quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os 8 Escolhidos - Capítulo 6

Novamente sem revisões, avisem caso acharem erros, por favor. =x 


Capítulo 6 – Histórias e Escolhas

O grande veículo de três rodas – Que Hórus chamava de Benny – parou depois de algumas horas, perto de um lago. Cenário não tão raro, não em Michigan. Gal havia adormecido; merecia, após tanta coisa que teve de enfrentar e ouvir numa noite só. Era impossível prever o quanto haviam andado, visto que Benny era diferente de qualquer outro automóvel já inventado.
- Bom, o que fazemos agora? - Disse Hórus, esticando-se na cadeira de motorista.
- Precisamos entrar em contato com outros Buscadores. Espero que aja mais deles, alias.
- É. E também, precisamos ver o que o garoto aí tem de especial.
- Isso podemos deixar para depois. Fomos bem rápidos desta vez.
- Não muda o fato que todo tempo é precioso.
- ... - Khalador acomodou-se melhor em seu lugar.
Enquanto isto, Hórus mexeu em alguns comandos do painel frontal. Estava começando a clarear, e o silêncio parecia reinar por ali.
- Que tal contarmos logo tudo para ele, Khal?
- Acho que ainda não está preparado.
- Eu acho que está.
- O que te faz pensar assim?
- Bom, ele já viu uma Sombra. E, tipo, ela matou o pai dele.
- Ainda sim é um garoto.
- E continuará sendo quando as Sombras estiverem à solta por aí. - Hórus tinha uma expressão séria na velha face. Ele também conhecia o terror daqueles monstros. Khalador soltou um longo suspiro e levantou-se de seu assento, indo em direção ao adormecido Gal.
- Tudo bem, acorde-o.
O velho desmanchou a face enrugada e sorriu para Khalador, saindo de seu assento para ir chacoalhar o garoto. Gal abriu os olhos lentamente, e relutante. Por um instante até imaginou se tudo que havia visto pudesse ser apenas um sonho. Sua esperança se desfez quando viu Hórus sorrindo para ele. O velho motorista era realmente bem mais baixo que qualquer outro idoso que já havia visto.
- O que há, garoto? Não queria saber de tudo? Aqui está sua chance!
Gal saltou no banco, tentando parecer mais acordado. A fala de Hórus havia atiçado sua curiosidade ao extremo. Khalador sentou-se ao lado do garoto, enquanto arrumava seu cabelo para que não ficasse na frente do rosto.
- Podem falar. Estou pronto para ouvir.
- Perfeito. Antes de tudo, qual o seu nome, garoto?
- Gal.
- Apenas isto?
- Não. Meu nome completo é Galahad Broadcase.
- Hm. Galahad. É um nome bem incomum por aqui, não é?
- É... Foi o nome de um dos cavaleiros da Távola Redonda.
- Távola Redonda? - Khalador disse, mais interessado.
- É. Sabe? O Rei Arthur, Lancelot? A espada na pedra e tudo mais?
- Não sou... daqui. Por isso não sei de nada sobre sua cultura.
- Bom, não importa mesmo. É só uma lenda boba.
- Não deveria subestimar lendas, Garoto. - Hórus intrometeu-se, enquanto virava o banco do motorista para trás para poder sentar-se de frente para ele.
- Não acredito nestas coisas. De qualquer forma, vão me explicar ou não?
O ar de Gal soava ainda mais ácido que antes. Se ele já era frio, agora ele praticamente parecia ter um coração de pedra. Khalador e Hórus se entreolharam por um segundo, para voltarem a fitar o garoto.
- Escute, Gal... - Começou Hórus. - Para escutar nossa história com atenção. É preciso que acredite em tudo que dissermos, por mais estranho que seja para você.
- Fale logo.
- Calma, garoto. Se não estiver calmo, não irá compreender tudo que falarmos... Veja bem, aquilo que o atacou algumas horas atrás, era uma Sombra. É assim que o chamamos. Eles são criaturas feitas de puro Caos e Destruição, e para isto são feitos. Para causar caos e para destruir.
- Certo, isso eu notei.
- Com o tempo, vários outros deles começarão a aparecer pelo mundo. Causando diversos imprevistos.
- Mas, eu não entendo... De onde eles vem? Nunca apareceu nada do tipo nos documentários de animais, quero dizer.
- Lógico que não. - E Hórus pareceu vangloriar-se por conter a informação correta. - Aqui começa o lado mais complicado de toda a história. As Sombras vem de uma energia negra, que apelidamos de Impiedoso Conquistador e...
- “Impiedoso Conquistador”? Vocês são bem criativos para nomes, heim?
- ...Vai me deixar continuar a história?
- Claro, claro. Prossiga.
- Perfeito. - E Hórus ajeitou-se na cadeira.
Khalador continuava calado, apenas observando toda a cena.
- Continuando da onde parei... hah, claro, Impiedoso Conquistador. Nós nunca conseguimos definir ao certo o que é ele, nunca tivemos nenhuma chance contra ele. Mas podemos confirmar que ele se alimenta de uma coisa: Dimensões.
- Espere. Espere. Dimensões?
- Sim. Já chego lá, calma. O Impiedoso viaja por entre dimensões e começa a destruí-las, pouco a pouco. No início, apenas parece que estão passando por uma série de acidentes. Como os que estavam ocorrendo até pouco tempo atrás; tsunamis, tornados, terremotos e essas coisas mais. Entretanto, conforme os dias passam, as Sombras vão começar a surgir para aterrorizar vocês. Pelo que vi de seus governantes, eles provavelmente vão tentar ocultar tudo o máximo que puderem, mas chegará a hora em que mais nada poderá ser feito para esconder a presença das Sombras. Elas irão logo levantar um grande exército negro e marcharão pela destruição desta dimensão. E, quando tudo estiver em ruínas, o Impiedoso irá aparecer para destruir o que sobrou.
- E onde vocês entram nessa história toda?
- Entramos nessa parte agora: Para cada nova dimensão que o Impiedoso toma para si, parte dele sobrevive e se anexa à energia negra do Impiedoso. Pode considerar esta energia negra como sendo um Planeta Sombrio, ou algo do tipo, que tem partes de vários restantes de dimensões destruídas. E junto disto, vem os sobreviventes. Pessoas que aguentaram a destruição das Sombras e foram pegas pelo Impiedoso para viver miseravelmente e nas sombras das sombras de sua energia negra. Não vou conseguir descrever para você o que é por lá, só te digo que o inferno parece fichinha perto dele. Mas o fato é que; nós sobreviventes, montamos pequenas alianças e tentamos, sempre que o Impiedoso se dirige a uma nova dimensão; salvar esta.
- Hah. Vocês.
- Exato. Viemos de mundos completamente diferentes. Khalador veio de um lugar onde a Magia e a Espada reinavam. Já eu, vim de um mundo onde tecnologia e telepatia eram a fonte de tudo. Mas ambos temos uma coisa em comum, nós sobrevivemos ao impiedoso e vivemos nele, na esperança de que algum povo algum dia possa derrotá-lo com nossa ajuda. -E Hórus se ajeitou no banco do motorista, tendo certeza de observar o garoto de frente.
- Certo. Certo. Agora esperem para ver se eu entendi. Vocês vieram de um comedor de planetas que...
- Dimensões.
- Que seja. Vocês vieram de um comedor de dimensões, para salvar este planeta da destruição total. Ambos vieram de dimensões diferentes e tem tradições diferentes. Mas estão aqui.
- Resumindo tudo, é, mais ou menos isto. Bingo! - Disse Hórus. - Sim, onde eu vivia também havia bingo.
- Perfeito. E como vou acreditar em tudo isso?
- Não é preciso que acredite para já estar acontecendo. - Cortou Khalador no mesmo instante. Rompendo de seu silêncio.
- Mesmo assim, ainda não compreendo... Porque vocês vieram justamente me salvar? Ora, deveriam usar desta missão para falar com o presidente, ou algo assim.
- Nós não podemos fazer nada se não for da nossa sina. Apenas uma pessoa deste mundo pode fazê-lo. E este, não é ninguém de outro. É um escolhido, uma pessoa que sua dimensão escolheu para protegê-la.
- E porque não foram buscá-la?
- Já buscamos, Gal. Você é o escolhido.
- Eu?
- Exato. O Escolhido é alguém único numa dimensão, pois que tem a capacidade de decidir o próprio destino, diferente dos outros, que já tem o destino traçado desde o momento em que a vida habita em seus corpos.
- Não, espera. Eu? Porque eu?
- Isso nem nós podemos explicar. As dimensões escolhem seus representantes, sejam eles garotos ou idosos. Já tentamos salvar uma dimensão onde o escolhido era um bebê.
- Não compreendo... E como vocês sabem que sou eu?
- Isto é simples. As primeiras Sombras que surgem numa dimensão vão atrás de um único ser. Do escolhido, e sempre foi assim. Temos Buscadores por todo o mundo, e nenhum obteve sucesso como nós. O que indica que você é o escolhido.
- E como tem certeza disto? Haviam tantas pessoas comigo! Gary, Ann, Meu Pai, Sr. E Sra. Walles... Todos eles foram atacados! - Gal parecia aflito, tanto que mal podia permanecer sentado naquele banco, observando Hórus e Khalador.
- Neste ponto você tem razão, garoto. Mas... - E Khalador o olhou com uma expressão séria. - Você tem outro sinal de ser o Escolhido.
- Qual?
- Sonhos, Gal. Nos últimos dias, você tem sonhado com o ataque das Sombras contra várias dimensões que já foram dominadas. Vendo várias batalhas finais e cenas de pessoas morrendo pelas mãos de vultos negros.
- ... - E daquela fez o garoto ficou em silêncio.
Khalador sentiu o que ele estava sentindo, ou pelo menos pensou ter sentido e o deu tempo para pensar. Enquanto se acomodava em seu lugar. Gal respirou fundo, tentando se controlar e olhou para os dois, novamente frio como sempre.
- E o que diabos eu vou poder fazer pela dimensão? Sou só um garoto. Tenho só 16 anos. Não tem como eu fazer algo.
- É aí que você se engana, Gal. Todo escolhido nasce com a capacidade de mudar o mundo. E tem várias características para o fazê-lo. Você apenas ainda não as notou dentro de si. Mas nós faremos isto acontecer.
- Então quer dizer que é só eu contra um comedor de dimensões? - Khalador abriu um sorriso e olhou para Hórus.
- Prossiga daqui, Cabeçudo.
- Cabeçudo é a senhora sua mãe, rapaz! - Respondeu automaticamente o velho motorista para voltar-se para Gal. - Bom, aqui vem a segunda parte de nossa missão, Gal.
- Missão?
- Exatamente, a missão dos Buscadores e do Escolhido. Veja bem, pequeno... Você é o único que pode mudar seu curso do destino, e assim, salvar a dimensão. Entretanto, existem alguns que tem a aptidão a lhe dar ajuda nos momentos mais críticos. Estes, são Sete, que também chamamos de escolhidos. Estão espalhados por todo este mundo, e precisamos reuni-los antes de fazer qualquer outro movimento. A morte de apenas um deles pode resultar na falha de toda a luta contra o Impiedoso.
- Ótimo. Então, vamos percorrer o mundo perguntando para cada pessoa que nós vermos: “Me desculpe, mas você é um escolhido?”. Excelente, adorei a idéia.
- Você é uma graça quando quer, Gal. - Disse Hórus, visivelmente ofendido. - Os Escolhidos também são os primeiros a serem perseguidos pelas Sombras. Só não possuem sonhos. Mas para isso, temos você.
- Eu?
- Exatamente. Agora que já está ciente de sua missão; com o tempo, alguns sinais irão aparecer para você. Mostrando para onde seguir até encontrar o próximo escolhido.
- Que tipo de Sinais?
- Isso varia muito. Houve um escolhido que, quase sempre causava um acidente sem querer. O primeiro a lhe socorrer era um outro Escolhido. Também, o Bebê que chorava mais a partir do momento em que chegávamos mais próximo de um deles. Você pode ter diversas visões ou sinais. Sonhos, Dicas, Vozes. Tudo é possível neste sentido, Gal.
- Certo, então, eu sou obrigado a ir com vocês, agora?
- Não. Isto é sua escolha, Seu caminho a trilhar. - Disse Khalador, interrompendo. - Mas vale lembrar que quanto mais tempo se passar, mais riscos você poderá correr. As Sombras sempre optarão por um escolhido, e sentem sua presença de longe.
- Grandioso, assim você me dá muitas escolhas.
- Não é nossa culpa, pequeno. - Voltou a falar Hórus com um sorriso na face. - E então, o que vai decidir? Precisa tomar uma decisão rápida.
- Por enquanto, nada. Posso ir lá para fora um pouco? Gostaria de um pouco de ar fresco pra pensar. Ou corro riscos fora desse triciclo?
- Benny.
- Certo, Benny.
- Pode ir. Estamos seguros por um tempo. - E Hórus virou-se para o painél, puxando a alavanca mais afastada. E logo depois olhou para Gal saindo do veículo.

Gary acordou com uma dor de cabeça matante. Abriu os olhos lentamente, apenas para sentir a dor de cabeça aumentar pela luz do Sol entrando pela janela aberta. Gemeu, e fechou os olhos, colocando as mãos sobre eles. Ficou assim por alguns segundos para fazer uma segunda tentativa.
- Onde diabos estou? - E abriu os olhos. Estava vestindo uma roupa azul-bebê bem folgada. E estava deitado numa cama branca, num quarto quase todo branco. Um hospital.
De súbito, todas as imagens da noite passada lhe vieram em mente, como um turbilhão de memórias esquecidas. Levantou da cama num salto, e só aliviou-se ao ver a Irmã na cama ao lado, ainda dormindo, calma e tranquilamente. Não lembrava como tinha chegado ali, só tinha certeza que havia desmaiado enquanto fugia com a irmã, após ouvir altos rugidos vindos de dentro do quarto. Tinha sido uma noite difícil, mas parece que agora tinha se acalmado. Voltou para a cama e respirou fundo. Ele não tinha mais pais. Eram só ele e a irmã agora. Foi quando um súbito pensamento lhe passou pela cabeça e ele olhou para o outro lado.
- Gal! - Mas do outro lado da cama dele, só havia a janela.
Talvez esteja em outro quarto, pensou ele. E direcionou seu olhar para a porta, mas sua visão foi uma bem diferente. Pela pequena janela retangular da porta, viu do outro lado um homem grandalhão de terno preto e óculos escuros, visivelmente olhando para ele. Paralisou na hora, não era para ter um grandalhão de terno preto, e sim, o velho Delegado Ryan. Ficou alguns instantes olhando para ele, até sua atenção ser desviada.
- Gary?... - Veio a baixa voz da cama ao lado.
- Ann! - E saltou da cama indo até ela. - Que bom que acordou! Está tudo bem com você?
- Sim... - Disse, quase inaudível.
Para logo depois entrar num silêncio desconfortável.
- Gary, o que aconteceu ontem... Não foi um sonho, não é?
- Eu... acho que não.
- Então, papai e mamãe.
- Sim. Só somos nós dois agora, Ann.
- E Gal? Onde ele está?
- Não sei. Não o vi depois que saltamos pela janela. Espero que esteja vivo. Mas eu realmente não imagino o que pode ter acontecido lá depois de nós fugirmos.
- ... - Ela suspirou. - Entendo.
- Não se preocupe! Ele deve ter ficado bem, Ann. Agora você só precisa se preocupar com você mesmo e...
Mas não terminou a frase. A porta do quarto se abriu, e dela entraram cinco homens de terno preto, igual ao que estava vigiando na porta. Eles se posicionaram enfileirados em frente aos irmãos, e logo uma última figura entrou na sala.
Vestia também um terno negro, só que este era visivelmente mais caro que os outros. Tinha rugas que mostravam sua idade avançada, e era o único que não usava óculos escuros, mostrando assim seus olhos castanhos que combinavam bem com o cabelo grisalho. O homem tinha uma leve feição rígida, e Gary sentiu arrepios ao vê-lo.
- Dormiram bem? - Soou a voz grossa do homem.
Gary e Ann apenas assentiram com a cabeça.
- Ainda bem. Acho que preciso me apresentar. Sou o Agente Federal Winston, e estou aqui pelo que aconteceu ontem na casa de vocês.
- Agente Federal? - Indagou Gary.
- Exato. Mas não se assustem. É só que... - E pareceu pensar um pouco. - É só que a polícia local não tem experiência o suficiente para lidar com uma situação deste porte.
- Espere, Espere, o que você quer dizer com “deste porte”?
- Ora, vocês sabem, o que aconteceu ontem na casa de vocês. Lamento muito pelos seus pais, mas nós precisamos de detalhes sobre o que aconteceu. Os vizinhos nos relataram sobre rugidos altos e selvagens. Vocês confirmam isto?
Gary e Ann se entreolharam por um segundo, e logo depois confirmaram com a cabeça.
- Ótimo. E vocês viram o que aconteceu?
- Nós...
Ann já ia falar sobre todo o incidente, mas Gary a interrompeu antes.
- Não. Nossos pais apenas disseram que estávamos em perigo e nos fez saltar do segundo andar.
- Hm. - Ryan não pareceu acreditar. - Tem certeza de que foi isto?
- Sim.
Gary trocou alguns olhares com Ann. Coisa de irmão, logo entenderam.
- E você, Ann? Foi isto mesmo que aconteceu?
- Sim.
Ann pareceu até mais convicta que Gary. Ryan deu um longo suspiro enquanto dava alguns passos pelo quarto. Como se estivesse tentando manter a calma. Puxou a cadeira do canto até o centro do quarto e sentou-se nela.
- Tudo bem. Vamos para a próxima pergunta. Havia mais alguém na casa? Fora vocês dois e o Sr. E a Sra. Walles?
- Sim. O Sr. Jeorge iria passar a noite conosco, por causa de um incêndio na casa dele.
- Apenas o Sr. Jeorge.
- Pelo que eu saiba, sim. - Continuou Gary.
- E o filho dele? Han... Galahad?
- Não sabemos dele. Parecia que também viria, mas não apareceu por lá na hora.
- Entendo. - E Ryan pareceu novamente desapontado.
- O que aconteceu? Digo, com meus pais e com o Sr. Jeorge? Eles realmente...
Gary já sabia da resposta, mas por mais doloroso que poderia ser ouvi-la oficialmente, ele queria. Só assim teria certeza de que seus pais realmente estavam mortos. Ryan confirmou com a cabeça.
- Sim. Estão os três mortos.
E Gary não precisou estar fingir para ficar com uma face abatida.
- Havia mais algum corpo lá? - Ann rompeu do silêncio.
- Mais algum? Porque haveria? - Ryan pareceu interessar-se no que Ann dizia.
- Por nada. A minha irmão só estava pensando se talvez Gal pudesse ter aparecido em casa.
Gary a interrompeu, antes que pudesse dizer mais alguma coisa que revelasse sobre seu amigo.
- Hah. Claro. Entendo. - E Ryan suspirou. - Bem, em breve serão levados para um orfanato. Mas até lá, ainda precisaremos fazer mais algumas perguntas durante as próximas semanas. Vocês não se importam, não é mesmo?
- Não. Tudo bem. - Ann disse.
- Ótimo. Então, vou deixar vocês descansarem. Até mais.
E o Agente Ryan mal fechou a porta e se afastou pelo corredor para Ann fuzilar Gary com seu olhar. Seu irmão estava tramando alguma coisa e ela sabia muito bem disto.
- O que foi aquilo, Gary?
- Não. Não tive um bom pressentimento sobre esses caras. Algo me diz que não podemos confiar neles. Ainda mais contar sobre Gal. Você ouviu, não foi, Ann? Ele está vivo! Não acharam o corpo dele lá em casa. Significa que podemos encontrá-lo.
- Gary, não me diga que...
- Claro. Estou saindo daqui agora mesmo para achá-lo. Você vem comigo ou vai para o Orfanato?


Assim que a porta se fechou atrás de Gal, ele finalmente pôde respirar. Recebeu informação um dia do que jamais tinha recebido a vida toda. E além disto, só agora ele parou para pensar na sua perda. Olhou para trás, certificando-se que os dois não o espiavam, e logo depois sentou-se escorado na roda de Benny, enquanto retirava seu tesouro do bolso.
Olhou a pequena bolsa por alguns segundos enquanto refletia sobre o que havia acontecido. É, agora estou sozinho de verdade. Foi o que pensou. E logo depois abriu lentamente o zíper. Ali dentro, havia uma foto da família inteira. Jeorge, Mancy, Gal... e Sarah. A Mãe tinha oito meses de gestação na foto, e a eles não poderiam estar mais felizes naquela época. Mesmo com tudo que tinham para se preocupar, fora o mês que mais aproveitaram. Era a única foto que havia sobrevivido, todas as outras já não existiam mais, e por isso Gal a prezava tanto.
Junto da foto, um pequeno pingente. Havia uma bailarina em cima de um único pé toda graciosa em seu dourado que a recobria. Aquele seria o primeiro presente que Gal daria para sua irmã. Olhou para ele por um instante e logo depois o pôs de volta na bolsa. E ficou a olhar para a foto. Seu Pai tinha morrido por ele. Gal juntou os joelhos para a face e abaixou a cabeça, começando a choramingar baixinho. E assim ficou por alguns bons minutos.
- Dói, não é? - Veio a voz de cima.
Gal rapidamente secou o rosto e levantou-se para ver quem falava. Khalador estava sentado sobre Benny, apoiado sobre as mãos para observar o dia clarear aos poucos.
- Como?
- Dói. Dói quando alguém dá a vida por você sem pedir nada em troca. Não é?
- ... - E Gal voltou-se a sentar em seu lugar. - É.
- Eu... Já vivi disto tantas vezes que cheguei à beira do suicídio. - E suspirou. - Mas parei para pensar. Eles jogaram suas vidas fora pela minha, não devia me desfazer da minha de um jeito tão estúpido. E é por isso que estou aqui hoje. Por eles.
O garoto pensou bastante antes de falar.
- Aquele seu Comandante, grande, com a marreta. Foi um deles, não foi?
- Como você...
- Os sonhos. Você mesmo disse, Lorde Khalador.
- Claro. Me esqueço deste detalhe.
- Você... Era um escolhido?
- Sim. Todo meu mundo dependia das minhas ações. Mas eu falhei. - E suspirou. - O General com a Marreta grande, se chamava Langus. Ele era um escolhido. Deu a vida para salvar a minha, quando a Sombra apareceu entre nós na nossa última batalha.
- Imaginei que era isso.
Gal se levantou sem pressa alguma e espreguiçou-se enquanto guardava a foto dentro da bolsa novamente. Khalador permaneceu quieto olhando o horizonte, um belo e grande lago se projetava na frente de Benny. Se aquela fosse outra ocasião, poderiam ter aproveitado melhor a vista.
- Pode me responder mais uma dúvida? - Gal rompeu o silêncio.
- Diga.
- Porque... Porque apenas a terra está sofrendo com isso? Quero dizer, a dimensão também inclui o sistema solar e tudo mais, não é?
- É uma boa pergunta. - Khalador disse sem voltar o olhar para o garoto. - Toda Dimensão tem uma alma. Viva e pulsante. A alma desta dimensão é a Terra e seus habitantes. Por isso, o Impiedoso domina primeiro aqui, para depois ir para outros lugares. Proteger a terra é o ponto chave de tudo.
- Hm. - Conformou-se Gal. - E... E como vocês sabem de tudo isso? Quero dizer; dos Escolhidos e tudo mais.
- Bom. Existem algumas dimensões, onde a profecia e o destino são consagrados. Eles previram tudo, e, após serem destruídos, os sobreviventes nos ensinaram sua sabedoria. Alias, nosso grande Líder é um deles. Se chama Rhurgon.
- Nome estranho.
- Sim. Todos da dimensão dele tem nomes parecidos com estes. Foi ele quem primeiro levantou o braço para se opor ao impiedoso após a destruição de seu planeta. Nós apenas o seguimos, até formarmos a Grande Oposição...
- Grande Oposição? Deixe-me adivinhar, este é o nome que vocês deram para a aliança.
- Exato.
- Feh. Vocês realmente não tem criatividade alguma para nomes.
- Não é culpa minha. - E Khalador esboçou um pequeno riso. Gal apenas o correspondeu com outra pequena risada. Para logo depois seguir-se um silêncio acalmante.
- Então, o que vai fazer? - Khalador rompeu o silêncio
- Não é óbvio? - Gal olhou para o horizonte. - Vamos, temos de encontrar outros sete escolhidos.

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