terça-feira, 28 de junho de 2011

Miscelânea




Acompanha-me as linhas;
Se rosas são vermelhas
e violetas são azuis
será então vermelhas rosas
e mais, violetas, as azuis?

Se assim for, pois que
avermelho as azuis violetas
e que azulo as vermelhas rosas

E tudo, você sabe
a rosa e a violeta
o azul e o vermelho

Tudo é sua delicadeza
É meu amor para mantê-lo.




Leia até o fim...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O mundo que já acabou


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ㅤㅤ(Leia acompanhado da música.)
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ㅤㅤOlá.
ㅤㅤComo vai você?

ㅤㅤSim, eu sou a única pessoa que vive por aqui.
ㅤㅤUma moça, apenas.

ㅤㅤNão, nunca me cansei desse lugar, é lindo. Você não vê? Cada pequena lasca das madeiras dessa velha casa retratam minhas frágeis e intangíveis memórias; prestes a rachar, quebradas, estão todas prontas para ruir. E mesmo assim, da fragilidade de cada uma delas, do estalo que se faz quando eu arranco uma única partezinha dessa casa; me vem a nostalgia. E eu choro pelos tempos que já passaram.
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ㅤㅤNão, não é triste. Pelo menos, eu não sou uma pessoa que pode compreender este sentimento. Sabe, esse é um lugar onde não existe mais nada, eu... Eu não tenho por quem sentir nada. Não é preciso para mim ter tristeza, se nunca me houve nada mais. Seria... Injustiça caso isso acontecesse, não é mesmo?
ㅤㅤAli, você consegue ver aquele gramado, lá longe? Quando eu era uma criança, passavam por lá alguns pássaros, vez ou outra, e eu naquela época eu ainda tinha esperanças que alguém poderia vir me buscar. Afinal de contas, se os pássaros voam e somem por certo tempo, eu fico pensando que eles tem lugares melhores para ir, não é mesmo? E esses lugares melhores, poderiam estar lotadas de pessoas... Não, não, me desculpe. Apenas uma só estaria de muito bom tamanho. É aquela palavra, sabe? Companhia.

ㅤㅤSó que, conforme os anos foram passando e eu cresci, eu pude entender que não existia mais ninguém no mundo. Só eu. Via-me naquele espelho dentro do meu quarto, e via uma mulher onde antes havia uma menininha. Eu via meus cabelos cacheados e castanhos brincarem deslizando pelos meus ombros, e gostava de me sentir bonita. Mesmo que fosse só para mim.
ㅤㅤTambém tem aquela pequena cadeira de balanço na sacada. Consegue ver daqui? Quando eu me sentava nela e deixava meu peso balançá-la para frente e para trás, ela fazia um leve rangido. Era um rangido monótono, o tom nunca mudava e o máximo que eu conseguia fazer era deixá-lo mais alto e longo, conforme eu regulava na força. Mas eu gostava, porque era como se a cadeira me desse um Olá.
ㅤㅤEsse meu vestido também, nunca mudei nada nele. Gosto de comparar ele com minha alma, porque, quando eu me lembro de tê-lo em meu corpo pela primeira vez, eu sei bem que ele era branco. Branco e puro, assim como meu coração, cheio de sentimentos transbordando. Mas que, com o tempo, foi ficando mais amarelado. E a pouca esperança que eu tinha, se esvaiu.

ㅤㅤHm? Não, eu não estou me contradizendo.

ㅤㅤA ida da esperança é acompanhada da vinda da Satisfação. A tristeza, eu nunca senti. E a partir daquele dia, comecei a viver comigo mesmo, sendo minha própria amiga. E eu corria por estes vastos campos de grama rala, esses campos de solidão infinita, onde o crespar da terra entre meus dedos me traziam uma sensação acolhedora.
ㅤㅤE eu comecei a montar minhas próprias coisas, para brincar. Sabia que eu já consegui empilhar dez pedras daquelas ali? Sim, uma em cima da outra. Ficou intacta por uns pouquinhos segundos, mas é meu recorde. Já escalei aquele monte mais ao longe umas dez vezes, também. Eu me machucava, mas com certeza, não era nada perto das pequenas feridas que eu tenho dentro de mim.

ㅤㅤQuando você não tem por onde se orientar, eu acho que você acaba se perdendo nas suas próprias tangíveis rememorações do que já passou, e das prévias do que ainda pode vir. Eu, por exemplo, nunca parei para ver quando as flores desabrochavam, quando as folhas caíam, ou quando a neve começava a pintar a paisagem. Mas, eu sempre me peguei pensando se, num desses dias, algo diferente aconteceria. Ou tentando me recordar da última vez que os pássaros vieram me visitar. E vendo eles baterem asas para longe para numa mais voltarem, eu deixo novas lágrimas caírem. Me dá um aperto no coração, sabe? É como se a vida que eu tivesse, não valesse muita coisa sem algo mais.
ㅤㅤHm? Então, isso é tristeza?
ㅤㅤTem certeza?

ㅤㅤSe for assim, eu acho que... Bom, eu acho que, então...
ㅤㅤEu..
ㅤㅤEu...
ㅤㅤPor que?
ㅤㅤPor que, agora, as lágrimas não param de cair?
ㅤㅤPor que eu estou chorando na sua frente?

ㅤㅤ...

ㅤㅤ...

ㅤㅤ...

ㅤㅤEntão, é assim que é a sensação de ser abraçada? Sim, é bom. É caloroso, se parece com a lareira que eu acendo nas noites de frio. Como se a vida te desse um sopro de vontade. Será que eu posso ficar assim mais um tempo, abraçada com você? ...Obrigada.
É, então, se a tristeza é isso o que você diz, me parece que vivi um mundo triste. Uma vida inteira triste. Mas isso não importa, não é mesmo? Afinal de contas, você veio me buscar. Não veio? Você veio aqui por mim, não veio? Se é assim, tudo bem. Eu te dou a minha mão.

ㅤㅤNão, eu não preciso carregar nada.
ㅤㅤVamos.
Leia até o fim...

sábado, 11 de junho de 2011

Pseudo Nostalgia

Dos anos, restou-me só a lembrança
Andava com passos manjados na lua
E, de apetrechos, tinha ainda a alma nua
E os anos debocham, de pura vingança.

Vinganças do toque (não) tocado.
Lembranças dos lábios (quem sabe) doces.




Leia até o fim...

A Guarda - A Casa dos Tilintares

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ㅤㅤ Ei, ei! Ei, você! É, isso mesmo, estou falando com sua pessoa. Desculpe-me por acabar me intrometendo assim numa de suas noites solitárias, mas muitas vezes já te vi por aqui, sempre a beber só e de cabeça baixa. E, justamente por meus olhos poderem acompanhar-te a silhueta, que você me chamou muito a atenção.
ㅤㅤ Abstenho de dizer meu nome por enquanto, e também não me importo caso não quiser se apresentar a mim. O importante é que um diálogo entre nós parece ter começado. E, por falar nessa troca de palavras, notou como meu linguajar é moderado e bem compassado? Em tempos medievais, existiam pessoas que andavam pelos bares da época com estórias para contar, eram estórias de todos os tipos e com todos os finais que possa imaginar. Em troca, sempre lhe ofereciam bebidas e deixavam-no narrar a vontade, suas fantásticas estórias, noite adentro.
ㅤㅤ Opa, não se acanhe, não estou aqui pedindo esmolas ou coisa do tipo. Você olha para mim e vê um esmoleiro? Espero que não. Enfim, eu sou apenas um rapaz de meia-vida que, na falta de um motivo mais feliz pelo qual viver, acabou por encontrar resquícios de alegria num ato bobo: O de contar histórias. Se me permite fazer a analogia, é isso o que você também, faz, não é? Com este líquido transparente no copo que tem em mãos...
ㅤㅤ Bom, no fim, todos buscamos nossos resquícios de alegria.
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ㅤㅤ Deixe-me sentar ao seu lado. Gostaria de ouvir uma de minhas fábulas?
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ㅤㅤ Pois bem, antes que sua imaginação voe longe e você tente fazer graça de mim; não, eu não começarei a contar estórias de reinos distantes e de príncipes, princesas e dragões. As narrativas que eu contarei nesta noite tratam daquilo que a sombra e a luz deste mundo ocultam. O outro lado da moeda. Aquilo que os homens podem ver, mas que não conseguem, de forma alguma, aceitar; e que, por isso, forçam a própria existência a esquecer o que presenciaram.
ㅤㅤ As minhas fábulas contam de pessoas como as que você encontra na rua. Como o jornaleiro da esquina, como a velhinha chata do bairro, como aquela menina promíscua que sai nas noites de sexta e só volta no fim do domingo. É, alias, muito alta a chance de você acabar identificando alguns deles após estas histórias. E note que agora não são mais estórias, com e. E sim, histórias, com aga e i. De agora em diante, pois, tratem-nas como fatos.
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ㅤㅤ E desta vez, tratarei de um fato que ocorreu aqui mesmo, nesta cidade. Já ouviu falar da Casa dos Tilintares? Para quem nunca ouviu falar, deixe-me gastar um pouco de tempo nela: A casa dos tilintares fora construída já faz quase um século, talvez até mais. Ela está situada num bairro nobre e está abandonada por mais de seis décadas. Já faz cerca de um ano que alguns corretores de imóveis e investidores pensam em por tudo abaixo e colocar ali algum novo empreendimento – e, com o correr que vai nossa política para os mais bem favorecidos, não duvido que ainda neste ano ela seja demolida.
ㅤㅤ De qualquer forma, o que nos importa não é o presente, e sim o passado recente.
ㅤㅤ A casa dos tilintares, como você bem pode deduzir, recebeu tal nome pelo fato dos sons que ela produz em certas noites. Quem passa na região de noite sabe que, se ela não quer voltar para casa com olhos arregalados e coração palpitando freneticamente, não se deve passar em frente àquela casa. Assim como a escuridão é certa em todos os cômodos do sobrado, também é certo que sons característicos de casas abandonadas ressoem, tais como rangeres de portas velhas movidas pelo vento, ou o som de insetos e ratos se rastejando pelas velharias.
ㅤㅤ Mas, não só por isso que as pessoas evitam passar por ela, também é bem característico da Casa dos Tilintares – e, convenhamos que este é um ponto que não existe em todas as casas abandonadas – soar pelos seus cômodos, o barulho de correntes pesadas se arrastando pelo lugar. Como se alguém estivesse preso numa liga de aço e tentasse desenfreadamente se soltar. Também não são poucos os que juram já ter ouvido gritos e lamentos no lugar. Só lhes é um pouco complicado especificar que tipo de lamentações e qual o timbre vocal, vez que a entonação era sempre aguda, fantasmagoricamente falando.
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ㅤㅤ E é neste cenário, meu caro ouvinte, que entra nosso Personagem.
ㅤㅤ Pois, afinal, histórias não fluem sem personagens.
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ㅤㅤ Ele estacionou seu velho opala preto na frente da casa e desceu, numa noite dessas, alguns poucos anos ou meses atrás. Ele, nosso personagem, se chamava Raul. E digo apenas seu nome, porque seu sobrenome pouco importa; mais vale é ressaltar a semântica do mesmo e a alcunha que recebera. “Raul”, aos poucos que sabem do assunto, significa “Ilustre Combatente”, e mesmo que muitas vezes os nomes das pessoas não fazem jus às suas índoles, com Raul, isso funcionava. E daí, vinha sua alcunha.
ㅤㅤ “Guerreiro” Raul.
ㅤㅤ Aquele homem de pele morena escura vestia-se com um largo sobretudo escuro de couro e usava roupas grossas e cheias de bolsos por debaixo da vestimenta de frio. Presa no ombro, estava uma bolsa de alça única de pano bege. Raul tinha feições sérias, e provavelmente passava dos trinta anos no que se tratava do quanto o tempo lhe maltratara. De porte grande e ombros largos, ele, só de vista, já fazia honrar seu nome e sua alcunha.
ㅤㅤ E naquele instante, Raul também provaria sua fama. Sua fama dentro da Ordem dos Cavaleiros do Silêncio. Pois, quando uma pessoa surgia num lugar representando a Ordem, significava que havia trabalho a ser feito. E, naquele caso, Raul sabia muito bem o que tinha de fazer: Purificar uma Casa Abandonada.
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ㅤㅤ Ao primeiro passo que dera dentro do terreno, Guerreiro já pôde sentir a aura negra que rondava a casa. Aos olhos de qualquer um, seria apenas um sobrado de dois andares e um sótão caindo aos pedaços. Mas, para os olhos de um Cavaleiro da Ordem, olhos que foram treinados para estarem em situações como aquelas, o que se via era muito pior.
ㅤㅤ Não que seus olhos observassem aquilo que outros homem não vêem. O fato era que ele aceitava e desejava ver através do manto que separava os dois lados da realidade; e, por através do manto, o que se via eram os lamentos de uma pessoa morta. A pressão da aura negra recaiu sobre os ombros de Raul como se fosse um peso descomunal, e ele sentiu o quanto aquela casa estava amaldiçoada.
ㅤㅤ - Tsc. - Reclamou. - Infelizmente, para você, eu não tenho medo de cara feia.
ㅤㅤ Sua locomoção, como imaginado, estava bem mais difícil. Uma vez que a casa parecia saber muito bem que aquele que se aproximava era um risco para a entidade. Ao mesmo tempo, o fantasma que habitava o lugar começou a brincar com seus sentidos. Logo, os lamentos começavam a ficar mais altos e vultos esbranquiçados começavam a passar pela casa.
ㅤㅤ “Volte ou morrerá.
ㅤㅤ Foi o que Raul ouviu quando parou de frente para a porta.
ㅤㅤ Paremos o tempo aqui e vamos fazer um passeio pela mente de nosso protagonista.
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ㅤㅤ Para aqueles que pensam que os heróis dos contos de fada eram guerreiros corajosos e destemidos, aqui vai um balde d'água: Não existe homem sem medo. Você sabe disso, não sabe? O caro era que Raul, por dentro, sentia muito bem o medo tentando apossar-se de seu bravo espírito; era o que acontecia quando um fantasma renegado anunciava que pretendia te matar caso continuasse o que iria fazer.
ㅤㅤ E Raul iria.
ㅤㅤ Num flash, o moreno relembrou-se de alguns vários e solitários momentos de sua infância solitária. Viu-se novamente na cama do hospital no qual fora internado, viu-se novamente enfrentando os lamentos e súplicas dos mortos que ainda não queriam partir. Fantasmas que não sabiam que um pobre garoto podia ouvi-los, e que, por isso, gritavam mais alto. Raul gritou e chorou naquela noite, como em várias outras.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Piscou os olhos.
ㅤㅤ Não, aquilo tudo havia passado. E ele tinha de cumprir sua missão.
ㅤㅤ
ㅤㅤ O Cavaleiro da Ordem abriu a porta com certa dificuldade, e, junto da ação, já colocara a mão no bolso do sobretudo para retirar dali uma lanterna. O salão de entrada do sobrado era grande, e ainda haviam por ali alguns velhos móveis carcomidos por cupins. A poeira formara uma espessa camada sobre todo o lugar, e Raul pôde muito bem ouvir alguns rastejares fugirem com sua aproximação.
ㅤㅤ Um passo adentro. Dois passos adentro.
ㅤㅤ BAM!
ㅤㅤ A porta se fechou atrás dele com força e sem um mínimo ruído antes do baque, e aquela era a mesma porta que ele tivera de fazer força parar abrir por estar emperrada. O coração de Raul saltou dentro de seu corpo, e logo em seguida, para piorar a situação, as vozes começaram a aturdi-lo novamente, agora com mais força e intensidade, quase como um coral do terror, gritando palavras de desgosto sobre o moreno.
ㅤㅤ Mas o Guerreiro não se deixaria abalar. Firmando o olhar no local, ele começou a avançar. Para que não haja a possibilidade do fantasma se acolher à apenas um dos cômodos da casa após a purificação, Raul deveria ainda achar o local onde a energia negra se concentrava, o foco da aparição amaldiçoada do recinto.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Aqui, eu vou parar para explicar um pouco sobre a Ordem dos Cavaleiros do Silêncio.
Se você já começou a entrar no mundo que estou mostrando para você, eu acho que já notou que nossa sociedade esconde muitas coisas misteriosas. Não falo apenas de fantasmas e espíritos renegados, estendo-me para falar que também existem muitos outros seres míticos que surgem em livros aleatórios cá e acolá.
ㅤㅤ Acontece que, para os homens que descobrem esta realidade alternativa, só existem três caminhos a serem trilhados: O primeiro é tentar ignorar o que você vê, até que haverá o momento em que sua própria mente o ludibriara para que não enlouqueça – como acontece com muitos que não conseguem parar de ver através do manto. O segundo dos caminhos é aceitar esta realidade e tentar se mesclar à ela, daí, surgem os diversos clãs de Magos que existem pelo mundo. São homens que estudam e tentam dominar a magia de trás do manto. E, por fim, existe aqueles que se opõe a estas anomalias. E aí se encontra a Ordem dos Cavaleiros do Silêncio, assim como muitas outras organizações que se movem para tentar amenizar o máximo possível a existência destes seres na sociedade.
ㅤㅤ Geralmente, os guerreiros que seguem as Ordens são pessoas que sofreram de algum trauma extremo causado pelas criaturas do outro lado do véu quando mais novas e foram acolhidas por alguém da organização. Este era o caso de Raul, que, agora, era um dos principais alicerces da Ordem dos Cavaleiros do Silêncio, que tinha membros espalhados por todo o Brasil.
ㅤㅤ
ㅤㅤ O foco da aura negra não estava no primeiro andar, e foi com grande pesar que Raul observou aquelas escadas, que pareciam mais longas quando vistas numa noite daquelas. Seus ombros largos se projetaram para frente, e ele começou a subir os degraus de dois em dois, tentando ignorar o ranger delas, que parecia aumentar conforme subia as escadas.
ㅤㅤ Guerreiro Raul já tinha os dentes quase para trincar, os gritos de terror nos seus ouvidos pareciam estourá-los; contudo, Raul avançou sem este medo, por ter a certeza no coração de que um fantasma nunca poderia afetar fisicamente um Homem. Pelo menos, era isso que Raul pensava até aquela noite.
ㅤㅤ Chegando no segundo andar, ele viu-se diante de um corredor estreito que levava para mais quatro portas, duas de cada lado. Mas, foi botando um leve sorriso no rosto de feições sérias que Raul virou-se para a esquerda. Não tinha de conferir cômodo por cômodo, a Aura Negra não mentia sua localização, ela vinha da última porta à esquerda. O que era ótimo e ruim ao mesmo tempo. Ali em cima, a Lua da noite parecia iluminar o local todo com clareza, o que fizera o homem desligar a lanterna e recolocá-la num dos bolsos de suas vestimentas.
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ㅤㅤ Um passo na direção.
ㅤㅤ “Não Ouse!!” O Grito ecoou no meio do coral do terror.
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ㅤㅤ Dois passos na direção.
ㅤㅤ “A Morte te aguarda a cada passo que avança!” Foi quase o guinchar de um pássaro.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Três passos na direção.
ㅤㅤ “Não, não, NÃO!
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ㅤㅤ Guerreiro Raul ignorou os gritos fantasmagóricos e avançou correndo até a entrada do quarto. E foi com toda essa pressa que ele tentou abrir a porta. Agora, meu caro ouvinte, você sabe aquele momento crítico, em que o tempo parece parar para dar espaço para os acontecimentos que estavam por vir? Pois foi exatamente aquilo que aconteceu naquele instante.
ㅤㅤ Assim que o moreno membro da Ordem tocou na velha e enferrujada maçaneta, por um instante, seus olhos viram algo que não deveria estar ali. E, num instante, aquela noite temerosa e aterrorizante se transformara e outra. E ele sabia disso porque ele não estava mais na casa abandonada, e sim, numa casa bem cuidada e iluminada. O coral de gritos e lamentos não mais parecia ressoar no seu espírito, e agora Raul se via assolado por um silêncio igualmente perturbador.
ㅤㅤ A mão que segurava a maçaneta tremia, e foi com aquele mesmo temor que o Guerreiro abriu a porta para descobrir o que lhe aguardava naquela sala, no antro de todo o terror do fantasma. Paremos aqui o tempo mais uma vez, meu ouvinte. E siga minha voz, pois agora tomaremos por emprestada a visão de Raul.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Imagine-se entrando em um quarto pequeno e muito escuro. A única luz que adentrava o lugar era a do astro da noite e noiva do sol, Lua; e era essa também a responsável por dar à você um vislumbre do que é o lugar: Os cômodos não são velhos, muito pelo contrário, pareciam ter sido comprados a pouco tempo. A parede era pintada de uma cor neutra, o que dava contraste ao chão com ladrilhos vermelhos. Talvez essa seja a descrição até mesmo do seu próprio quarto, não sei.
ㅤㅤ Mas o fato era que ali, caída ao lado da cama, estava um corpo.
ㅤㅤ Uma mulher com um corpo magro e quase subnutrido estava jogada no chão. Seu corpo ainda parecia se movimentar, bem de leve, como se ele lutasse em cada suspiro que soltasse, para que não fosse o último. Ela vestia trapos que pareciam algum dia terem sido roupas de cama, talvez até uma camisola à moda antiga, mas eles estavam sujos de poeira e sangue seco.
ㅤㅤ Aquela pessoa não estava ali porque queria. E não digo isso por eu ser o narrador onisciente desta história. Eu digo isso porque, presa ao seu pé, estava uma corrente. Uma corrente que prendia seu tornozelo sem folga alguma, trancafiada por pelo menos cinco cadeados que pareciam pesar uma tonelada quando vistos daquela forma. A pele da mulher naquele ponto estava em carne pura, e o sangue já duro que se formava no chão abaixo do tornozelo e na própria corrente mostravam o quanto ela tinha lutado para tentar escapar. Ou, ao menos, para se livrar daquele item maldito.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Trim
ㅤㅤ Tilintou o silêncio.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Raul piscou com força, e se deparou com um velho quarto caindo aos pedaços. O ladrilho vermelho estava todo quebrado e rachado, isso nas partes em que ele ainda estava ali. A armação da cama, que fora o que restara ali, estava corroída por ferrugem e parecia contorcida por completo. O moreno lembrou-se da visão que acabara de ter, e olhara com receio para o lugar em que a mulher estava. Enfim encontrara a origem de todo aquele mal.
ㅤㅤ Sem demora, colocou-se sentado ao lado do ponto no qual lembrara de ver a mulher jogada e abriu a bolsa de pano que carregava consigo, retirando dali primeiramente um giz branco. E, com ele, Raul começou a desejar no chão alguns círculos e símbolos que muito se assemelhavam com pentágonos e outras figuras geométricas. Guerreiro Raul estava fazendo o círculo de magia para seu ritual.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Aqui, eu vou parar novamente a história para explicar um pouco mais sobre este mundo que é o nosso, e não é ao mesmo tempo: Se você agora está notando, Raul tem capacidades paranormais de se mesclar com pensamentos negativos muito fortes, isso se deu por causa de sua extrema relação com criaturas do tipo, durante o correr de seus duros anos. Da mesma forma, acontece que muitos outros humanos também recebem alguns dons – ou, se assim quiser chamar, maldições – por muito se relacionarem com o que está por debaixo do manto da sociedade.
ㅤㅤ Acontece que, uma vez que o mundo real se junta ao mundo “real”, sempre surgem aí as anomalias para ambos os lados. Existem, sim, por exemplo, casos de homens que se tornaram criaturas das trevas ou de luz; e também há boatos sobre o contrário. O espírito que cada um porta dentro de si e suas vontades e virtudes são o que influenciam nos fios do Destino.
ㅤㅤ E é por isso, também, que Raul fazia naquele momento um círculo de magia. Ele poderia escolher qualquer coisa para representar sua intenção de purificação da alma do fantasma, como, por exemplo, uma bíblia sagrada, ou um manta budista; até mesmo rituais feitos por e recitados por ele mesmo representariam bem o papel. Pois, o que é realmente necessário para se fazer manifestar qualquer ato que quebre a realidade, são as vontades e virtudes. Guerreiro Raul precisa, mais do que tudo, acreditar que seu círculo de magia tem poder, e que ele tem a capacidade para ditar as regras que mandam nas almas.
ㅤㅤ Daí que surgem, por exemplo, as desavenças sobre os mitos populares. Um Vampiro não pode morrer com a água benta jogada por um padre que não crê em seu poder purificador. Mas, certamente a pele deste noturno queimará se esta água benta for jogada por alguém que acredita no poder ali contido, mesmo que tenha sido a água abençoada pelo mesmo padre que não crê no seu poder. Vendo por esse ângulo, pode parecer realmente fácil para qualquer um se tornar um caçador de monstros; mas não caiam nesta armadilha. Quando você fica cara-a-cara com seu pior medo, muitas vezes você começa a deixar de acreditar até mesmo na realidade, como então poderia acreditar na “realidade”?
ㅤㅤ Cavaleiros das várias Ordens que lutam contra o que há por debaixo do manto são tão comentados, tanto entre os humanos que os conhecem, quanto entre os seres míticos que habitam este mundo.
ㅤㅤ Porque eles são realmente poderosos.

ㅤㅤ Todo o ciclo de ritual de purificação de Guerreiro Raul estava pronto, exatamente como seu mentor havia ensinado ele a fazer. Os círculos se ligavam através das várias arestas que formavam ângulos e figuras com relação ao centro da imagem. Em volta do círculo, quatro velas de diferentes coras foram postas e acesas, muito embora o vento misteriosamente entrasse no lugar tentando apagá-las.
ㅤㅤ O Cavaleiro da Ordem sentou-se de joelhos ao lado do círculo e retirou do bolso uma pequena e gasta caderneta, também herança de seu mentor. Num rápido folhear pelo amarelo que se tornaram as folhas, encontrou a página desejada, onde, no meio de várias notas menores, havia algo que parecia quase um poema.
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ㅤㅤ - Espírito embebido em trevas e sombra.
ㅤㅤ
ㅤㅤ E, mesmo estando de olhos semi-cerrados, Raul novamente visualizou a cena que tivera quando entrou no quarto. Com a pequena diferença que a mulher agora parecia olhar para ele, e diretamente para ele. Com olhos que pareciam mais com duas lanças que gostariam de lhe perfurar a alma, eram olhos cheios de ódio. Ao mesmo tempo que a mulher parecia observá-lo diretamente, novas vozes recheavam sua mente, tomando de Raul o silêncio que o cercava.
ㅤㅤ - Quantas vezes disse para você parar de tentar!? - Dizia uma nova voz. - Os convidados ouviram! Pare de mexer estas malditas correntes!
ㅤㅤ
ㅤㅤ - De mim, fiel servo, não mais recebeis afronta.
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ㅤㅤ Um sorriso cínico e curto acompanhou o olhar que acompanhava Raul, e ele parecia realmente estar naquele dia, com aquela mulher ainda viva o observando. Seus lábios estavam secos e quebradiços, até mesmo com sangue seco entre algumas feridas abertas, mas mesmo assim a mulher sorria com dentes amarelados. Observava-o, fazendo o esforço quase mortal de levantar o rosto na sua direção.
ㅤㅤ - Se você não me escuta, eu lhe trancarei neste quarto! - Vinha aquela mesma voz.
ㅤㅤ - Já é a quinta vez só este mês! Quinta! Não serei eu quem vai cobrir as janelas com grades, para que todos vejam a vergonha pela qual tenho de passar. - E seguiu-se o barulho de vidro sendo quebrado, com toda a raiva necessária no ato. - Pois já chega! Vou mandar comprar uma corrente e não deixarei nem mesmo que saia de perto da cama. É o fim de suas escapadelas!
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ㅤㅤ - Se cabe a este a mão amiga da luz...
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ㅤㅤ Os olhos da mulher se arregalaram e se Raul naquele instante não estivesse dentro de uma ilusão, ou de uma pseudo-ilusão, ele sabia que ele também arregalaria seus olhos e se assustaria. Pois aquela mulher, aquela que estava presa na corrente mexeu seus lábios formando uma palavra. Uma palavra seguida de outra. E, mesmo não havendo som nenhum, o Cavaleiro pôde entender o que ela queria dizer naquelas palavras.
ㅤㅤ “Salve-se, Guerreiro.
ㅤㅤ - Você realmente achou que eu queria que você viesse morar comigo? - Uma voz cheia de escárnio. - É tão idiota que chega a me dar raiva, é realmente possível que eu tenha uma relação de sangue tão próxima com você? Pois isso me enoja, você desgraçou a honra da minha família.
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ㅤㅤ - Que assim seja. Pois vem, minha alma te conduz.
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ㅤㅤ Toda aquela visão se desfez na frente de Raul, e ele se viu novamente naquele recinto vazio. Entretanto, agora algo muito pior se fazia presente ali, naquele lugar. E quando disse “vazio”, quis dizer que não havia mais ninguém vivo ali, além do próprio Guerreiro. Pois naquele dia, Raul entendeu que até mesmo almas mortas, quando se desvirtuam e se tornam fantasmas, tem força de vontade a ponto de impor suas vontades. E naquele dia, ele também descobriu que fantasmas na verdade podiam atacar um homem fisicamente.
ㅤㅤ Na sua frente, o espírito renegado materializara-se.
ㅤㅤ A mulher surgira no plano material para impedir que sua maldição tivesse fim, e ali estava aquela mesma mulher que Raul vira nas suas visões. Entretanto, ela agora flutuava alguns centímetros acima do chão. Seu olhar era completamente escuro e seu corpo parecia emanar uma aura púrpura que chegava a cheirar como o enxofre. Presa ao seu pé, havia ali uma corrente prateada que fazia sangrar gotas que nunca tocavam o chão antes de desaparecer. A corrente esta presa ao nada e flutuava assim como a garota.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Trim
ㅤㅤ A corrente tilintou num estalo, e no momento seguinte Raul caiu para trás com o rosto marcado pelo golpe do espírito. O Cavaleiro estava quase atônito, pois já enfrentara inimigos materiais sim, mas nunca um fantasma que se tornara um oponente do mesmo plano. Seus membros tremiam, e ele via que pela primeira em muito tempo deixava-se dominar pelo medo.
ㅤㅤ E começava a novamente ouvir os lamentos dos que morriam antes da hora.
ㅤㅤ E começava a novamente ver-se no hospital em que fora internado quando criança, naquele lugar onde o terror rondava a sua mente e ele nunca entendia o porquê. Raul via-se novamente atormentado pelos vultos das noites inconstantes de sua infância e sentia sua vida esvair-se em cada lágrima que chorava por puro terror. Eram tempos terríveis.
ㅤㅤ Ali, no plano que beirava entre a realidade e a “realidade”, o fantasma da mulher agora ria alto, e sua risada ressoava como se fossem tilintares de correntes que eram forçadas. A corrente que pendia do seu pé envolvera Guerreiro Raul e o apertava os músculos com uma força sobrehumana, força tamanha que faziam estalar os ossos e as juntas do corpo do Cavaleiro. Mas ele estava em estado de choque, nem sequer sabia do corpo, mais se importava com o medo que o assolava.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Cada vez menos o pequeno Raul conseguia dormir. Seus pais nunca vinham visitá-lo, ele não tinha pais. E, fora a família que nunca teve, também era a saúde frágil a interná-lo num hospital. O serviço social achava que estava fazendo o bem para o garoto, mal sabendo que o internavam no único lugar aonde nunca teria paz. Ele começava a criar olheiras enormes pelas noites à pio, e seu corpo ficava cada vez mais fraco, tal qual sua saúde. Pois são pessoas completamente diferentes, aquela que quer viver um próximo dia, e aquela que não mais suporta um único dia.
ㅤㅤ Mas isso foi até aquele dia.
ㅤㅤ Aquele dia em que um grupo de voluntários aparecera para alegrá-los com roupas de palhaços. Não, Raul não achava graça em nada que faziam. E por mais que tentassem, tudo que Raul conseguia fazer era balançar a cabeça, aceitando ou não o que lhe dissessem. Mas isso foi antes do Palhaço Paçoca entrar. E foi só naquele momento que ele levantou o olhar para observá-lo.
ㅤㅤ Não sabia quantos anos tinha, a maquiagem lhe ocultava a idade e a identidade. Mas isso não importava. Pois aquele ser era diferente. Assim como os espíritos em sofrimento emitiam o terror, aquele homem emitia luz, uma aura de tranquilidade envolvia o corpo daquele homem, e, mesmo sem ter feito nenhuma brincadeira, tinha feito Raul esboçar um sorriso. O Palhaço Paçoca pareceu entender quem era o garotinho que ele observava, e o que ele tinha sofrido. Pois foi até ele saltitando e pulando, para logo em seguida lhe entregar, não uma bala ou um pirulito, mas um pequeno pingente com o símbolo da luz: O Sol.
ㅤㅤ Algumas semanas depois, Raul fora adotado por um homem chamado Charbel Vieira, também conhecido dentro da Ordem dos Cavaleiros do Silêncio como “Alegre” Charbel. O homem que se tornara seu mentor, o Palhaço Paçoca.
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ㅤㅤ E mesmo com o corpo envolto naquela corrente fantasmagórica, Raul conseguiu trazer seu braço até o peito, onde o pingente pendia por debaixo da camisa. Voltara a realidade, e junto, sentia as dores do corpo. Mas, junto disso, voltava também a vontade de viver e a coragem. E o medo fugia frente àquele que se chamava “Guerreiro” Raul.
ㅤㅤ Naquela noite Raul também descobriu que a Magia que se oculta por de trás do Manto não era algo completamente sombrio. Não era algo que deveria ser combatido pela força de vontade dos Cavaleiros da Ordem. Afinal de contas, a Força de Vontade, como ele bem pôde sentir naquela noite, também era Magia.
ㅤㅤ - Que assim seja. Pois vem, minha alma te conduz!! - Bradou o moreno, tentando ignorar a dor do aperto das correntes malditas. E naquele instante apertou na pala da mão o pingente do Sol, que começou a emitir um brilho forte e azulado.
ㅤㅤ - Que assim seja. Pois vem, minha alma te conduz!!! - O tom de voz aumentou e a corrente pareceu apertá-lo ainda mais, ao mesmo tempo que o fantasma pousou a cabeça sobre as mãos e começou a agoniar de dor, onde os gritos ecoavam como correntes se quebrando e tilintando.
ㅤㅤ - Que assim seja. Pois vem, minha alma te conduz!!!! - O grito de Raul Guerreiro foi forte, e, daquela vez, ele sentiu o pingente alterar-se nas suas mãos. Por um breve instante, Raul sentiu estar carregando, não uma simples memória de seu mentor, mas uma espada de luz. Uma espada que, num instante, cortou a corrente que o prendia, transformando-a em sombras que logo dissolveram-se no nada.
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ㅤㅤ - E que tua alma descanse. Pois não há alma que não mereça a Luz.
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ㅤㅤ Aqui, meu ouvinte, eu pauso a cena para mostrar algo muito peculiar: Aquele fantasma que materializara-se com seu puro ódio e rancor da vida e da casa que a aprisionara tinha aparecido para Raul no mesmo lugar onde ele criara um círculo de magia, segundos antes. E também era naquele mesmo lugar que aquela mulher tinha morrido, presa à uma corrente. E quão surpresa seria, se eu he dissesse que, na realidade, tudo que aquela moça queria, era que justamente Raul o salvasse? Pois naquele instante, Raul lembrou-se das palavras que a moça soletrara para ele na sua visão. E, curiosamente, agora as lembranças eram outras.
ㅤㅤ “Salve-me, Guerreiro.
ㅤㅤ E Guerreiro Raul ergueu seu pingente na direção do fantasma, e o item pareceu agora brilhar mais que o próprio sol, pois um clarão fez-se naquele quarto. E no instante seguinte, estava ali apenas o Cavaleiro da Ordem, de joelhos no chão, com o corpo dolorido e a alma aliviada.
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ㅤㅤ Trim
ㅤㅤ Tilintou a Casa dos Tilintares, uma última vez. Mas aquele som não parecia o tilintar de uma corrente. Mais se assemelhava com o tilintar de um sino, de um pequeno sino que soou, bem perto da alma de Raul. E ele sentou-se no chão, ouvindo novamente aquela voz das visões.
ㅤㅤ - Então, você é a minha irmã, não é? - Disse uma voz simpática, a mesma que gritava no espírito de Raul, instantes antes. - Eu entendo que sente a mesma dor que eu, pela morte de nosso pai. Mas devemos seguir em frente. Estou construindo uma casa para morar com minha esposa, vai ser um sobrado dos mais requintados da cidade. Gostaria de morar conosco? Vai ser uma alegria tê-la comigo, para compensar todos os anos que me foram perdidos de convivência com você. Nesse tempo que nem sabia de sua existência. Sim, somos apenas meio-irmãos, mas de que importa? Vem comigo?
ㅤㅤ Sabe, muitas vezes eu comparo o paraíso idealizado dos homens com uma ilusão daquilo que eles mais desejam. Pois, se eu estava certo na minha comparação, eu tenho certeza que agora, uma Irmã corre de braços dados ao seu Irmão.
ㅤㅤ
ㅤㅤ Em algum lugar do paraíso.
Leia até o fim...

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