos conseguiram me encontrar. Pensei que minha posição social pudesse me salvar, afinal de contas. Me jogaram numa sala individual e a prisão se tornou um inferno. Cheio dos gritos de tortura que os presos continham em suas celas cheias. Minha felicidade decaiu. Nunca mais consegui dilacerar ninguém e o prazer por dissecar os órgãos de um ser humano vivo iam aos poucos perecendo, assim como a fúria de um leão que é preso em cativeiro.

Continuaria pura e simplesmente assim, por muito e muito tempo. Se não fosse por aquele milagroso dia. O horário de almoço era sempre algo tenso para os presos de celas individuais. Era um horário em que nós estávamos juntos dos outros presos. Todos sedentos por te matar por seus crimes lá fora. A gororoba era a mesma de sempre, mas já estava me acostumando com aquilo. Estava me acostumando demais com tudo aquilo, tanto que nem percebi quando o ser do meu lado começou a cochichar xingamentos a mim. Os primeiros foram tão baixos que eu nem pude notar, mas conforme passaram os poucos minutos, a intensidade e deboche com a qual ele falava começou a me perturbar exageradamente. Tanto que, enraivecido, ataquei-o. Vocês não sabem como é ótimo ver uma colher de plástico enfiada no olho de alguém que você odeia.

Achei divino a cena e aquilo acendeu quase todos meus ânimos. Até os agentes chegarem, me espancarem e me jogarem na solitária. O cubículo não tinha nada, e um dos guardas, dando risada jogou um livro para dentro da cela, dizendo que seria meu único companheiro por toda minha estadia na cela. Nutrido pelos meus ânimos despertos pelo sangue do outro, peguei o livro e dei risadas enquanto o lia com o pequeno faixo de luz que adentrava a cela. A primeira semana se passou daquela forma, só lia. Lia e Relia “O Mágico de Oz”. Animado. A segunda se passou com eu admirando cada palavra do livro, a loucura tomou conta, impulsionada pela solidão e pela recente matança. E foi com ela que comecei a amar o tal livro. O restos dos dias se passaram da mesma forma, até que fora libertado.

Novamente livre, lia todos os livros que me eram dados com um prazer imensurável. Esqueci do tempo, do meu corpo e do resto de minha vida. E quando menos notei, estava livre. Pronto para ler histórias de livros para homens com sangue no lugar dos olhos e da língua. Minha nova época de ouro havia chegado.
Leia até o fim...

Abraços

A alma foi, aos poucos, perecendo.
E antes confortável do que gélido
A foice negra veio como um emendo
O Abraço. Da morte, o sopro frígido.

Suspirou. O último indício de vida
Memórias, Sentimentos, Conquistas.
Faces Supérfluas não mais supridas
Distorcidas, Falecidas, Sofridas.

Mesclou-se então pavor e alegria
Sobras e Sombras eram agora, branco.
Novos braços o envolviam. O Protegia.
Outro Abraço. Da vida, um solavanco.
Leia até o fim...

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