sábado, 21 de novembro de 2009

Os 8 Escolhidos - Capítulo 3

Capítulo 3 – Uma noite na casa dos Walles

Quando Gal finalmente pôde se aproximar, o fogo já estava alto. Um incêndio assolava a casa dele e mais quatro casas em volta. Por um segundo, ele ficou sem saber o que pensar. Mas logo em seguida, afundou-se num grande pavor. Havia algo para salvar ali dentro. Passou da linha de bombeiros que seguravam os expectadores por de baixo das pernas de um deles e acelerou em disparada em direção a sua casa em chamas.
Por incrível que pareça, nenhum outro bombeiro conseguiu pará-lo a tempo. Era como dito, Gal às vezes parecia ser mais rápido do que o normal. Recepcionou a porta com um belo chute que a fez voar para dentro da casa e entrou sem nenhum medo para dentro da casa em chamas. As chamas pareciam terem começado já fazia alguns bons minutos, afinal de contas, partes do teto já caiam e tudo indicava que não iria durar muito mais tempo.

Gal cruzou o corredor correndo, tentando ignorar que mais chamas se criavam conforme ele avançava. A fumaça já cobria grande parte do corredor, de modo que ele andava com a cabeça para baixo para encontrar oxigênio. Ele já estava pingando suor quando derrubou a porta do quarto com outro único chute. Quase tudo já estava em chamas, mas mesmo assim, ele se dirigiu sem hesitação alguma até a escrivaninha dele e abriu uma gavela, puxando dali uma pequena proteção de couro negro que estava intacta. Ele se sentiu aliviado por tê-la nas mãos, virou-se para a porta no exato momento em que o teto resolveu desabar sobre ela. Agora não tinha saída para dentro de casa, teria de improvisar.
Rapidamente puxou o cobertor da cama e o envolveu entre os braços, tendo certeza de que não cairia com qualquer impacto. Tomou impulso e fitou a janela, sua saída de emergência. Correu o mais rápido que pôde e saltou sobre ela, fazendo o vidro e a moldura de madeira abrirem espaço para seu corpo passar. Ele caiu com tudo na grama do quintal. Não se passaram mais três segundos até um bombeiro surgir para segurá-lo.


- Você é maluco ou o que!? - Explodiu Jeorge dando um tapa na face de Gal. Ele havia chegado vinte ou trinta minutos depois da imprudência de seu filho. E agora, estava dando o devido sermão nele, assim como os bombeiros também fizeram. Mas aquela bronca era muito mais efetiva contra Gal. - O que diabos você foi fazer lá dentro!? Isso não é jeito de você jogar sua vida fora, Gal!
- Pai, eu...
- Não! - Gritou o pai, de pé em frente a traseira de caminhonete dos bombeiros na qual Gal estava sentado. - Não há explicações, Gal!
E logo seguiu-se um longo silêncio, que perdurou por bons minutos. Jeorge olhava para a grama chamuscada dos restos de sua casa, aquela na qual tinha vivido tantas emoções e tantas angústias naqueles últimos anos.
Finalmente, olhou para seu filho com o canto dos olhos.
- O que eu faria se você tivesse morrido, Gal? - O garoto o olhou nos olhos. - Me diga? O que seria de mim, se não tivesse você ao meu lado? Não me resta mais ninguém... Somos apenas nós dois. É por isso que...
- Desculpe. Pai. - E sem dizer mais nada, deixou o compartimento de couro sobre a caminhonete e abraçou o pai. O silêncio cuidou de aparar qualquer outra briga que eles poderiam vir a ter. Agora haviam se entendido. Finalmente.

Depois de alguns bons telefonemas e vários contatos feitos, Jeorge finalmente conseguiu a cabeça necessária para decidir o que fazer dali em diante. Eles ainda tinham o carro e Jeorge não estava desempregado. Faltava apenas a moradia, que a Família Walles fez questão de oferecer até que eles se restabelecessem.
Até tentaram achar algo que sobreviveu do incêndio, mas já estava escuro e ambos estavam cansados. Desistiram da tarefa e logo se dirigiram até a casa dos Walles, que não era tão longe dali. O Sr. E a Sra. Walles estavam na porta da casa os esperando com um grande sorriso. Era uma boa cena de se ver: O Senhor Walles era um gordinho baixinho bem humorado, todo o ânimo de Gary tinha sido puxado dele. E a Senhora Walles era um pouco mais alta e também era meio enchidinha, faziam um simpático casal. Atrás deles estavam Ann e Gary. O garoto estava sonolento, mas conseguiu dar algumas palavras de apoio ao amigo. Já Ann, estava completamente acordada, enchendo Gal de palavras a cada segundo. Ele mal podia distinguir uma da outra, mas agradecia pela preocupação da irmã de Gary. Já seu pai, Jeorge, estava cuidando dos detalhes com os Walles.

- Por favor, eu insisto!
- Negativo, Jeorge! Não somos hotel ou algo do tipo! Você vai ficar na nossa casa como nossos convidados, e por isso, não quero vê-lo pagando nada! Concentre-se apenas em no que você vai fazer daqui para frente, pense em Gal!
- Sim, mas é que...
- Fim de assunto, Jeorge! - E foi assim que a Senhora Walles conseguiu dobrar o pai de Gal. - Além de tudo, vocês devem estar muito cansados! Já preparamos as camas para vocês dormirem o resto da noite. Jeorge dormirá no quarto de hóspedes e Gal no quarto de Gary. - E antes que Gary pudesse comemorar. - E sem video-games e nem gritarias por lá!
- Mas mãe...
- Não quero ouvir mais nem um pio, Senhor Walles!
- Tá... Tá... - E assim Gary subiu para voltar a dormir. Talvez conseguisse dizer algo digno na manhã seguinte para Gal. Afinal, havia tomado um belo fora naquela noite, e por isso, não pensava em nada mais que diversão e em dormir. Jeorge tomou um banho antes de ir para o quarto dele, e Gal tombou no colchonete preparado para ele, mas só depois de finalmente conseguirem tirar Ann da porta. Depois daquilo, o silêncio reinou com todos dormindo.

Mas aquilo não durou tanto. Gal acordou de impulso, depois de um sonho ruim. Desta vez nem se lembrava direito qual era ele, mas já sabia que iria demorar a voltar a dormir. Ainda era madrugada, provavelmente ainda faltavam umas três ou quatro horas para amanhecer. O garoto ficou alguns segundos deitado no colchonete, até decidir por caminhar até a cozinha para beber algo. Levantou-se e calçou os chinelos para sair do quarto lentamente.
Seus passos solitários pareciam soar mais alto do que o normal, devido a falta de qualquer outro som naquela noite. Desceu as escadas sem pressa alguma e entrou na porta da direita para encontrar a cozinha. A geladeira estava aberta, e alguém inclinada sobre ela. Aguardou apoiado na porta para ver quem era, embora já tivesse certeza de quem era aquela pessoa.
Quando Ann fechou a porta com um prato com uma fatia de bolo na mão, ela quase saltou com o susto de ver Gal ali. Escondeu o bolo nas costas, numa tentativa inútil de inocentar-se. Gal apenas riu e caminhou até a mesa da cozinha para sentar-se numa cadeira.

- Vai acabar engordando, Ann.
- Nã... Não faço isso sempre! É porque eu não jantei direito e...
- Sei. Sei. - E antes que Ann pudesse interromper, completou. - Porque não coloca o prato na mesa e me arranja um garfo?
- Ora... - Mas não desobedeceu, pegou mais um garfo e sentou-se na mesa a frente de Gal. Logo colocando o bolo entre os dois, pegou um pedaço com o garfo e levou até a boca. - Não consegue dormir? Relaxe, vai dar tudo certo.
- Não é por isso que estou acordado...
- Não? Pelo que, então?
- Hah, é complicado demais dizer.
- Tudo bem, temos a noite toda para conversar. - Disse Ann, convicta.
- Na verdade, tenho uma prova amanhã. Então não temos a noite toda.
- Quem se importa com provas? Você já passou de ano, não passou, Gal?
- Bom.. Sim...
- Então! Não se preocupe e fique aqui abrindo seu coração para mim!
- ... - Foi a única coisa que poderia dizer. Não que falar de seus sonhos fosse algo vergonhoso ou difícil. Era só que, abrir seu coração era um termo forte demais para ele. E provavelmente até impossível. Ann pareceu notar isto. Ela deu um leve suspiro e levantou-se da cadeira, começando a dar leves passos pela cozinha.

- Sabe, Gal, eu me pergunto como você era antes. Se você sorria mais, Se você conversava mais e falava em voz alta. Daria tudo para entender você completamente, embora ache isso impossível para mim. Mas é só que...
- Ann..
- É só que eu gostaria de tentar mudar esse seu jeito de ser. Sabe? Afinal, você acima de tudo é um cara legal e eu... - E sua voz parou. Mesmo com tudo indicando o que a garota de dezessete anos iria dizer, ela nunca havia dito aquilo para ele. - Afinal eu...
- ... - Gal ficou alguns instantes quieto. Até finalmente soltar um longo suspiro, e ao final dele, soltar um sorriso para ela. - São sonhos, Ann.
- Como?
- Sonhos. Ultimamente tenho tido alguns pesadelos estranhos. Por isso eu acordo no meio da noite e não consigo mais pregar os olhos. Estranho, né?
- Que tipo de sonhos, você tem?
- Os mais esquisitos possíveis. Geralmente relacionados com guerreiros medievais, espadas e batalhas. Mas nunca com um final feliz, quase sempre o herói do meu sonho acabava com um final nada bom. Mas eles sempre acabam antes de eu ver o que aconteceu. Embora pudesse imaginar o que teria ocorrido.
- Sonhos medievais? Nossa, isso é completamente inesperado. Talvez seja influencia do seu nome, não? Galahad Broadcase?
- Não diga bobagens. - Disse, rindo bem baixo.
- E me diga, o que o herói enfrentava nesses sonhos?
- Esse é o pior. Nunca entendi o que eram os inimigos deles. Pareciam vultos negros, figuras disformes e inconstantes. Acho que nunca consegui entender como elas realmente eram. O meu sonho sempre acaba quando uma delas vai para cima do cavaleiro de armadura escarlate.
- ... - E Ann não conseguiu conter alguns risos. - Armadura escarlate e vultos!? Nossa, Gal, para alguém que não acredita em anormalidades, você é bem criativo, né?
- Vai ficar me zombando, é? Aqueles vultos eram reais. A maioria tinham mais de dois metros de altura e se movimentavam de uma forma bem estra... - Mas a voz de Gal morreu, do mesmo modo que seus olhos se arregalaram.

Na janela logo atrás de Ann, Gal tinha certeza de ter visto passar uma figura negra. Uma silhueta monstruosa e gigantesca que havia coberto toda a janela. Sua intuição, que geralmente era boa, estava palpitando a ponto de lhe causar dormência nos braços. Algo de muito ruim aconteceria, e ele tinha de fazer algo. Ann notou a feição do amigo e preocupou-se, também.
- O que foi, Gal?
- Abaixe-se! - Gritou ele, e a puxou para seu lado da mesa enquanto botava seu corpo na frente do dela com relação a janela. Logo caíram no chão, Gal por cima de Ann. Neste exato instante, a parede da cozinha atrás deles desmoronou como se uma pancada a tivesse atingido. O som alto soou e fez Ann ficar completamente desnorteada. Mas Gal sabia o que fazer, levantou-se com rapidez e puxando Ann pelo pulso começou a correr em direção ao hall de entrada.
- Vamos, Ann! Temos de fugir!
- O que!?
- Rápido. - E assim passaram da porta da cozinha. Gal teve tempo de olhar para trás por um instante, tempo suficiente para ver aquilo. Um Monstro. Uma gigante figura de dois metros e meio de altura e ombros largos e escamosos. Não tinha armas, mas seus punhos eram quase o tamanho do Senhor Walles. Sua face estava oculta na penumbra da noite, mas era possível ainda sim identificar os olhos vermelhos e malignos.
Gal tentou não lembrar da imagem e subiu as escadas junto de Ann. Algo dizia para ele que lá fora seria mais perigoso. Mal estavam no topo da escada quando Gary veio correndo até eles com uma cara de desentendido.
- O que aconteceu!?
- Explico depois, tome, pegue sua irmã e vá para o quarto! Vou avisar meu pai e os seus! - Mas não era necessário, eles já estavam praticamente ao lado deles. Haviam pulado de suas camas o mais rápido possível assim que ouviram o estrondo. - Senhor e Senhora Walles, Pai!
- O que aconteceu, Gal!? - Gritou Jeorge chegando até o filho, enquanto Ann era levada pelo irmão até o quarto.
- É algo... Uma coisa enorme.. Um monstro.
- O que!?
- Lá embaixo. - E Gal não precisou dizer mais nada. Naquele instante, a parede da cozinha desmoronou com mais um impacto de um soco do monstro que agora se encontrava no hall de entrada, de frente para as escadas. Jeorge e os Walles ficaram sem palavras por um segundo. Até Gal sentir seu corpo ser agarrado por Jeorge.
- Gal! Vá com Gary e Ann e tente fugir pela janela de alguma forma! Vão, rápido!
- Mas e vocês, pai!?
- Nós já vamos! Agora vá!
- Mas...
- Não quero ouvir mais nada, você precisa fazer o que estou mandando, Gal! - E com o grito, Gal notou o que ele queria dizer. Deu um forte abraço no pai e correu em direção ao quarto. Com o canto dos olhos, viu os Walles e Jorge conversando rapidamente enquanto tremores faziam tudo ficar pior.
Assim que entrou no quarto, Gary segurou Gal pela gola da camiseta com um olhar quase frenético.
- O que está acontecendo ali, Gal!?
- Precisamos fugir! Não temos tempo para explicações!
- Fugir do que!? Não estou entendendo nada! E minha irmã parece estar em outro mundo, olhe para ela! - E Ann realmente estava imóvel sentada na cama com os olhos arregalados. Talvez ela tivesse visto o que Gal também viu ao subir as escadas. Gal soltou-se de Gary e correu até ela, mas aparentemente não havia machucado algum, logo em seguida, virou-se para Gary.
- Olha, Gary, é sério. Não dá para explicar agora, temos de saltar pela janela de alguma forma e... - Mas neste momento um grito irrompeu vindo do corredor. Era o da Senhora Walles. Gary moveu-se quase voluntariamente, passando por Gal e indo em direção ao corredor enquanto Ann pareceu dizer algo, bem baixo.
- Gary! Não vá! - Disse Gal, correndo para o corredor atrás dele. Mas não foi muito longe, Gary estava parado, imóvel, no corredor, bem em frente a porta. Gal se posicionou ao lado dele para ter a visão do garoto. Ali, na frente, o Senhor Walles e Jeorge estavam tentando afastar o monstro com pedaços de madeira arrancados de alguma parte enquanto davam gritos para tentar assustá-lo. A voz do pequeno Senhor Walles parecia estar misturada com choro e dor, isso se explicava pelo corpo da Senhora Walles, jogado no corredor, um pouco mais na frente dos dois. Ela estava pálida e não respirava, completamente contorcida na parte direita do corpo, como se fosse atingida por uma bola de demolição naquela parte. O que não podia deixar de ser verdade. Jeorge notou os garotos apenas alguns metros atrás deles e gritou.

- O que diabos estão fazendo aí!? Saiam daqui!
- Gary! Leve Ann para longe, agora! É uma ordem de seu pai! - Gritou o Senhor Walles com as lágrimas encobrindo praticamente todo o rosto. Gary pareceu acordar de seu lapso com as palavras do pai, mas completamente desprovido de consciência. A ira parecia encher todo o corpo dele. Gal notou isso e antes que ele pudesse fazer alguma coisa muito estúpida, ele o segurou pelo pulso e o puxou com tudo de volta para o quarto. Uma força incomum fez o Gary não ter resistência alguma contra o puxão de Gal, sendo jogado para o quarto sem problema algum. O garoto logo se pôs de pé novamente, mas Gal já estava na frente da porta, com ela trancada atrás dele.
- O que você está fazendo, Gal!? Saia da minha frente agora!
- O que eu estou fazendo!? E o que você pensa que está fazendo!? Quer se matar!?
- E qual o problema!? Desde que eu acerte umas boas naquela coisa, está ótimo! Minha mãe está lá, Gal! Talvez ainda esteja viva e... e...
- Você sabe que ela não está... Gary.
- Mas...
- O que seu pai disse, Gary? Você precisa cuidar de sua irmã. Temos de sair daqui. -E finalmente aquelas palavras pareciam mostrar o grande significado delas para Gary. O pai deixou a irmã sobre os cuidados dele. Era uma responsabilidade que apenas ele deveria ter. Ficou alguns segundos em silêncio, até finalmente levantar-se e abrir a janela.
- Pegue os colchões e o seu colchonete. Vamos jogá-los pela janela para amaciar nossa queda logo depois. Não temos tempo, vamos! - Disse Gary, contendo as lágrimas. Gal assentiu, orgulhoso do grande amigo que tinha. E logo estavam jogando um colchão pela janela. Neste instante, Gal ouviu a voz de Ann.
- Gal... Gary... - Rapidamente Gal foi até ela e ficou na frente da garota.
- Ann... Está tudo bem. Logo vamos sair daqui.
- Gal... O que era aquilo?
- Não sei dizer. Mas precisamos sair daqui...
- Você e Gary vão comigo?
- Sim, Ann. Nós estaremos sempre com você. - E finalmente pareceu achar um sinal de raciocínio na mente confusa da garota. Era de se esperar aquilo. Para uma garota tão meiga e frágil quanto Ann, aquilo poderia ter sido demais para uma noite.Ou melhor, para poucos minutos. Gal segurou sua mão de leve e logo depois foi até Gary para ajudá-lo a jogar o colchonete pela janela. Já estava tudo pronto, era só saltar. E foi neste instante que a porta do quarto quebrou-se, e Jeorge fora jogado bruscamente para dentro do quarto. Ele estava com vários arranhões no braço e sangrava muito por uma ferida no ombro direito, mesmo assim levantou-se rapidamente. Ele estava sozinho, o Senhor Walles não estava ali junto deles. O pai de Gal rapidamente olhou para os meninos, a face numa mistura de medo e coragem juntas.
- Pela janela, Rápido! - Mas agora, era Gal que estava despreparado para fugir. Era seu pai ali. Aquele que ele sempre considerava como sendo insuperável e invencível. Estava sangrando, e ele teria de fugir e deixá-lo para trás. Para morrer, muito provavelmente. Não, não podia fazer algo assim. Rapidamente virou-se para os irmãos.
- Vão na frente! Vou ajudar meu pai a atrasá-lo!
- Não, Gal! Você vem com a gente! - Disse Gary, já segurando a irmã nos braços em frente a janela. - Nós três vamos sair daqui!
- Isto! Faça como ele disse, Gal! - Interviu o pai. - Não quero você mais envolvido nisso de maneira alguma! Eu não faço idéia do que seja esse monstro, mas... Eu não vou deixar ele destruir meu filho! Você deve ir com eles!
- Pai...
- Faça o que eu digo e vá! Agora! - Gritou o pai. - E saiba que eu nunca vou deixar de te amar, Gal, meu filho.
- Pai... - E recuou um passo em direção a janela.
- Vá logo! Tome... Pegue isso e vá! - E jogou para o garoto o compartimento de couro. Aquele que Gal havia arriscado a vida para salvar durante o incêndio. - Eu sei o que carrega aí. E me sinto orgulhoso de saber que você não me odeia, de verdade, Gal!
- Pai.... - E mais um passo fora dado.
- Ande! Gary e Ann tem força mas não eles não tem maturidade ainda! Você precisar estar junto deles! Vá!
- Pai...- E encostou-se na janela. - Eu te amo, pai.

E neste momento a parede do quarto rompeu-se levando os restos para porta para longe e dando entrada para o monstro, que agora pôde levantar-se. Afinal o corredor era pequeno demais para ele. Jeorge imediatamente se postou entre o grotesco e seu filho. Segurando com todas as forças possíveis uma cadeira que estava no quarto de Gary.
Gal deveria ter pulado naquele instante, afinal, Gary e Ann já estavam lá embaixo. Mas ele não o fez, e isso deu a ele uma das piores cenas de toda sua vida. O vulto negro levantou o braço enorme e o disparou contra o pai. A cadeira fora destroçada e o jovem Jeorge levou o impacto com tudo, sendo jogado até a janela. Até Gal. O garoto perdeu as forças para saltar para baixo e sentou-se ao lado do pai, os olhos mesclados em terror e tristeza. Lágrimas caíram de seus olhos.
- Pai!
- Idiota... Fuja logo daqui... - Falou Jeorge, tossindo sangue. Ele não podia mais mexer-se. Não tinha nenhuma ferida aparente, mas Gal e Jorge sabiam que provavelmente todos os ossos do corpo dele estavam em estados precários. Assim como os órgãos.
- Pai...
- Eu... fico feliz. De ter dado minha vida para salvar a sua. - Disse ele, tossindo mais sangue. - Talvez isso compense os erros do passado, não é, Gal?
- Não diga besteiras!

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