quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Triangulo Amoroso? Fora!

Por querer, eu acho que não é,
Nem simplesmente acaso do acaso (do acaso).
Rancor! Sabe que nunca foi amado!
E agora, chispou! Mancando num só pé!

Culpa, a vizinha, a outra;
Seguiu o adúltero, cheia de malas sem alça,
De puro peso (sobre outros). Sua atraente saia marota,
Agora, não mais, chega de correr descalça!

E ficou lá a Alegria, sem marido e sem vizinha.
Solteira, livre e dando pra todos.
Sendo casado e traído, você a amaria!
Só a Culpa e o Rancor? Hah! Largue de desgostos!





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O Poema saiu da cabeça. Não me perguntem sobre nexo, haha. Feliz ano novo!
Leia até o fim...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Postagem de Fim de Ano

Leia acompanhado de silêncio e calma


I Sobre fatos passados. Sobre a falta dos olhares certos.


Folheando um antigo álbum,

Disse, em voz baixa, “obrigado”.

À pessoa que vive sempre

em meu coração

Por sempre me encorajar.




As pessoas que estão lendo este escrito provavelmente me conhecem, me tem como amigo, como parente, como uma pessoa que não passa despercebida. Grande maioria de vocês, amados parentes e amigos, já traçaram ao menos uma linha na minha vida. Já fizeram algo que me agradara, ou mesmo algo que alterou minha personalidade ou meus atos. É justamente por esta capacidade mágica que todos nós temos de moldar, de dar vida, de dar serenidade àqueles que nos cercam, que novamente decidi escrever sendo apenas eu – não um narrador de contos, não um poeta de meia-pataca –, só o Tadashi; com o claro intuito de brotar em vocês um sentimento que, só agora, eu notei em mim.

Por tantos anos, vivenciei o que, acho eu, qualquer garoto pode ter vivido; estudava – e dormia, como dormia! – no colégio; ia para o clube com a empolgação de poder encontrar toda a galera; ria desgraçadamente de fatos tão simplórios, e nem por isso indignos de risadas alheias; ajudava meus pais com os serviços da feira e visitava a casa de meus avós. Eram segundos, minutos, horas e dias que passavam tão rápidos por meus olhos; fatos bobos que eu nunca pensei que pudessem ser dignos de sequer uma linha de minha capacidade de expressar com letras.


Mas o destino me guardou inúmeras surpresas.


Repentinamente, uma carteira no fundo da sala, perto de dois caras estranhos me fizeram extrema falta. Repentinamente, uma conversa de casualidade se tornou rara. Repentinamente, as risadas intensas eram escassas. Repentinamente, o ato de ajudar na feira ganhou uma importância e um significado tão superior e nobre. E, repentinamente, visitar a casa de meus avós, me serviu como berço de nostalgia, novos olhares e, às vezes, até de amarga mágoa. Percebi que os fatos espontâneos nunca recebem, e talvez nunca receberão, seu devido valor.

E nem devessem receber; como se, por serem assim tão rotineiros, tornassem-se assim tão especiais. Cravei na minha alma o valor inestimável de uma memória da nossa vida, num álbum guardado no fundo do nosso ser, no antro da nossa existência. E isso raramente vai mudar, os segundos mágicos continuarão a nos passar sem os olhares atentos. Contudo, acho que o fato de saber – depois, bem depois – que eles foram únicos e insubstituíveis, estes atos sim se caracterizam pelos olhares certos. Quem sabe, basta apenas uma reflexão de poucos minutos, como a que faço agora, para notar isso.

Portanto, eu deixo aqui o quanto eu gostaria que estes momentos chegassem até vocês. Que meus sentimentos, tão parcos frente a todas as minhas vivências, consigam atingir o coração de vocês, mergulhá-los numa nostalgia simpática. E como eu dou risada lembrando de uma gordisse minha, ou me empolgo lembrando de um treino pesado, porém descontraído; que vocês consigam o mesmo. Que suas lembranças dêem ao silêncio desta calma leitura, tudo o que for necessário.


E, caso desejarem, deixem ali, para trás, uma pequena lágrima. Um preço bobo para rever, com intenso sentimento, tudo aquilo que já fora considerado simples, e agora vale tanto.






II Sobre sorrisos e derrotas. Sobre choros e vitórias.


Tanto no sol, quanto na chuva;

Consigo lembrar daquele sorriso.

Memórias estão remotas

e desbotadas,

Mas, se eu procuro,

seu vulto ressurge.

Fazendo-me derramar lágrimas.




E será; caro amigo, querido parente ou agradável conhecido; que você consegue resgatar do fundo do baú seus piores choros? Os marcos que eles fizeram na sua vida? Será que a tola mente humana não limita as imagens gravadas?

Nunca haverá uma última derrota ou uma vitória definitiva, você voltará a sentir o peso que é a tristeza, você voltará a sentir-se aliviado após a conquista. Este ano, eu pude notar, pesadamente, como a minha irresponsabilidade pesara sobre aqueles quem eu mais prezo. Como um fracasso bobo – bobo comparado à magnitude que sua vida torna-se –, que é entrar na faculdade, é sentido, não por mim, mas por aqueles que me cercam.

Tomei-me de arrependimentos e de incessantes “E se...”. E, realmente, e se eu realmente tivesse me dedicado aos estudos? E se passasse na faculdade? E se meu avô pudesse ter me visto como um acadêmico? O choro já me foi inevitável, a tristeza fora limitadamente incessante. Tanta, que mal pude ver um outro lado: E se eu não passasse, como seria? Adentrei o cursinho, e lá aprendi muito mais que matéria. Muito mais do que datas e nomenclaturas. As amizades formadas ali, os risos das pausas das tardes de estudo, tudo isso me valeu. Me mostrou que a vida havia escondido, bem escondida, uma pequena caixinha de felicidades.


Hoje, eu me torno para as perdas mais importantes que já me ocorreram.


E, diante delas, eu busco uma real forma. Um sorriso que os dias me esconderam. Realmente, uma ou outra coisa eu pude notar. Aprendi a valorizar, aprendi a crescer pelos outros, aprendi a avançar, mesmo que em passos lentos. É algo pouco, algo que ainda não me preencheu por inteiro e ainda me deixa com as mágoas passadas. Mas eu sei, sei bem, que ainda está lá, uma nova caixinha. Algo guardado para mim, e que eu só poderei abrir quando minha alma estiver pronta.

Quando o momento chegar; primeiro, eu chorarei pelo passado, agradecerei pelo passado, sorrirei para o passado, compreenderei o passado. E então, de cabeça erguida, de peito inflado; empreenderei os passos para o que eles me deram. O caminho para se seguir.


Pude notar que o Destino nunca vai ser o que você previu. Que ele sempre te surpreenderá.

Agradavelmente. Desagradavelmente.

Num vulto eu notei que o passado foi bom, foi ruim. E que eu sinto falta de tudo. Mas também já sei que o futuro também vai ser bom, vai ser ruim. E eu o temo por ainda não ter chegado. Encontrei, esse ano, os maiores medos da minha vida. Eu vi amizades que achava inquebráveis, se partindo por pura besteira, ou pelo simples passar do tempo com uma distância entre as almas. E meu coração teve suas desesperadas tentativas de querer fazer algo, hoje eu me arrependo por não ter seguido estas súplicas de meus sentimentos.

Amigos, vejam em volta. Será que todas essas lembranças boas, essas tentativas de previsões para o futuro; são moeda de troca tão simples para um mero desentendimento? Não seria uma queda, o melhor momento para verem se estão andando corretamente? Uma segunda, uma terceira, uma quarta chance sempre são possíveis. Eu? Eu apenas gostaria que, memórias tão remotas e desbotadas, não sejam vistas como um vulto para se derramar lágrimas.



III Sobre as pessoas. Sobre impressões e pensares.


Rezar à primeira estrela,

acabou tornando-se um hábito.

Entre os céus do entardecer,

Procuro você,

dentro do meu coração.




Hoje, agora, nestes meus últimos meses; eu finalmente tive algo para o qual me orgulhar com razão. Eu percebi que, mais importante que impressões e pensares, sempre estará a realidade. Que, mesmo que eu taxe alguém como chato, que eu diga que alguém é estranho, que alguém não presta; há sempre a realidade. E a realidade não pode ser questionada. Hah, Ele só faz merda. Ou, Quando isso afundar, a culpa é sua. São pensamentos que eu decidi tentar evitar.

Eu notei que por mais que alguém esteja fazendo algo errado, muitas vezes, ela o faz tentando fazer o bem. Pensando que faz o certo. Que, talvez por um raciocínio errado, ela entristeceu alguém. Há pouquíssimos motivos para se criar inimigos; e as inimizades, geralmente são tão artificiais que um simples passar de tempo, ou dois minutos de conversa, as desfazem. E, quando você olha para trás, você acaba pensando: É, eu fui tolo. É, eu realmente poderia ter feito isso de uma forma melhor.


Contudo, nunca faltará tempo para se consertar um erro.


Existem momentos em que engolir o orgulho e trocar um olhar mal-encarado por um sorriso e um “Ei, que tal a gente tentar fazer isso certo dessa vez?”, surtem muito mais efeito. Rezar para a primeira estrela como um hábito é um literário modo de dizer que você deve expressar seus desejos por atos, e não por pensamentos. Porque, procurar entre os céus do entardecer por algo que está dentro de seu coração, é algo tão difícil que raramente atingimos.

Tão duro, que é, realmente, o que causa estas tantas brigas e desentendimentos sem final feliz.


Este ano, eu vi gente tão próxima de mim discutindo bobeiras. Talvez essas bobas contrariedades de idéias sempre aconteceram, mas só esse ano eu pude notá-las com mais clareza. Vi eles apontando os erros entre si, tentando botar a culpa no outro e conter a razão para si. E nunca me doeu tanto ver, no meio disso, os que se machucam sem querer, por simplesmente observar. Não perceberam, tão facilmente, que acima de atos errados e de errados comportamentos, todos se movem para um bem em comum.

Que todos ligam para as mesmas coisas. Que, sobre tanta discussão boba que nada gera além de mais desavenças, existem os laços fraternos. Que eles nasceram e cresceram como pilares, pilares que sustentam algo tão bonito que é a família ou um grupo de jovens. Nunca antes eu pude perceber que, trocar palavras agressivas ou palavras contidas por palavras amáveis fosse tão importante.



Hoje, eu me orgulho de tentar dividir minha amizade com o máximo de pessoas possíveis. De tentar mostrar para os outros, através de minhas Rezas para as primeiras estrelas, que por trás de impressões e pensares, geralmente existem boas pessoas.







IV Sobre o futuro. Sobre vida e morte.


Tanto na tristeza,

quanto na alegria;

Costume lembrar-me

daquele sorriso.

Vou vivendo com a esperança

de encontrá-lo,

Um dia, quando você me avistar,

do seu lugar.




Eu ainda me pego pensando sobre o que vai ser do meu futuro, e costumo compará-lo com o que eu imagino ser meu futuro e o que eu desejaria que fosse meu futuro. São três modos de pensar, que, eu garanto, serão sempre bem diferentes um do outro. Como sempre, brota-me um sentimento de medo. Afinal de contas, quem nunca teme o desconhecido?

É hipocrisia dizer que não. Talvez ignorância. Contudo, algumas coisas já estão lá, prontas para mim. Existem certos sentimentos que conseguem quebrar a barreira do tempo, coisas que vão te manter no seu caminho. Coisas que aconteceram, hoje você sente as consequencias de terem acontecido, e sabe que, futuramente, continuará a sentir.


O fato é que o futuro nunca acabará.


E, no fundo, você espera pelo dia tão idealizado por você. Eu, ao menos, ainda aguardo alguns momentos, alguns que eu torço para que aconteçam. Isso é o que chamamos de Sonho. Eu já tive, sim, a oportunidade de encontrar várias pessoas, com vários sonhos. Alguns tão simples, e outros, tão grandes e poderosos. Mas, nunca, descartáveis. Desistir de um Sonho é quase como deixar de lado uma parte de sua alma, uma parte de seu ser.

São minhas esperanças para o futuro que me moldam adiante. Mais que o medo, eu notei o quanto é necessário haver a expectativa pelo que irá bater na sua porta. Porque, cedo ou tarde, você já bem sabe que a única certeza absoluta virá, com braços gelados e aconchegantes, te levando deste mundo para algum outro lugar. E isso não pode ser encarado apenas como um terror.


Também, e mais importante, isso deve ser encarado como uma premissa, uma motivação para você, ainda mais, buscar por aquilo que procura. Não, eu não digo para você largar sua vida e todo o resto e correr atrás dos seus sonhos loucamente. Mas, digo que, parar de procurá-los devido ao seu grau de dificuldade, é extrema tolice.

Uma pessoa de grande valor partiu de minha vida, e para eu continuar vivendo na esperança de encontrá-lo, eu só preciso persistir na minha caminhada. Eu começo a notar que sempre haverá algo daqueles entes amados naquilo que alcançamos, esta é a forma de encontrá-los no futuro, nos atos rotineiros e nos atos marcantes. Essa é uma hora de se agradecer. Um momento em que você percebe que seus Sonhos, na realidade, não são só Seus. Que eles são idealizados por você, contudo, recebem sustentação de todos a sua volta.


Nunca deixarei as conquistas de lado. Sejam as que já vivenciei, as que vivenciarei ou as que estou vivenciando. Tudo isso para que, um dia, quando você me avistar, do seu lugar, eu saiba que deixei para trás apenas sorrisos, risos e sonhos concretizados. E para que, de lá, eu possa observar meus amados; tanto na tristeza, quanto na alegria.








V Sobre amizades. Sobre familiares.


Tanto no sol, quanto na chuva;

Consigo lembrar daquele sorriso.

As memórias estão remotas

e desbotadas.




Novamente, eu tentei me recordar de todos os amigos que eu já tive; novamente, eu percebi o quão árdua é esta tarefa. E também o quão difícil é definir um amigo; seria ele apenas aquele cara de uma ou duas conversas confortáveis? Ou seria ele aquele rapaz de anos à finco bem ao seu lado? Dizem que amigos são aqueles que o acompanham nos bons e maus momentos. Eu, já começo a duvidar disso. Divido sorrisos, divido memórias com pessoas que só me conheceram na felicidade. Não as culpo por isso, eu gosto de reter meus problemas, de guardá-los só para mim. E, mesmo assim, elas continuam lá, me dando risadas, me dando momentos tão felizes e recordáveis.

Eu noto como minha vontade de ajudar aqueles me cercam já me dera tantos bons amigos. E como uma simples música bem cantada às vezes nos instiga a coisas tão maiores. Nestes momentos, noto que não é o tempo que faz uma amizade. Talvez, nem mesmos as conversas. Aquilo que realmente monta os laços tão fortes com aqueles a sua volta, é um simples tocar de almas. Uma relação que vai bem além de materialidade.


Consigo lembrar daquele sorriso. Consigo lembrar daqueles bons momentos juntos. Ou, simplesmente, consigo lembrar daquela pessoa. Muitas vezes, isto basta como um consolo; saber que tanto já se passou e que talvez tanto ainda está por vir. Queridos amigos, já pararam para perceber como que, muitas vezes, ao chegar no clube, a recepção é sempre tão calorosa? Da próxima vez que entrarem, notem. Notem como os atos corriqueiros podem se tornar tão importantes. Como um simples “Olá!” algum dia pode te fazer uma tremenda falta.

As pessoas não deviam viver no passado, é suficiente viver no presente. O fato de eu estar viva é uma coisa tão encantadora e maravilhosa que me faz querer viver mais e mais. São frases que eu retirei do Drama Japonês Ichi Rittoru no Namida, ou, em português, Um litro de lágrimas, baseado em fatos reais. São frases ditas por uma pessoa que tinha deficiências físicas extremas, por uma pessoa que já sabia que sua doença não tinha cura, e que ela só se degradaria mais. E mesmo assim, a força dela é tanta que me fez retratar aqui um pouco disso.

Será que realmente é preciso reclamar tanto das coisas erradas, quando existem tantas coisas certas perto de você?



Da última vez que escrevi algo desse estilo eu falei bastante sobre minha família. Sobre uma variabilidade de coisas enormes que pensei sobre eles. Agora, eu apenas deixo aqui uma pergunta: Você está dando a eles o devido valor? Às vezes fica fácil criticar essas pessoas tão próximas por um pequeno deslize, por um ato que você declarou como errado ou por uma atitude rígida demais frente as suas ações. Mas isso importa?

Eu aprendi muito nesse último ano. Talvez por ser o único neto que ainda está próximo da minha avó. Talvez por notar cada vez mais o quanto meus pais se sacrificam por mim. É apenas uma questão de pensar um pouquinho que você nota estas coisas todas.








VI Sobre vocês.


Por sentir a falta de você,

Ainda derramo lágrimas.

Por querer encontrá-lo,

Ainda derramo lágrimas.




Esse ano, meu avô faleceu. Talvez seja ele a figura de quem mais me lembrei durante cada palavra que escrevi nestas seis páginas. Sempre que precisar, me chame. Foi isso a última coisa que ele me falou, alguns dias antes. Eu guardei essas palavras pra mim, por elas representarem uma dantesca relação de coisas que já passaram na minha vida. Mas, eu percebi que, só guardá-las, não é o suficiente. Essas letras tão simples, ditas num português difícil de ser expresso, exemplificam o quanto essa pessoa tão importante para mim era para aqueles a sua volta.

De sorriso simpático, De criatividade gigante, De espírito livre.

Agora, bom, é isso que tento passar para vocês.

Cada um destes capítulos foram feitos com todo o meu capricho, tentando expressar em palavras cada parte de meus sentimentos, tentando, ao menos um pouco, mostrar que a vida às vezes é muito mais do que parece ser. Ou que ela pode ser muito mais do que ela está sendo. Disse e repeti inúmeras vezes o quanto engolir o orgulho e aceitar as pessoas, às vezes, pode ser gratificante.


Contudo, este não é um escrito só meu.


Conto quantas vezes eu já pude dar risadas com amigos de anos, quantas vezes eu já tive de consolar uma amiga com problemas, quantas vezes conversei com amigos entre uma música e outra, quantas viagens já realizei para a casa de minhas tias e, até, quantas vezes já comi o bife à milanesa da minha avó. Novamente, minha capacidade matemática não chega aos pés dos atos que já vivenciei. E tudo isso, porque vocês estavam lá. Tudo isso porque, às vezes uma simples troca de palavras já me arrancava um sorriso; ou um treino físico de matar me fez gargalhar de minha própria resistência. E tudo isso, porque vocês estavam lá.


Caso vocês tenham recebido estes papéis, ou caso ao menos tenham lido isso no meu blog; vocês já podem ter certeza que fazem parte da minha vida, que já pensei em vocês enquanto escrevia todas estas linhas. Que já me moldaram a personalidade, o humor, o dia. Contudo, aqui, eu faço uma nota especial: Alguns de vocês estarão recebendo estas folhas dentro de envelopes. Vocês, a quem enderecei especialmente uma das cópias de meus escritos, eu gostaria que refletissem realmente sobre as linhas escritas. Porque, para vocês, estas linhas guardam muito mais que uma mensagem para a vida, elas levam para si um pedido. Um pedido meu, guardado nas entrelinhas das palavras escritas. Qual é, exatamente, o pedido? Podem ter certeza que pessoalmente eu nunca direi. Contudo, com um mero esforço vocês podem identificá-lo.

Por terem lido tudo, até aqui. Ou até mesmo para os que passaram os olhos pelas palavras, deixo aqui, neste fim ou começo de ano, um muito obrigado. Não por se darem ao trabalho de apreciarem meu trabalho, mas sim, por fazerem parte da minha vida.


Abraços e Felicidades.

E, aproveitando as mensagens das palavras de meu avô.

Sempre que precisar, vocês podem me chamar.

Eu, farei o possível.









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O Poema é a letra de uma música japonesa chamada "Nada Sou Sou".

Caso queiram ouvi-la, o link de youtube para ela é Este, a canção veio da banda Okinawana BEGIN, e, querendo ou não, tanto pela sua letra poética, quanto pela sua história na minha vida - meu avô gostava muito dela, e sempre desejou que eu a cantasse -, ela se tornou uma canção importante na minha vida. Espero realmente que a postagem seja de bom grado a todos. Feliz Festas.

Leia até o fim...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Penas e Cera

ㅤㅤI Sobre a Nostalgia.

ㅤㅤ – Vou repetir: Largue o controle com calma, coloque as mãos sobre a nuca e deite! Armas estão apontadas para você, qualquer mínimo movimento e leva um tiro no meio da testa, rapaz! - Falou pelo Microfone. A voz ressoou por todas as caixas de som do estádio.
ㅤㅤ Contudo, o homem parecia não responder às falas em Inglês transbordado de sotaque brasileiro. Quem diabos era aquele homem? Ícaro franziu o cenho, a feição daquele ser lhe causava arrepios, gostaria de mandar seus homens atirarem nele, mas os riscos eram muitos.


ㅤㅤII Sobre o Passado.

ㅤㅤ Os grandes campos de vegetação rala, que cercavam aquela dantesca floresta, se mantinham por milhares de quilômetros. Grunhidos guturais e a terra que constantemente tremia serviam de avisos para mostrar para qualquer um que, quem ali habitava, conquistara seu direito para tal após anos de sobrevivência no primitivo. Entretanto, aquele dia estava calmo; talvez até mesmo as formas de vida irracionais sabiam da grandiosidade do que ocorreria.
ㅤㅤ Ao longe, as batidas fortes das asas contra o vento começavam a ser ouvidas ao tempo que a sombra colossal cobria grande parte do verde rasteiro. A silhueta finalmente pôde ser vista no horizonte, cativando a visão, audição e olfato de seus habitantes naturais.
ㅤㅤ Os olhos gigantes e a feição aterrorizante do escamoso cretáceo se inclinavam para os céus, aquele pássaro ele nunca tinha visto na sua vida não tão longa. E logo ele, que reinava naquelas terras, sentira-se enormemente ameaçado.
ㅤㅤ Leves e hesitantes passos foram dados, aproximando-se dele pelas costas, e rapidamente o Carcharodontossauro torceu o pescoço, rugindo com agressividade para sua parceira e proles. Exigia que se afastassem, que não buscassem a sombra que crescia no horizonte tanto quanto ele mesmo buscava. E, obedecendo ao rugido dominante, os filhotes recuaram em passos apressados, seguidos pela mãe, enquanto o Carcharodontossauro voltava o olhar para cima.

ㅤㅤ Agora os fortes movimentos aéreos podiam ser ouvidos claramente, cada batida de asas parecia soar como o ribombar de um trovão. Sentindo-se cada vez mais ameaçado pela nova e peculiar figura, o Dinossauro Rei rugiu na direção da silhueta negra; mas o monstro rugiu em resposta; mais alto, forte e agressivo. Aquele ser finalmente aproximava-se de modo que a parva visão do Rei pudesse distinguir mais do que sombras:
ㅤㅤ De pele dura como a do próprio Carcharodontossauro, o Dragão tinha escamas que se encontravam paralelas umas as outras numa simetria encantadora. Cada pequena parte do nobre ser parecia ter sido talhado cuidadosamente, garantindo a ele um porte de soberba e superioridade perante a qualquer outro ser existente. As asas começaram a diminuir a constância dos movimentos, pouco a pouco, o gigante vermelho começava a projetar seu corpo na direção do solo.
ㅤㅤ Ao contrário do esperado, o pouso foi suave e ensaiado. O Dragão pôs-se diante do Carcharodontossauro, erguendo eu largo e forte pescoço para colocar sua face acima da do Rei. Um silêncio mórbido fez-se presente, só sendo quebrado por passos agitados e nervosos do Dinossauro que encarava a criatura lendária com grunhidos e leves rosnados. Mas o Dragão apenas se mantinha obstante, seus olhos de um forte vermelho demonstravam que ele detinha de uma alma poderosa e de uma capacidade ilimitada de poder.

ㅤㅤ Não demorou muito para os outros seres finalmente saírem de suas tocas, formando uma roda de animais centralizando o Dragão. Mais do que instintos selvagens de sobrevivência, os grandes répteis e aves pareceram subitamente minados de curiosidade. A Presença mágica do Dragão parecia fazer com que seres que, antes, não tinham a capacidade de interpretar, agora estivessem cheios de personalidades próprias.
ㅤㅤ Velociraptores pareciam discutir entre si falando rápido – em grunhidos – e saltando uns nos outros. Triceratops ranzinzas resmungavam e cochichavam – também em grunhidos e rosnados – sobre a falta de liderança do grande Carcharodontossauro. Do outro lado, próximo ao oceano que ficava mais adiante, Pteranodontes agitavam suas asas e guinchavam como se fofocassem. E mesmo assim, o Dinossauro Rei permanecia bufando e andando de um lado para o outro, sempre encarando o Dragão com a feição de que ele fosse uma ameaça, agora não só para sua prole, mas para todo o mundo cretáceo – não que definisse isto em nomes.

ㅤㅤ Por fim, após minutos torturantes, o Dragão bufou pesadamente enquanto seu olhar não parava de encarar os do Carcharodontossauro. Abriu suas asas com força e levantou seu corpo, de modo a crescer bruscamente sobre as duas pernas traseiras, rugiu com força para o Dinossauro Rei, era a última tentativa.
ㅤㅤ Todos os répteis, mamíferos e outros seres direcionaram seus olhares para que o seu representante iria fazer. E naquele instante o próprio Rei notou que todos aqueles seres fariam o que ele faria. Que, se avançasse contra o Dragão, os outros também avançariam. Era o que devia fazer. Ao longe, sua prole firmava-se oculta entre largas árvores da floresta e rochedos da planície; após um último olhar para eles, virou-se para o invasor com o cenho irritado e rugiu avançando alguns passos na direção dele. Incitando toda a horda primitiva, o Carcharodontossauro comeu algumas dezenas de metros avançando na direção do Dragão enquanto disparava rugidos e gritos colossais.
ㅤㅤ O olhar rubro daquela nobre existência pareceu agradar-se com a ação e desceu sobre as quatro patas novamente, fazendo o chão tremer e avançando alguns passos na direção do Rei, rugindo temível e agressivo. A terra tremeu e o urro dracônico calou todos os presentes, cessando também a breve caminhada do Rei. Os olhos corajosos do Carcharodontossauro se esvaziaram da agressividade e foram substituídos por puro medo; recuou alguns passos enquanto ouvia mais rosnados bruscos e altos do Dragão. Olhou a volta: Alguns dinossauros e animais que avançaram quando ele avançou pararam suas marchas também, fariam como o Rei faria.
ㅤㅤ E, por fim, o Rei acabou fugindo covardemente em passos apressados, levando consigo sua prole. Deixou para trás guinchados e ruídos turbativos de seu reino cretáceo, seus antigos súditos agora riam de sua falta de coragem.


ㅤㅤ Parando frente aos que ainda permaneceram para ver o que aconteceria, o Dragão mostrou decepção, não era para terminar daquela forma. Recolheu as asas e fechou os olhos por um segundo enquanto sua face dura e concisa tocou o solo, estava refletindo. Finalmente, levantou a cabeça, os olhos mostravam determinação.
ㅤㅤ Logo em seguida, ergueu-se para os céus e rugiu alto, como se suas rústicas cordas vocais chamassem por algo. Aquele som ensurdecedor foi o suficiente para que mais dos animais que presenciavam a cena fugissem, fazendo restar ali apenas os mais curiosos.
ㅤㅤ O olhar do nobre ser continuava para cima, até finalmente poder distinguir no céu aquilo que buscava, aquilo que respondera ao seu chamado. Uma estrela cadente? O pedaço grosso e incandescente de rocha caía dos céus, perfurando todas as barreiras atmosféricas. O Dragão bem sabia, que caso o Rei continuasse em sua marcha de combate, ele sairia vitorioso contra o ser de escamas vermelhas. Sairia vitorioso e reinando sobre criaturas agora dotadas de personalidade e espírito. Mas, falhara.


ㅤㅤIII Sobre o reencontro.

ㅤㅤ Ninguém ainda sabia como aquele homem surgira ali, no meio do novo estádio do Corinthians, em plena abertura da Copa de 2014. Era inexplicável como, no meio do discurso da valorosa presidenta Dilma, um homem albino vestido em terno Hugo Boss e de sapatos Mocassim aparecera bem ao centro do palco. Identificações e fiscalizações armadas e de última tecnologia haviam sido feitas em todas as entradas para o estádio, toda a competência da polícia federal e do exército brasileiro foram postas em xeque por causa da súbita aparição.
ㅤㅤ Quão mais fácil seria caso ele fosse simplesmente um homem bem vestido e penetra.
ㅤㅤ Sentado sobre uma grande maleta prateada, o homem segurava na mão direita algo que parecia um controle remoto, com um grande botão vermelho bem ao centro. Fora a partir daquele momento que toda a situação colocou no comando das operações de segurança o Capitão Ícaro, das forças especiais anti-terroristas. Homem grisalho de porte duro e agressivo, Ícaro já se deparara com inúmeras situações de risco. Mas aquela era a primeira vez que sua carreira – e, por que não, toda sua vida – estavam em jogo de maneira tão arriscada.
ㅤㅤ Ele, o misterioso, só abriu a boca uma vez, para dizer em Inglês Britânico:
ㅤㅤ – Ninguém entra ou sai. Ninguém se move. Ou eu faço tudo explodir.
ㅤㅤ E não houve tempo para tentar rendê-lo, a mão dele já estava sobre o botão vermelho.


ㅤㅤ – Vou repetir: Largue o controle com calma, coloque as mãos sobre a nuca e deite! Armas estão apontadas para você, qualquer mínimo movimento e leva um tiro no meio da testa, rapaz! - Falou pelo Microfone. A voz ressoou por todas as caixas de som do estádio.
ㅤㅤ Contudo, o homem parecia não responder às falas em Inglês transbordado de sotaque brasileiro. Quem diabos era aquele homem? Ícaro franziu o cenho, a feição daquele ser lhe causava arrepios, gostaria de mandar seus homens atirarem nele, mas os riscos eram muitos. Já sabia, sim, que não era nenhum radical islâmico, caso contrário, a explosão já teria ocorrido, e Pelé e Dilma não mais estariam entre os vivos. Caso ele apertasse o botão e a suposta bomba realmente explodisse, ele também morreria, o que levava todos a crer que ele pouco ligava para a própria vida. Contudo, mesmo os tiros mais certeiros ainda dariam tempo para o homem pressionar o botão, o que fazia Ícaro tentar o que era mais óbvio: Ganhar tempo. Em breve as forças especiais e alguns enviados da CIA e Interpol trariam notícias e planos bem mais avançados do que os que os brasileiros tinham para a segurança da Copa.
ㅤㅤ Mas, quanto tempo demorariam?
ㅤㅤ Ícaro novamente via-se tentado a dar a ordem. Havia uma chance, caso seus atiradores acertassem no meio da testa e no braço ao mesmo tempo. Seus dedos tamborilavam no teclado enquanto pensava no que fazer. Ao seu lado, toda a equipe técnica pronta para digitar e soltar ordens, estavam a algumas centenas de metros do Estádio. Mas, o fato do invasor estar olhando diretamente para a câmera fazia com que Ícaro tivesse a sensação de estar ali, a menos de dois metros dele.
ㅤㅤ Ele tinha um ser de superioridade e soberba, e provavelmente, caso estivesse vestido em trajes nobres, poderia ser dado como um príncipe herdeiro de algum alto cargo simbólico de algum país europeu. Um sorriso sereno e sábio estava formado em seus lábios, o olhos de íris azuis penetravam dentro da alma de Ícaro. Permaneceu naquele silêncio por alguns segundos, até finalmente os lábios do desconhecido se mexerem, deixando sua voz ressoar em português:
ㅤㅤ – Quase lá. - Disse. - Mas, você falhou novamente.
ㅤㅤ O anjo da renovação deixou de encarar o espírito do escolhido que poderia fazê-lo mudar de idéia. Soltou o controle com leveza, para no instante seguinte levar um tiro no meio da testa e cair para trás. Mas os olhos estavam abertos e o sorriso se mantinha face. Ele olhava para o céu, onde uma estrela cadente parecia surgir.
Leia até o fim...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Criatividade!

Criado. Criatividade. Criativo!
É sentado no suor que te espero
Envolto no glorioso mito,
De prateleiras do ursinho materno.

Criando. Criarei. Crias!
Expresso-me puro, só por você
São letras, de palavras minhas
Mares, céus, emboladas pra quem lê!

Criei. Criação. Criais!
Salto louco para aquelas montanhas
Metas dos olhos, novos ideais!
Expurgo as idéias, leituras castanhas!
Leia até o fim...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Postagem Descontraída e Selos

Então, gente, já entrando no ritmo de fim de ano. Resolvi fazer uma postagem mais light. Ou, pelo menos, é uma postagem que não receberá literariedade explícita. Ainda esse ano, eu postarei aqui minha última postagem, uma postagem em que eu não serei narrador nem poeta, serei apenas eu, o Tadashi aqui! É algo que eu resolvi ter o costume de fazer em datas que, de certa forma, contribuem para que eu possa refletir tanto. São seis páginas de Word - então, Mansim, desculpe desde já! rsrs - em que coloco um baita sentimentalismo que eu sempre tenho guardado comigo.

Eeeenfim, esses dias aí, eu recebi, da Marina do Devaneios, dois selos. E, bem, não posso negar que fiquei largamente feliz por ela ter escolhido justamente a mim para enviar. Uma vez que isso é mais do que prova que seu trabalho fora reconhecido! Então, muito obrigado mesmo, Marina! E, bem, aqui vão os Selos:



Conforme o que o Selo Dardos pede:
1. Mostrar a imagem.
2. Mostrar o link de quem o enviou.
3. Indicar outros Blogs, sem limites.

Deixo aqui, então, meus convites para:
Cantinho da Silene
Ventando...
Verdades e Bobagens
Mil Faces da Loucura
Estou numa Ilha Deserta
Contos Franqueados
Apartamento 404


E o selo:



Que pede para dizer 10 coisas de mim:
- Apaixonado por Música
- Treino Karate faz mais de 10 Anos
- Sei fazer truques de mágica com Baralhos
- Amante de épico-ficções
- Consigo estalar meus dedos a qualquer hora! (rs)
- Coleciono Marca-páginas
- Apaixonado por Cultura Okinawana
- Eu tenho descendência Okinawana( Okinawa = Ilha ao sul do Japão )
- Meu cachorro se chama Pokemon, e o nome foi escolhido por meu pai.
- No teto do meu quarto, está grudado um amoeba, faz uns 10 anos.

O mesmo selo pede, também, que eu indique 10 Blogs. Contudo, eu não tenho um ramo tão grande de leitura entre os blogs, rs. Então, me resta poder dizer que indico para este selo os mesmos que indiquei para aqueles ali, logo acima! :D
Leia até o fim...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Relatos Mirins - Reeditado

ㅤE ainda vale a pena ressaltar a genialidade infantil.
ㅤ – Filha da Puta?
ㅤ A funcionária parou o que estava fazendo.
ㅤ – É, ué. - Respondera o garoto.
ㅤ – Por que me chama assim?
ㅤ – Mas, seu trabalho não é colocar preço nas coisas?
ㅤ – Quase sempre, é sim. O que é que tem?
ㅤ – Então! Meu pai sempre te chama de filha da puta.
ㅤ – Mas eu nem conheço seu pai!
ㅤ – Mas eu acho que ele te conhece bem, fala de você toda hora. Qual seu nome?
ㅤ – Evellyn.
ㅤ – Ah, desculpa, acho que confundi. - Dizia, observando o resto o mercado. Como se tentando achar alguma velha gorda chamada Inflação colocando frangos congelados nas prateleiras refrigeradas.
ㅤ Mas confundir termos com realidade ainda é algo bobo e fácil de se corrigir.
ㅤ – Desculpa, moça, ele acaba entendendo errado o que a gente fala por aí. Sabe como é né? Crianças.
ㅤ Pior é quando vem aquela pergunta tão matadora para seus progenitores.
ㅤ – Mãe! Como é que eu nasci?
ㅤ Deixando de lado todas as cegonhas e repolhos do universo, sempre há aquele:
ㅤ – Pergunta para o seu pai. Estou ocupada.
ㅤ – Não sei, vê lá com sua mãe, Guri.
ㅤ Como se seus pais conspirassem na tentativa de gerar um novo acelerador de partículas, botavam o filho no maior loop infinito de sua vida; enchendo a mente do pobre coitado com todas as mentiras possíveis, desde uma novela nos capítulos finais que não poderia ser interrompida pela irritante voz aguda do moleque, até os desvios clássicos.
ㅤ – Não tem tarefa pra fazer, não?
ㅤ Ou, quem sabe:
ㅤ – O Papai te conta depois, tá?
ㅤ E assim a mente hiperativa do garoto permanecia naquela utopia mágica, quem sabe não tivesse sido encontrado na frente de casa num cesto de madeira? Olhava-se no espelho constantemente, procurando por ali uma marca de raio feita por mago malvado, ou talvez olhava para o céu antes de dormir, pensando que seus verdadeiros pais estivessem salvando planetas e aguardando para que ele crescesse.
ㅤ É toda essa brincadeira maldosa que molda os filhos para seus atos espertinhos, anos mais tarde. Como se deixar o termômetro encostado na lâmpada fizesse a mãe acreditar que estava com febre e não poderia fazer aquela bendita prova de ciências.
ㅤ – Mas olha, mãe, tá marcando 38!
ㅤ A mãe vinha com aquele ultimato, pior que os avisos do BOPE antes de acabar com a graça dos traficantes:
ㅤ – Levanta logo ou eu chamo seu pai, heim!
ㅤ A figura do simpático Seu Joaquim se distorcia na mente do menino – ignorando todos os presentes de natal atendidos, cujo agradecimentos, infelizmente, se voltavam para o velhinho de roupa vermelha, assim como todos os doces comprados sem que a mãe soubesse. Subitamente a silhueta idealizada tinha cinco metros a mais de altura, largura, espessura; carregava um grande chicote de couro numa mão e na outra um machado idêntico ao que o garoto vira
ㅤ Dali, era um único salto para abandonar a cama.
ㅤ O menino ia para o colégio e causava a maior tragédia mundial:
ㅤ – Colando, filho? Não foi isso que eu te ensinei!
ㅤ Mas pouco ligava para mãe, tremia mesmo era para a imagem do carrasco Joaquim se materializando novamente, agora montado no dragão novo que apareceu no Bakugan e seus amigos lhe contaram durante a aula, antes da prova.
ㅤ Todavia, pior do que tudo isso, é quando o garoto tenta se endireitar.
ㅤ Geralmente, tudo acontece para provar que ele continua sendo o moleque pimentinha do bairro, mostrando toda a verossimilhança da Lei de Murphy. O menino se depara com a cartinha especial e brilhante – praticamente irresistível! – que o amigo deixou cair quando ia embora; ou, ele se vê de frente para o pacote de bolachas que a empregada, Dona Soraia, ingenuamente deixara sobre a mesa, aos ávidos alcances dos braços do menino.
ㅤ Não demoraria dois minutos para o amigo voltar com os pais e dar de cara com o garoto batendo bafo com a cartinha brilhosa. Não demoraria dois segundos para seus pais voltarem para a cozinha, dizendo que esqueceram de pegar a lista de compras, só para se depararem com ele com a mão na massa – ou na bolacha.
ㅤ Quando tudo isso não acontecia, a coisa ficava séria:
ㅤ – Conta pra gente, filho o que está acontecendo?
ㅤ E aí, começou! O garoto vira o anjo da família, e, em troca, os pais fazem uma busca desenfreada pelo que está errado, como se devesse, por natureza, ser uma peste. Câmeras para ver se a Dona Soraia não batia nele, visitas ao colégio em busca de pedófilos ou mal-encarados, e, no fim, termina sentado num divã. Um homem de óculos e cabelo penteado milimetricamente lhe mostrando um monte de borrões escuros e lhe pedindo para ver o que via, como se ele fosse cego.
ㅤ Desistia! Que os pais sofressem porque a puberdade estava chegando!
Leia até o fim...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Relatos Mirins - 1

ㅤ – Filha da Puta?
ㅤ A funcionária parou o que estava fazendo.
ㅤ – É, ué. - Respondeu o garoto.
ㅤ – Por que me chama assim?
ㅤ – Mas, seu trabalho não é etiquetar os preços?
ㅤ – Quase sempre, é sim. O que é que tem?
ㅤ – Então! Meu pai sempre te chama de filha da puta.
ㅤ – Mas eu nem conheço seu pai!
ㅤ – Mas eu acho que ele te conhece bem, sempre fala de você. Qual seu nome?
ㅤ – Evellyn.
ㅤ – Ah, desculpa, acho que confundi. - Disse o menino, olhando o resto do mercado. - Quem é a Inflação por aqui?
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sábado, 4 de dezembro de 2010

O Natal de Ariadne Leverson e a Greve Surpresa

I
ㅤ ㅤㅤ

ㅤ – Até amanhã, Sr. Reuben.
ㅤ Foi desta forma que Ariadne Leverson se despediu de seu funcionário. Era noite de natal, e provavelmente aquele jovem trabalhador não gostava nem um pouco da alma avarenta de sua patroa. Mas, que mais se podia dizer? A velha senhora viúva que levava os negócios do falecido marido nas costas sempre tivera a mesma fama. Era ela a mulher de poucos amigos e muitos bens, que nunca realizara um ato de bondade na vida, senão doar algumas moedas para a igreja – numa paca tentativa de salvar a sua alma.
ㅤ Nunca ligara para o natal. Não era algo que lhe interessasse, não moralmente falando – afinal de contas, não poderia negar que a época do ano vinha a calhar para seus negócios. Reuben Naylor sabia que nunca seria presenteado com um peru de natal, mas já aceitara o fato, e apenas dava graças ao nosso senhor salvador por lhe dar um emprego digno por mais um ano de vida.

ㅤ Sra. Leverson entrou em casa tremendo, logo se desfez do casaco de peles para aceitar o calor que vinha da lareira da sala. Seu valoroso mordomo, Owen Garfild, surgiu no saguão de entrada para ajudar-lhe com a pequena bolsa e ademais pertences. Ela o cumprimentou com um sorriso paco e um leve meneio de cabeça.
ㅤ – Ah, Owen, meu bom Owen! Não sabe como o frio me deixa em frangalhos.
ㅤ – É comum desta época do ano, Sra. - Ele disse, inflexível como todo bom mordomo teria de ser.
ㅤ – Compreendo. É como se o natal e toda esta baboseira conspirassem contra mim. Nota como todo ano, nesta época, o inverno se torna mais intenso? Ah, Owen! Nem mesmo meus melhores vestidos de seda posso usar, sempre me atendo com estes casacos pesados.
ㅤ – Caso a Sra. instalasse um aquecedor no seu escritório, Madame - Disse o careca Garfild - Talvez pudesse usar de seus vestidos.
ㅤ – É realmente uma boa idéia. - Ela disse, os passos se direcionando para a sala. - Mas deixemos para pensar nisso um outro dia, Owen. Só desejo jantar e subir para meu quarto.
ㅤ – Como quiser.
ㅤ O jantar fora silencioso como sempre fora. E Ariadne subiu para o quarto, cansada de seu trabalho, mas já sabendo que haveria mais itens a se resolver no dia seguinte. Com uma lembrança boba que lhe viera na memória – logo após passar pela janela e observar de lá uma grande árvore de natal – a senhora riu sozinha, pensando se naquele ano eles viriam visitá-la.

II


ㅤ A euforia e as vozes se faziam cada vez mais altas no recinto luminoso. Se é que se podia dizer que aquele local era um recinto, ou mesmo uma construção. Apenas havia branco para tudo quanto é lado; e o chão, a parede e teto se mesclavam numa cegante luminosidade.
ㅤ Quebrando a calma e a harmonia daquele lugar tão belo, estavam eles: De todas as formas e tamanhos, de todos os jeitos e desjeitos. Alguns vinham em forma de espírito, e flutuavam com asinhas de anjo nas costas, havia também aqueles que ainda adotavam o estilo antigo, carregando foices enquanto acobertados por mantas negras. Grande parcela até mesmo tinha se modernizado, um usava um terno de cetim e uma gorda tentava ocultar suas protuberâncias dentro do glorioso vestido vermelho de seda oriental. A mescla de estilos e cores faziam o salão mais parecer o famoso carnaval brasileiro que começava a ganhar fama mundial.
ㅤ – Com calma, Senhores! Com calma! - Dizia um velho barbudo sentado numa cadeira imaginária. As roupas vermelhas e a pele alva em mescla com as bochechas rosadas mostravam claramente quem era a figura. O Papai Noel, depois de alguns segundos de insistência, finalmente conseguiu silenciar a multidão. - O que é, este ano?
ㅤ – Continuamos trabalhando no natal! - Reclamou uma voz aleatória, que recebeu o apoio de outros.
ㅤ – Ainda não recebemos nosso bônus pelas horas extras!
ㅤ Mais consentimentos.
ㅤ – Será que não poderíamos trabalhar num horário mais oportuno? - Falou uma terceira voz, um tanto mais insegura que a dos outros. - É tão embaraçoso ter de acordar as pessoas no meio da noite. Sabia que algumas delas dormem despidas?
ㅤ Desta vez, ninguém se manifestou a favor.
ㅤ – Enfim, nós queremos recobrar nossos direitos! - Disse novamente o primeiro que tinha levantado a voz.
ㅤ Noel deu um longo suspiro e coçou as sobrancelhas grossas com seus dedos enluvados de couro. A parte fácil de entregar alguns presentes pelo mundo valia muito bem a pena. Não, era mais do que óbvio que ele não descia de chaminé em chaminé para colocar presentes. O que realmente fazia era despejar o espírito natalino sobre as casas, e deixar que eles cuidassem do resto. Infelizmente, sempre haviam os mal-encarados. Seres que nasceram para repelir de suas almas, o bom gosto do velhinho vermelho. E para isso existiam aqueles senhores ali. Contudo...
ㅤ – Mas, pelo amor de deus, vocês são os Fantasmas da noite de Natal! Vocês trabalham no natal. Só na noite de natal! - Disse o Noel.
ㅤ A legião de fantasmas, espectros, espíritos e almas levantou novamente a voz de uma única vez, causando uma nova pontada de dor de cabeça na mente do bom velhinho. Santo Nicolau pressionou as têmporas com os dedos indicadores, numa tentativa infeliz de calar as vozes na sua mente, já bem bastavam as marteladas da Senhora Noel, toda noite.

ㅤ – Os fantasmas do Presente deveriam receber mais. - Disse um parrudo de pele amarela brilhosa, vestido como um pirata. - Passear pela cidade numa noite tão fria é certamente bem mais trabalhoso e desgostoso.
ㅤ – Ora! - Um anjinho do tamanho de um bebê levantou-se, ele irradiava em luz azulada. - E quanto a nós do Futuro? Garanto que avançar no tempo é bem mais cansativo.
ㅤ – Além do mais, é um futuro incerto! - Levantou-se em pleno ar um companheiro anjinho. - Fora as lamentações! Vocês são sortudos de não terem de ouvir os choros e súplicas dos bastardos! Nós que ficamos por último que sempre sofremos.
ㅤ – Ao menos, quando vocês entram em cena as pessoas já estão prontas - Disse, ao que parecia, a mesma voz que comentara sobre pessoas que dormem despidas. - Não é nada bom visitar a Sra. Lounge depois que ela venceu o campeonato de mais comilona de panquecas da cidade.
ㅤ E mais uma vez começou o bate-boca espectral, que nada se diferenciava de um humano. O velho Noel pressionou com ambas as mãos o couro cabeludo grisalho, em mais uma fula tentativa de conter as vozes. Se havia algo ruim em ser imortal, era o fato de que você teria de viver toda a eternidade com a enxaqueca. Já estava quase a ponto de se comprimir em posição fetal na sua pseudo-poltrona, quando estourou os limites da paciência e levantou-se da cadeira num ato raivoso com um grito quase gutural. A horda de fantasmas se calou e direcionou os olhares para o bom velhinho.

ㅤ – Mas que – desculpe, Senhor – diabos vocês pensam que estão fazendo!? Ora, vocês são fantasmas da noite de natal, deveriam trabalhar para reavivar o espírito natalino dentro da alma daqueles que a rejeitam. Mas o que eu vejo aqui – Ah, meu bom Deus – é exatamente o tipo de comportamento que vocês deveriam estar erradicando no planeta. Será que não notam, ora pois, que vocês nada estão diferentes dos carrancudos que visitam? Deste jeito, terei de achar fantasmas da noite de natal para fantasmas da noite de natal.
ㅤ Papai Noel sentou-se, exasperado.
ㅤ – Que me dizem? Que tal pararmos de discutir e começarmos a distribuir o espírito natalino?
ㅤ O silêncio continuou por alguns segundos, somente pareado por alguns cochichos aqui e acolá. O Santo Nicolau parecia finalmente ter conseguido o apoio dos fantasmas, e, relaxado em sua pseudo-poltrona deixou escapar um suspiro de alívio.
ㅤ – Não! Ainda queremos nossos direitos! - A voz rompeu, quase fazendo Noel cair de seu encosto.
ㅤ E, para delírio do velhinho, as vozes começaram a se levantar em apoio. Não uma, não duas. Todas elas começavam a gritar: “Greve! Greve! Greve!”. Noel fechou os olhos com força, perdera as esperanças. Quando abriu novamente os olhos, deixava que fitassem o teto esbranquiçado do local.
ㅤ – Ai, Jesus, e agora? - Disse para si mesmo.
ㅤ A figura do homem de cabelos castanhos e uma paz celestial na feição surgira no céu para o Santo Nicolau. E, antes que lhe desse esperanças, Jesus deu de ombros.

III

ㅤ Ariadne acordou naquela manhã como sempre acordava em todas as manhãs. Sem espíritos, sem fantasmas, sem visões do futuro e sem gente pegando-a desprevenida. Realmente, a baboseira de natal era sempre a mesma. Era aquele apenas mais um dia de trabalho, só o que lhe arrancaria o humor seria a face aborrecida do Sr. Reuben e o fato de ainda não poder usar seus vestidos de seda. Realmente deveria comprar um aquecedor.
ㅤ Retirou o pesado cobertor de peles de cima do corpo e pisou no chão coberto pelo tapete persa. Buscou com a mão o roupão para lhe cobrir o corpo; definitivamente era ótimo dormir despida.

ㅤㅤIV

ㅤㅤAssim que as botas de couro reforçado saíram dos pés do velho Noel, ele soltou um suspiro de puro alívio. Acabou que, no fim das contas, ele não conseguiu conter os Fantasmas das noite de natal, que saíram da audiência todos com a idéia de "Greve" ainda em mente. Ao menos, e ficou feliz com isso, pôde viajar pelo mundo na companhia das renas para entregar o espírito natalino pelo mundo. Puxou a fivela do cinto para soltá-la e logo em seguida pousou o gorro vermelho no criado-mudo.
ㅤㅤO Sofá da sala nunca fora tão confortável para ele, mas a Sra. Noel deixou bem claro o que ocorreria caso ele se atrasasse. "Os Fantasmas entraram em greve e tentei contê-los", ora, até mesmo contos de fada e seres imaginários tinham seus limites de sensatez; Mamãe Noel nunca acreditaria na história. Puxou o cobertor macio sobre seu corpo e já ia fechar os olhos quando um baque perto da janela o fez saltar do sofá, caindo com o nariz no chão.
ㅤㅤ- Claro! Agora assaltam a casa do velho Noel! - Disse, consigo mesmo. - Que ótima forma da noite acabar!
ㅤㅤE, com toda a tranquilidade da imortalidade, dirigiu-se para o corredor, de onde viera o som. Mas ali, viera sua surpresa. Atônito, Noel observava a figura verde-brilhosa de um velho em seus pijamas caros; o nariz avantajado não o fazia errar sobre a identidade do sujeito.
ㅤㅤ- Scrooge!
ㅤㅤ- Feliz Natal, velho Nicolau! - Respondeu, bem humorado.
ㅤㅤ- Mas o que faz aqui, homem de deus? - Noel falou, coçando os poucos cabelos grisalhos que sobreviveram na parte central da cabeça.
ㅤㅤ- Fiquei sabendo do que aconteceu com meus velhos parceiros. Decadência, né?
ㅤㅤUm leve olhar raivoso passou pela face de Noel.
ㅤㅤ- Ora, Scrooge, então foi voc...
ㅤㅤ- Opa! Opa! Calma aí, Nicolau! Sabe muito bem que, desde aquela noite, até o fim de meus dias, eu nunca mais fui uma má pessoa. Tanto que me colocaram aqui, nesta posição. - E com um gesto mostrou-se a si mesmo. - Se eles tem agora um fiasco de ambição na mente, não é por minha culpa! Na verdade, eu bem estranhei que meus parceiros não vieram para me dar as coordenadas, estava ansioso para visitar o mal-encarado do ano. É um caso bem peculiar, bem parecido comigo.
ㅤㅤ- Entendo. - O Velho Noel escorou-se na parede. - Mas, por que veio até aqui? Só para me dizer isso que não foi.
ㅤㅤ- Na verdade... - Ele disse, deixando transparecer um pouco da esperteza que o jovial Scrooge tivera para ganhar a vida através de um sorriso. - Tem como me emprestar o trenó? Dizem que ele tem a capacidade para levar as pessoas para onde desejam ir.
ㅤㅤOs olhos do velho Noel arregalaram.
ㅤㅤ- Ora, você não...
ㅤㅤ- Está afim de fazer uma horinha extra como Fantasma, velho Nicolau?
ㅤㅤ
ㅤㅤE o natal passou como todos os outros para Ariadne Leverson. Ao menos, todos desde o dia em que os pais se separaram na mesma data. Brigou com o digníssimo Sr. Reuben por estar tão distraído no trabalho e fez a encomenda do aquecedor, chegaria uma semana depois, de modo a fazer a velha Ariadne começar a escolher que vestidos de alta classe e costuras impecáveis ela iria usar.
ㅤㅤJantou com toda a calma e serenidade, o velho Owen sem dizer uma palavra desnecessária. Levantou-se e foi dormir com a calma de sempre; durante a caminhada, deparou-se com a mesma árvore de natal despontando na janela. As lembranças vieram novamente e ela soltou um suspiro baixo e contido, de decepção. Naquele ano, eles também não vieram.
ㅤㅤ
ㅤㅤSerá que Ariadne acreditaria em Fantasmas da Noite Seguinte ao Natal?
Leia até o fim...

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