Capítulo 2 – Desastres para todo lado
Como clara resposta por ter ficado acordado até tarde, Gal acabou se atrasando ao ir para o colégio. Seu pai, como de costume, já havia saído depois de deixar dinheiro para Gal. O menino só veria o pai novamente na próxima noite, ou talvez nem o visse.
A relação dos dois era realmente bem forte, e havia ficado ainda mais nos últimos três anos, depois de tudo que ocorreu. Ele já tinha dezesseis anos, adolescente, e mesmo assim, nunca brigaram feio.
- Ei, está me ouvindo? Gal?- Foi assim que ele foi interrompido de seus pensamentos por Gary. A aula mal tinha começado e ele já havia começado sua rotina matinal de incomodar seu grande amigo. Para a infelicidade de Gal.
- O que foi? - E antes que pudesse ser interrompido. - Caso for falar das garotas de novo, vai levar um soco na cara.
- Ora! Falando assim até desconfio da sua masculinidade. - Gary disse com cara de deboche. - Mas tudo bem, não é disso que quero falar. Você ouviu os boatos?
- Que boatos?
- Nossa! Cara, não acredito que você fica o dia todo em casa. Parece que nunca liga a televisão!
- Tá. Que seja. Diga logo o que quer.
- Você é sempre tão frio. Entendo porque não tem tantos amigos. Estava falando dos desastres em série que tem acontecido no mundo todo.
- Desastres, é?
- Sim! Tufões na Asia, Terremotos na Oceania e Tempestades na América. Não está sabendo de nada?
- Não. - E subitamente ganhou interesse pelo assunto. - Conte-me.
- É, né!? Agora quer me ouvir falar, né? Seu aproveitador!
- Largue de baboseiras e fale logo, Gary!
- Tá, Tá. Parece que uma série de catástrofes estão ocorrendo em todos os cantos do mundo. E para piorar, nenhum equipamento conseguiu prever nenhuma delas. Eles simplesmente surgem do nada. Fora isso, também estão acontecendo vários acidentes graves por todo o mundo. Ontem mesmo, tombou um ônibus escolar num lago, vindo para a cidade. Estranho, né? Tem gente dizendo que tudo está interligado e que é o fim do mundo.
- Nossa, Gary...
- Gostou, né? Quer que eu conte mais?
- Não. Na verdade pensava que você tinha ganhado algum pingo de inteligência. Mas já vi que era só ilusão minha. - E logo em seguida baixou a cabeça para voltar a dormir. Não demorou um segundo para levar um belo tapão de Gary. O amigo sentou-se na carteira ao lado e o encarou.
- Qualé! Você estava interessado até agora pouco!
- Sim, Gary. Mas você me conhece. Essas coisas supersticiosas não me afetam em nada.
- Claro, claro. Senhor Super-realista. - E tomou fôlego. - Mas isso não muda o fato que te contei algo interessante! Está me devendo uma!
- Já imaginava que era algo do tipo. - E Gal tomou forças para se espreguiçar em sua cadeira. - Não precisava de toda essa enrolação. Diga logo o que quer, Gary.
- Sabia que não ia me desapontar, cara! - E saltou da carteira para ficar bem na frente da face dele. - Arranjei um encontro com uma garota linda do segundo ano! Mas esqueci completamente que tinha de pegar umas coisas para minha mãe no escritório. Você conhece minha mãe, o escritório e minha casa. Não poderia...
- Claro. Vá curtir a noitada, Gary.
- Por isso que eu te amo, Gal! - E deu outro tapão no garoto. Desta vez fora retribuído com um soco no estômago que Gal soltou mais rápido que o esperado. Ele tombou no chão tomando fôlego enquanto soltava uma risada de vitorioso. Eles eram amigos já por dois anos, e sempre daquela forma. Gal nunca fora animado e muito menos carinhoso. Já Gary era extrovertido por demais. Acabavam formando uma dupla dinâmica perfeita.
Para a felicidade de Gal, logo depois o Professor entrou e a aula se iniciou, calando o amigo.
- “Tudo está interligado”. Grande besteira. - Disse com ar de deboche enquanto aproveitava a brisa noturna. Realmente, Gal conhecia bem a família de Gary. Fora praticamente o primeiro amigo do garoto desde que ele havia se mudado para a cidade. E com isso ganhou a simpatia dos pais e da irmã de Gary. O escritório ficava a menos de quatro quadras do colégio, e a casa a menos de cinco quadras do escritório. Não era uma grande distância, comum para uma cidade pequena como Bluesky. O mesmo motivo pelo qual o pai de Gal trabalhava na cidade vizinha.
Já estava com um grande bloco de papéis debaixo do braço, quando tocou a campainha da casa de Gary. A Sra. Walles abriu a porta, sorridente como sempre.
- Ora, o que faz aqui a essa hora, Gal? O Gary saiu e vai demorar...
- É. Eu tô sabendo. - E esticou a papelada para a Sra. Walles. - Por isso mesmo estou aqui.
- ... - Ela demorou alguns segundos para entender que o filho havia feito aquilo de novo. - Ora! Mas aquele Gary me paga! Te fazendo de empregado novamente! Venha, entre um pouco então, já que Gary foi tão mal-educado, posso retribuir.
- Hah. Não, obrigado, Sra. Walles, mas preciso ir para casa. Já é tarde e preciso estudar um pouco.
- Bom... Se você diz.
- É, infelizmente preciso ir.
- Tudo bem então, até mais.
- Até, Sra. Walles. - E se virou para ir embora quando ouviu a voz dela, lá de dentro.
- Gal? - E ele parou no meio do jardim. - Gal! É você mesmo! - E saltou da porta a garota. Era aparentemente mais velha que Gal, nada exagerado. Apenas um ou dois anos. Tinha cabelos castanhos e uma face lisa e bem cuidada, era bem o contrário de Gary, mesmo sendo irmã dele. Gal virou-se para a menina, ela ainda era mais baixa que ele.
- Olá, Ann. - E abriu um curto sorriso. Mesmo que não confessasse, ali estava outro motivo por ainda aguentar as travessuras de Gary.
- Ia embora sem falar comigo, é? Já faz tempo que não nos falamos, uma semana ou mais, não?
- Na verdade, quatro dias. - Disse, quase na frieza de sempre.
- Gal! - E inflou as bochechas. - Você tem que parar com esse seu hábito!
- Que hábito?
- De cortar as pessoas!
- Hah, claro. Já ouvi isso demais.
- Devia começar a fazer, ora!
- Se incomoda?
- Claro, seu bobo! - E fechou mais ainda a cara.
- Perfeito. - Disse Gal, com a face séria. Mas aquilo durou apenas alguns segundos, até ele não conseguir mais conter uma risada baixa. Ann riu quase ao mesmo tempo.
- É. Continue assim e nunca vai arranjar ninguém!
- Tudo bem, não estou a procura mesmo.
- Ora! - E deu um leve peteleco na testa dele. - Tenha um pouco de respeito e pare de responder assim, ainda sou mais velha!
- Tá. Desculpe. Mas agora preciso ir, mesmo.
- ... - Ela o fitou por alguns segundos até desviar o olhar. - Ok. Pode ir, eu deixo.
- Até mais, Ann. - E passou ao lado dela. Ela não respondeu, mas em troca, beijou a bochecha dele e correu para dentro da casa, fechando a porta atrás de si.
Já não era segredo que Ann tinha uma bela queda por Gal. Os dois se conhecem desde que Gal e Gary tinham se tornado amigos. E desde aquela época, parecia ter realmente algo entre eles. Nada confirmado, mas Gal não se incomodava com a idéia. Havia uma coisa especial naquela garota que fazia ele não se incomodar tanto com a presença dela, mesmo preferindo quase sempre estar sozinho. Talvez ela fosse a única que pudesse quebrar aquele coração gelado do rapaz. Afinal de contas, já fazia três anos que ele tinha ficado daquela forma. E, nos últimos dois que ele havia conhecido os irmãos Walles, tinha melhorado bastante.
Depois do agradável e curto encontro, Gal começou a voltar para casa. Ainda tinha dever de casa para fazer. Gal costumava sempre viajar nos pensamentos quando andava sozinho, e aquela era uma ótima ocasião. O cair da noite e a brisa melhorariam tudo. Mas por alguma razão, ele se sentia incomodado demais para isso. Como se alguém estivesse falando ao lado dele. Ou como se estivesse sendo seguido.
- ... - Olhou para trás. Mas não havia nada. Mesmo desconfortável, voltou a caminhar.
Estava a poucas quadras de casa quando notou grande movimentação mais para frente. Luzes estavam acesas e várias pessoas estavam saindo de suas casas para ver algo. Uma sirene pôde ser ouvida de longe, e logo, uma viatura dos bombeiros passou voando pela rua que normalmente era tão silenciosa. Ela virou na rua da casa de Gal.
Atiçado pela curiosidade o garoto apressou o passo.
Só para confirmar, não pensem que não escrevo mais nada. Projetos paralelos estão em andamento. Entre eles, dois contos e algumas idéias de poemas. Serão postados conforme eu terminar eles.
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