quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Momento Descontração


Riam, desgramados!

Leia até o fim...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os 8 Escolhidos - Capítulo 7

Sem revisões, caso acharem erros, avisem.

Capítulo 7 – A fuga dos Irmãos Walles


- Droga! - Gary resmungou.
Eles estavam no terceiro andar do prédio, era arriscado demais ir pela janela. Até porque, ela tinha grades. O garoto não queria ir pelo corredor, tinha quase certeza que alguém estava os aguardando nele. Ann apenas observava o irmão, estava bem mais quieta que o habitual, mas não era por menos. Em um dia, toda a vida que tinham havia desmoronado. E agora, lá estavam eles, tentando escapar de Agentes Federais - Se é que eram. - logo após terem sido quase mortos por uma criatura gigante e desconhecida.
- Tem alguma idéia, mana? - E Gary virou-se para a irmã.
- No momento, nenhuma.
- Tsc. Porcaria. Deve ter algo que possamos usar aqui.
E sentou-se em seu lugar na cama, mas levantou-se num salto um segundo depois.
- O que foi? - Ann perguntou.
- Sentei em algo.
E Gary foi ver o que estava por debaixo dos cobertores. Ali havia um pequeno botão vermelho, ligado num fio que ia para a parede.
- É para chamar a enfermeira.
- Chamar a enfermeira, é? - E Ann pareceu pensativa.
- O que foi, teve alguma idéia, Ann?
- Talvez... Escute.

Na sala das enfermeiras, a luz que indicava o alarme do quarto dos Walles piscou freneticamente. No mesmo instante, três delas dispararam em direção ao quarto. Nestes momentos era possível ver o quanto enfermeiras trabalham duro, elas subiram as escadas até o terceiro andar em menos de um minuto. Quando já estavam chegando perto do quarto, Gary surgiu na porta, com uma cara de desesperado.
- Rápido! Minha irmã, ela... ela...
No mesmo instante em que as enfermeiras entraram, um grandalhão de terno preto que estava ao lado da porta também entrou. Dentro do quarto, a cama de Ann estava vazia, e um lençol estava amarrado do lado de fora da janela. Por fora da grade.
A reação das enfermeiras e do Agente foram exatamente as mesmas, se amontoando na janela. Gary sorriu no corredor, e fez sinal para a irmã, que rapidamente saiu de dentro de um pequeno armário que ficava ao lado da porta. Eles dispararam pelo corredor em direção das escadas, e só ouviram os gritos quando estavam na metade da primeira escada. Eles desciam as escadas de três em três passos, sem parar para pensar nos riscos que corriam.
- Fiquem parados aí mesmo! - Gritou a voz de baixo.
Logo no final da escada que dava para o primeiro andar, surgiu um segundo homem de terno. Gary parou de imediato com a irmã atrás, e voltaram a subir.
- Onde? - Gritou a irmã.
- Segundo andar! Segundo andar!
E assim viraram nele, tendo a bela visão do primeiro Agente já chegando perto deles, vindo do andar de cima. Quando entraram correndo pelo corredor, os dois agentes já estavam quase na cola deles. O bom do hospital era que não havia tanta gente por ali, afinal era uma cidade pequena, não haviam tantos acidentes assim num único dia. Gary puxou um carrinho com toalhas limpas para o meio do caminho enquanto corria e viu de relance o primeiro Agente cair com ele e o segundo continuar seguindo, saltando por cima dele. Viraram à direita e aceleraram o passo.
- Precisamos nos esconder! - Gritou Gary.
- Onde?
- Não faço a mínima! Aqui, entre aqui!
E virou bruscamente, se jogando para dentro de um quarto com a irmã logo atrás dele. Gary fechou a porta e a trancou por dentro. Um segundo depois sentiu alguém bater fortemente contra ela. Já estavam ali. Gary olhou rapidamente para onde estavam. Era um quarto pequeno, cheio de roupas sujas em cestos e limpas em outras. Fora vários carrinhos que estavam por ali.
- Precisamos achar uma saída, ou nos esconder aqui. De alguma forma. - Disse Ann.
Enquanto isto, Gary se apressava em encher a porta com o que podia. Jogava cestos, carrinhos e outras coisas na frente dela, para dificultar a entrada, embora faltassem apenas alguns chutes bem dados para a porta ceder. E foi então que ele sentiu a irmã lhe puxar pelo braço.
- Por ali, Gary! Rápido! - E apontou para uma pequena portilha.
Foram até lá e a abriram, revelando um túnel pequeno e vertical. Olharam para baixo e viram um mar de roupas sujas juntas. Era óbvio, aquele era o depósito de tecidos, isso significava que eles levavam para o lugar de onde são levados para a lavanderia. Olhou para Gary e ele entendeu, já saltando pela portilha. Com Ann indo logo em seguida. Um segundo depois a portal rompeu-se, levando tudo que estava atrás dela junto. Os dois Agentes entraram na mesma hora, começando a vasculhar tudo por ali. Ficaram assim por um minuto, até notarem a portilha aberta. Um deles chutou um cesto contra a parede, de raiva.
- Malditas crianças!

Ann e Gary estavam agora no estacionamento do Hospital - que era ligado diretamente a Sala de tecidos- , correndo sem parar na direção da entrada. Antes que o segurança perguntasse qualquer coisa ou dissesse algo, Ann chutou-lhe no meio das pernas e o fez gemer e cair no chão choramingando.
- Deus! Onde você aprende essas coisas?
- É para usar contra irmãos desobedientes. - E Ann riu. - Agora vamos.
E assim saltaram para a rua, mas pararam no mesmo instante, quase sendo atropelados por um carro que freou em cima deles, praticamente. O motorista era jovem, não passava dos trinta anos. Era um Táxi.
- Ei! Cuidado por onde andam! - Esbravejou.
Gary pensou por um segundo. Apenas por um segundo, e depois olhou para a irmã. Eles se entenderam novamente sem precisarem dizer mais nada e ambos foram até o carro, entrando no banco de trás. E antes que o motorista pudesse dizer mais qualquer coisa, Gary o interrompeu.
- Rápido! Nos leve para longe daqui!
- Como é!?
- Isso mesmo! Vamos! Tenho bastante dinheiro! Nos tire da cidade agora!
- Vocês não parecem ter dinheiro algum. E pelo que estão vestindo, também não deveriam estar aqui! Fora do meu carro, agora!
Gary estava quase conformado, quando Ann se colocou entre os bancos da frente e tocou de leve no ombro do taxista. Não que fosse metida, mas ela sabia usar de seu charme quando queria. E, cá entre nós, Ann não era nem um pouco feia.
- Olhe. Eles estão atrás de nós por engano. Por favor, você precisa nos ajudar. - A voz melosa saiu mais sedutora do que Ann podia imaginar. - Só conseguiremos provar nossa inocência caso sairmos agora. Eu lhe imploro!
A face do taxista ficou corada e logo depois ele acelerou.
- Maldição! Droga! Porcaria! - E resmungava mais umas muitas palavras enquanto deixava o hospital para trás. Os Agentes ainda não haviam nem saído do prédio quando o Táxi virou a esquina e eles sumiram de vista inicialmente.
Houve mais uma troca e olhares entre os Walles. E no fim, eles abriram um sorriso.

- Certo, alguém vai me contar o que está acontecendo? - Disse o taxista, após saírem da cidade.
- Nós...
- Nós estamos sendo perseguidos por bandidos. - Interrompeu Gary.
- Como é!?
- É. Isso mesmo.
- E porque me envolveram nessa roubada toda!?
- Ora, você simplesmente foi o primeiro a aparecer. Não tem bondade no coração? - Disse Ann.
- Não é isso! O fato é que... Argh! - E o taxista acelerou. - Bem que minha mãe disse que eu era bondoso demais para trabalhar com gente!
- Qual o seu nome?
- Dave. Dave Cooper.
- É um prazer, Dave, eu sou Ann Walles. E este emburrado aqui é meu irmão, Gary.
- Certo, certo. E, deixando nomes de lado, porque diabos vocês estão sendo perseguidos por bandidos?
- Hah, é uma longa história, Dave. Só tente nos deixar o mais longe possível de Winterclouds Town.
- O que você considera como “o mais longe possível”?
- O mais longe possível. - Falaram os dois irmãos juntos.


- Droga! - Gritou Ryan. - Não passam de dois adolescentezinhos! Como deixaram eles escapar!?
- O garoto pensou em tudo e...
- Tá, que seja, não quero ouvir explicações! Me deixem, preciso ligar para Collins. Enquanto isto, comecem a investigação para descobrirem para onde eles estão indo!
E assim, os dois Agentes saíram da sala. A equipe de Ryan havia improvisado seu escritório em Winterclouds Town num pequeno apartamento alugado. A verba deles ia muito além disto, mas as opções da pequena cidade não permitiam muito mais que aquilo. Caminhou até a mesa e pegou o celular, apertando alguns números da discagem rápida. Quem estava do outro lado da linha atendeu em menos de dois toques.
- Estou ouvindo. - Veio a velha voz do outro lado.
- Senhor...
Ryan parecia estar com um tom de voz bem mais gentil e agradável agora.
- ... Nós acabamos por perder as duas testemunhas.
- Perder?
- É. Elas fugiram durante um erro de meus agentes.
Um silêncio se seguiu. Como se o homem na linha estivesse pensando no que dizer. Ryan, durante todo este tempo, parecia estar sendo o acusado de um julgamento da alta corte. Tremia, enquanto suas mãos suavam frio. Finalmente, a voz voltou a soar.
- Tudo bem. Nós só temos de achá-los. Se eles fugiram é porque realmente estão escondendo algo. Também, não deixe a busca pelo garoto... Galahad, ficar de lado. Sim?
- Sim senhor! Desta vez não o desapontarei.
- É, assim espero. Seja lá o que for isto, já apareceu antes, deixando rastros de destruição terríveis. Não quero arriscar por vê-la de novo antes que estejamos preparados. Qualquer novo avanço, me informe, Ryan.
- Sim! - E assim se encerrou a ligação.

Por incrível que pareça, Dave Cooper estava mesmo levando os irmãos Walles até a próxima cidade. Já havia recebido três ligações da companhia de táxi, e teve de inventar a desculpa mais incrível do mundo para fazer o que estava fazendo. De qualquer forma, ele havia desistido de ficar emburrado e decidiu tentar aproveitar a viagem. Gary agora estava no banco da frente, ouvindo o rádio enquanto cantava junto.
- Então, o que vocês vão fazer depois que eu deixar vocês?
- Nós? Vamos procurar por um amigo! - Disse Gary.
Mal havia notado que falava demais, a música estava empolgante, mas Ann deu um cutucão que o trouxe de volta a realidade.
- Amigo? Que tipo de amigo?
- Hah. É um... É um que nos meteu nessa enrascada toda. - Não deixava de ser verdade.
- E porque vão achá-lo? Só encontrarão mais encrenca! Deveriam é tentar seguir uma vida normal por aí. Começar de novo. Você e sua irmã.
- É, você até tem razão. Mas o negócio é que a gente precisa resolver uns...
- ...Uns assuntos pendentes. - Ann completou do banco de trás.
- É! Exatamente isto!
- Entendo. - Disse Dave, sem acreditar muito na história.
Aquele era um dos dois grandes problemas de Dave Cooper, o de se conformar com pouco. Ele nunca cobrava mais das pessoas e das coisas, mesmo quando lhe era de direito, como naquele momento. O Segundo grande problema de Dave Cooper, era sua bondade sem limites. Mesmo parecendo reclamar de tudo, o taxista simplesmente não consegue recusar um pedido de ajuda. Também como naquele momento.
Ele havia encontrado os irmãos Walles às duas da tarde, e agora, já estava quase para anoitecer. Provavelmente só chegariam na próxima cidade depois de mais umas três horas. Até lá, teriam de aguentar as conversas forçadas que Dave tentava puxar, que parecia ser desconfortável tanto para ele quanto para os dois.
- Ei, Dave.
Gary rompeu o silêncio que havia se mantido por alguns minutos.
- Diga.
- Estou com fome. Sabe?
- Oras, problema seu. Resolva quando chegarmos lá.
- Não, você não entendeu... - E Gary insistiu. - Estou morrendo de fome.
Neste momento ele recebeu um forte cutucão de Ann. A garota foi quem havia conseguido a ajuda de Dave, mas ela sabia que para tudo havia um limite, e o da cooperação de Dave já havia e excedido a tempos.
- O que foi!?
Já Gary não parecia ter compreendido.
- Não percebe como está sendo abusado demais, Gary?
- Abusado? Eu? Ora, só queria comer algo.
- Ele já está fazendo demais nos tirando de Winterclouds! Não precisava nem fazer isto!
- Por isto mesmo! Já que já está ajudando, que ajude por inteiro, ué!
- Às vezes me pergunto onde foi parar a educação que a Mamãe deu pra você.
A frase havia escapado sem querer. Mencionar sobre os pais deles, ainda era um tabu dos grandes para os irmãos. Ainda era difícil aceitar que eles haviam morrido daquela forma, para salvá-los. E com isso, ambos os irmãos ficaram em silêncio, como que em respeito ao Sr. e Sra. Walles. E agora, Dave era quem se sentia culpado por tudo.
- Ei, relaxem. - Disse ele. - Eu posso pagar um lanche para vocês. Só não quero ver discussões no meu carro. Entenderam?
Não houve resposta, mas nenhum dos dois reclamou. E assim, Dave se sentiu melhor consigo mesmo. Passou a mão pelos curtos cabelos loiros, como que tentando arrumá-los, mas eles eram tão pequenos que nem sem moviam do lugar. Era o fruto da tentativa de entrar para o exército, algum tempo atrás. Sem muito sucesso.

Um bar de estrada ia se aproximando, junto de um posto de gasolina, minutos depois da pequena desavença. Dave abriu um sorriso animado.
- Pronto! Matamos dois coelhos com uma cajadada só! Vou colocar gasolina e aproveito para pegar algo para vocês comerem. Afinal, eles vão estranhar se virem pessoas com roupas de hospital saindo de um táxi. Apenas fiquem e esperem.
Os dois apenas consentiram, enquanto Dave descia do carro e conectava a mangueira de gasolina no carro. Deixou apertado, pois o tanque estava em menos da metade e foi até o pequeno bar do posto. Um belo por-do-sol estava no horizonte exatamente naquela hora.
- Me veja... dois daqueles salgados e mais dois daqueles. E aquelas duas garrafas de refresco.
Dizia, para a balconista, enquanto olhava para os pequenos salgadinhos em pacote que haviam por ali. Tinha uma extrema queda por eles, aquele era outro ponto em que sua mãe reclamava demais dele. E de súbito, lembrou-se da mãe. Ela iria estranhar, ele não estar em casa para o jantar. Enquanto aguardava pelos pedidos, puxou o celular e foi para o canto, discando o número da mãe.
- Hah. Olá, Mãe.
- Dave? Você me ligando a esta hora?
- É. Só para avisar que não vou ir para casa jantar.
Pequena pausa.
- Dave? Não se meteu em alguma encrenca de novo, não é?
- Não, não. Não se preocupe mãe, só vou cobrir um turno de um amigo na...

- Ele parece ser um cara legal, né? - Ann tentou puxar assunto no carro.
- Nem tanto. Não achei graça alguma nas piadas deles.
- Ora! Tente ser mais simpático, ele está nos fazendo um grande favor.
- Simpático? Se você não estivesse no carro para fazer a cabeça dele, eu estaria de novo com os Agentes! Ele é só um safado, querendo tirar proveito de você!
- Me poupe, Gary! Mesmo que tenha um pingo de verdade no que você diz, você acha que eu faria alguma coisa com ele?
- Vai saber...
- Gary! - Ann pareceu bem ofendida.
- Ok. Desculpe. Eu vou tentar me comportar.
E a última fala de Gary resolveu tudo. Depois da pequena discussão com o irmão, Ann deitou-se no banco de trás. Mal havia encostado a cabeça no banco, e um som ensurdecedor veio de fora, roncos de motores e freios sendo forçados. Ela já havia imaginado o que poderia ser, mas de qualquer forma, Gary teve de gritar.
- Nos acharam, Ann!
Gritou ele, enquanto ela se levantava para ver que estavam cercados por carros pretos, com homens saindo deles e começando a apontar armas para o táxi.
- Continue abaixada, vou pegar o volante!
- Mas e o Dave?
- Deixe ele para lá! Só temos de sair daqui!
E assim ele saltou para o banco do motorista. Mas antes que tivesse a chance de dar a ignição no carro, ouviu quatro disparos que o fez hesitar, e logo sentiu o carro abaixando rapidamente. Os pneus se foram. Tentou ignorar a idéia que não iriam muito longe e mesmo assim foi ligar o carro. Quando a mão de Ann veio do banco de trás o parando.
- Gary! Não!
- Porque não!? Não me diga que...
Mas antes que terminasse a frase, ele olhou para o lado. Um agente estava com a arma apontava exatamente para a cabeça dele. Gary paralisou na hora, era a segunda vez que corria tanto risco de morte. Mas, o orgulho dele não deixaria ele ficar assim por tanto tempo. Os agentes não atirariam, atirariam? Afinal, nos querem vivos. Foi o pensamento do garoto, pouco antes de abrir um grande sorriso pela idéia.
- Gary.. O que você...
- Vamos lá, Ann.
E deu a partida e disparou com o carro para cima de uma abertura entre dois carros. A princípio, tudo havia dado certo: O Agente que mirava para ele não atirou e os outros que estavam no caminho saltaram para o lado para dar passagem para o táxi. O problema foi logo depois disto. O Carro chocou-se com tudo no pequeno vão entre as duas vans pretas que estavam no caminho, e ralou para abrir caminho entre elas. O carro ameaçou não aguentar abri-las quando ele pisou fundo no acelerador, fazendo finalmente elas cederem. Mas neste exato instante, Gary ouviu um clique do seu lado e Ann gritando. Lá estava o Agente Ryan, sentado no banco de trás com a arma encostada na cabeça de sua irmã. Ele parou o carro no mesmo instante.
Dave também não teve muita sorte com a chegada dos homens de terno preto. Mal tinha informado para a mãe que não chegaria para o jantar, quando eles apareceram, vindo do nada pela estrada e pelas gramíneas em volta. A princípio tentou correr imediatamente para o carro, mas antes que pudesse, fizeram o cerco em volta dele. Parou as pernas e ficou em seu dilema: Deveria fugir, ou tentar salvar os Irmãos Walles? Aqueles homens não pareciam nada com bandidos, para ele. Mas mesmo assim ainda poderiam estar dizendo a verdade.
Nesta confusão mental, dois agentes o pegaram por trás e o imobilizaram no chão.

- Sabe, eu ainda não entendo porque vocês fugiram.
Ryan caminhava lentamente, feliz pela vitória sobre os Walles.
- Afinal, até onde vocês achavam que iriam ir? Cidades tem câmeras de segurança, garotos. É fácil ver para um onde um táxi em alta velocidade está seguindo. Pensava que fossem mais espertos, considerando que fugiram de meus homens no hospital.
Gary e Ann nem sequer ousavam falar, a indignação pelo tom metido do agente estava acima de qualquer outro pensamentos que eles estavam tendo. Eles estavam algemados e sentados no chão do posto, junto de Dave. Foi neste instante que Ryan reparou no taxista.
- E o senhor? Senhor... - Um agente lhe deu alguns documentos. - Hah sim! Senhor Cooper? O que estava fazendo com esses jovens?
- Elas me pediram ajuda e eu dei. Disseram que estavam sendo perseguidos por bandidos.
- E desde quando você acredita assim tão facilmente em qualquer história que ouve? Pois saiba, que nós somos Agentes Federais. E estes aqui são foragidos da nação.
- Ora... Eu só...
- Perfeito. Perfeito. Levem todos. Já que estamos na estrada, vamos direto para a base principal.
- Base Principal? - Perguntou Gary.
- É, jovem Sr. Walles. Sabe, já que vocês não quiseram nos contar tudo, nós vamos extrair a verdade. Seja de um jeito ou de outro. É importante para a segurança nacional. Vamos! Perdemos tempo demais por aqui!

Gary e Dave foram colocados numa van, enquanto Ann foi numa mais na frente. Foi difícil até mesmo para os agentes separar os irmãos daquela forma. De qualquer modo, depois de dez minutos parados ali no posto, os carros partiram em alta velocidade. Dave e Gary estavam nos bancos de trás, enquanto dois agentes sérios e calados estavam no banco da frente. No veículo de Ann, havia três agentes, um com ela e outros dois na frente.
Dave deu um belo cutucão em Gary.
- Bandidos, heim!?
- Se eu dissesse que Agentes Federais estavam atrás da gente, você acreditaria?
- Depende muito. De qualquer forma, não correm nenhum risco de vida!
- É... Na verdade, corremos sim.
- Como é!?
- Bom, é que...
Neste momento a voz irrompeu de um dos agentes.
- Quietos aí atrás!
Restou para os dois apenas se olharem, mas Dave ouviu um baixo sussurro de Gary.
- Desculpe.

- Está apertado demais?
O Agente perguntou a Ann, sobre o cinto de segurança.
- Não, não. Obrigada.
- Disponha. - E sorriu amigavelmente.
Talvez fosse o único daqueles agentes que conseguiam sorrir amigavelmente. E Ann acabou por notar isto. Talvez ele fosse um pouco mais simpático, a ponto de poder conversar com ele. Ela se ajeitou no banco, enquanto o agente agora falava com os dois da frente. Assim que ele voltou, Ann tocou seu ombro de leve.
- É... Qual é o departamento de vocês?
- Desculpe, não posso liberar nenhuma informação detalhada sobre nossa organização. Mas, posso dizer que trabalhamos com ordens diretas do Pentágono.
- FBI?
- Não exatamente.
- Hah. Obrigada. Você foi o primeiro um pouco mais educado.
- No nosso trabalho não estamos muito acostumados a tratar com gente. Especialmente jovens como você. Por isso, acabamos sendo mais rudes do que imaginamos. Se bem que, alguns de nós exageram, e sabem muito bem disso.
- Está falando do tal Agente Ryan?
- Shhhh. - Ele fez, antes que os agentes da frente notassem. - Quer que eu seja demitido ou transferido?
- Hah, desculpe.
- Tudo bem.
E Ann ficou feliz por finalmente ter achado um Agente mais gentil no meio de todos aqueles outros. Um departamento de agentes federais que não tratava com gente, era particularmente estranho ouvir algo assim. Talvez eles fossem aqueles agentes que apareciam nos filmes de Ficção, que cuidam de casos paranormais e coisas do tipo. Eram os pensamentos dela quando o silêncio instaurou-se em sua van. Daí, sua mente já foi para vários outros lugares, e divagou-se. Mal notou quando havia adormecido.
Neste meio tempo, noite caiu. De modo que a estrada agora estava iluminada pelos faróis do comboio de carros pretos. Eram seis, no total. Dois carros na frente, seguido por três vans, mais um último carro no final. Gary e Dave estavam na última van, enquanto Ann estava na primeira. O garoto, ao contrário da irmã, não havia dormindo por nem um segundo. Sempre agitado ou tentando conversar em voz baixa com Dave. Acabou descobrindo que o taxista era mais simpático do que ele pensava ser, depois teria de se desculpar verdadeiramente com ele. Também percebeu que o carro de trás, que era como os dois da frente, pareciam réplicas pretas dos carros de corrida que geralmente ficava vendo na internet. Dave sorriu ao perceber o fascínio do garoto pelos veículos.
- Gosta de carros, é?
- Sim. Amo.
Dave riu de leve.
- Sabe, eu poderia ter sido um piloto de alguma modalidade de corrida.
- Sério!? Porque não virou?
- É, sabe... No dia do teste, eu precisei socorrer minha vizinha. Ela era idosa e mais ninguém cuidava dela quando teve um ataque do coração. Tive de ficar junto dela até a ambulância chegar. Quando dei por mim, já havia passado a hora do teste. Fiquei tão estressado que decidi nem apostar mais em virar piloto.
- Nossa. - Gary havia voltado toda atenção para ele. - Isso deve ser triste mesmo. Pelo menos você fez a coisa certa. Salvou a vida da velhinha.
- Na verdade... Não. Ela não chegou a tempo no hospital e acabou falecendo.
Gary acabou sem saber o que dizer por alguns segundos, até tentar formar um sorriso.
- Pelo menos você era bom?
E agora, Dave era quem tinha aberto um grande sorriso.
- Com certeza tinha mais talento que qualquer um dos meus concorrentes.
- Do jeito que fala, parece duvidoso.
- Ei!
E ambos começaram a rir, antes de serem silenciados pelo Agente que estava dirigindo.
- Silêncio aí atrás! Isto não é uma viagem para vocês!
E assim o comboio seguia noite adentro.
O carro de Ryan era o mais a frente, ele sentava-se no banco de trás enquanto um de seus agentes dirigia para ele. Provavelmente também era o carro mais confortável e cheio de apetrechos entre todos aqueles seis. O velho agente mexia distraidamente no celular, vendo algumas mensagens e reenviando-as, parecia finalmente estar satisfeito com parte de seu trabalho.
Enquanto isto, Ann havia acabado de acordar na sua van. Espreguiçou-se lentamente, lamentando estar com as algemas. Abriu os olhos e notou o quão sombrio estava tudo aquilo em volta. O carro não soltava um único pio, e a única luz que ela podia ver eram a dos faróis dos carros. Sentiu um leve toque no ombro e virou-se para o lado, o Agente que a acompanhava estava ali. Mas desta vez, não sorria, sua face séria, somada ao seu tamanho agora o deixavam até mesmo assustador.
- O que foi?
Ann ainda estava meio atordoada.
- Não sei. Algo está errado.
- Como assim?
- É, alguma coisa ruim está para acontecer.
- Não estou te entendendo.
- Desculpe, é algo que tenho desde criança. Sempre antes de algo ruim acontecer, tenho um mal pressentimento. Como se passasse mal.
- Está sentindo isso agora?
- Sim. Algo está vindo, lá fora.
E ambos olharam para trás. Tudo parecia normal com os carros que vinham mais atrás, mas não era isto que preocupava. O que preocupava era que não havia mais nada além dos carros. A estrada estava uma escuridão completa e já fazia muito tempo desde que um carro não aparecia. Era como se estivessem correndo e correndo mas não chegassem a lugar algum. E de repente, um leve chiado veio de fora. Começou baixo e quase inaudível, até que começava a aumentar incessantemente. De repente um alto som de derrapadas de um carro soou, e em seguida, e Ann e o Agente grandalhão viram que o último par de faróis girou na escuridão, o carro estava capotando pela estrada enquanto ficava para trás.
A visão que Dave e Gary viram já foi bem mais assustadora, como estavam no carro logo a frente do último, eles puderam ver toda a cena. Tudo parecia estar quieto e tranquilo, até um barulho estridente parecido com o de Morcegos guinchando alto aparecer. Quando olharam para trás, o último carro estava sendo atacado bruscamente por pequenas criaturas negras voadoras. Cada uma não passava de um metro de comprimento, mas vinham aos montes e pareciam fincar suas garras nas laterais e acima do carro. A escuridão não mostrava o total de monstros que estavam por ali, mas pela agitação na escuridão, pareciam ser centenas. Os guinchados não eram a única semelhança que eles tinham com os mamíferos voadores. Eles eram bem iguais a eles, também. Tinham asas feitas de uma espécie de couro e músculos incríveis os circulando. As garras, na ponta mais frontal das asas, eram três grandes ganchos que os prendiam na lataria do carro enquanto o cortavam como se fosse manteiga. O fator mais assustador, para Gary, foram os olhos vermelhos que brilhavam em cada um deles. Era o mesmo olhar da criatura que havia matado seus pais.
- Emergência! Dê o aviso ao rádio!
O motorista do carro de Gary gritou. Mas não foi necessário, o homem do último carro já havia feito o alarme, gritava feito um desesperado enquanto dirigia em zigue-zague para tentar afastar os monstros. Mas não durou muito, logo um penetrou pelo vidro de trás e o Agente soltou o último grito antes do carro capotar quando perdeu a direção.
No primeiro carro, Ryan foi tirado de súbito de sua distração e já estava completamente atento. Mesmo sendo mesquinho, ele era bem profissional. Puxou o microfone do carro e falou pelo rádio.
- Mantenham uma unidade única! Não se desesperem e continuem acelerando o máximo possível!
A ordem recebeu um “Sim senhor!” vinda de todos os carros. Embora não houvesse empolgação nenhuma vindo deles, o medo era claro. E não se podia evitá-lo numa situação daquelas. Mas, nenhum dos agentes estava particularmente assustado demais com as criaturas, apenas viam aquilo como uma situação de risco. Pessoas normais estariam perguntando o que eram aquelas coisas e teriam se desesperado. E foi isto que Ann notou, enquanto seu coração acelerava.
- Voltaram. Mais deles.
Ela disse, seu olhar começava a parecer vago como na primeira vez que uma Sombra a atacou.
- Voltaram? Já viu essas coisas antes, garota!? - O agente sentado ao seu lado a perguntou.
- Já... foram elas que mataram nossos pais e...
- Está bem! Que seja, mas vocês sabem se elas tem algum ponto fraco? Algum tipo de parte vital no corpo ou algo que lhes causa fraqueza? Precisamos de ajuda agora e só vocês podem nos dar alguma resposta.
- Eu... Não sei. Eu...
O agente notou como ela estava parecendo ficar em estado de choque. Aproximou-se dela e deu um leve tapa na face da garota, que a trouxe de volta a realidade num instante. Como se tivesse acordado, agora Ann tinha o coração a mil por hora e estava consciente, diferente da última vez em que ela parecia quase morta e pálida.
- Ei! Acorde! Precisamos de você aqui! Lembre-se que seu irmão está agora no último carro do comboio!
- Gary! - Ela saltou no banco olhando para o vidro.
- Isto mesmo! Agora, tente se lembrar de qualquer coisa que tenha visto naquela noite. Qualquer coisa que possa nos ajudar a deter essas coisas.
- Eu não lembro. Assim que aquilo apareceu, da última vez, eu me assustei tanto que fiquei completamente confusa. Por isso, não lembro de anda que tenha acontecido depois. Só fiquei sabendo de tudo pelo meu irmão que salvou minha vida.
- Tsc!
E ele socou o banco, enquanto tentava pensar em algo.

- Droga, eles estão se aproximando, não dá para ir mais rápido!?
Gary gritou do banco de trás para o motorista.
- Cale a boca, garoto! Estou fazendo o possível aqui!
- O possível não está dando certo! Tente fazer algo impossível!
- E como pensa que eu faça algo do tipo!?
- Sei lá! Vocês não são agentes federais!?
- Argh! - E ele apenas ignorou Gary então.
Dave, ao contrário, só estava ali, atônito, olhando para trás. Era a primeira vez que via aquelas coisas, e, como para qualquer pessoa normal, aquilo não era algo a se considerar normal. Ele olhou o taxista com o canto dos olhos e lembrou-se que não havia contado nada para ele. Balançou o ombro dele com força para tirar a atenção dele do vidro.
- O que são estas coisas!?
- Então, essa é uma das partes da história que eu não te contei. Esses agentes aí estavam procurando eu e minha irmã porque nós fomos os únicos sobreviventes ao ataque de uma dessas coisas. Mas, nós não queremos virar nenhum rato de laboratório ou coisa do tipo. E ainda mais, temos de achar o Gal...
- Gal?
- É. Um amigo nosso, também estava conosco quando um desses bichos apareceram.
- ... Tudo bem. Que seja. Só quero saber, o que vamos fazer agora?
- Não sei, não lembro de nada que possa ajudar com esses monstros.
E neste momento, o vidro da Van trincou. Uma Sombra estava batendo com a cabeça a toda força no vidro, e ele não aguentaria mais por tanto tempo. Gary e Dave se afastaram do banco, ficando apoiados nos bancos da frente. Neste instante algo tocou seu ombro. Uma arma estava ali.
- Tomem! Façam algo de útil! Se alguma dessas coisas ousar entrar, acabem com elas. Estourem seus miolos! Argh! Não deveríamos ter deixado as Armas Especiais no porta-malas!
- Armas especiais?
- Esqueça o que eu disse! Apenas engatilhe a arma e prepare-se!
Dave também recebeu uma pistola do outro Agente. E agora ambos estavam com as pistolas engatilhadas apontadas para o vidro. Eles tremiam e, por estarem algemados, seguravam as armas com as duas mãos. O agente sentado no banco de passageiro na frente também segurava uma, mas ele a apontava para a própria janela, as Sombras já estavam os circulando. De repente, um guinchado soou alto acima do carro e duas garras surgiram acima do carro. Mais vários outros guinchados começaram a soar, eles começariam o ataque.

- Pelo amor de deus Façam algo! Eles estão começando a atacar a van! - Ann parecia desesperada em sua Van. E o Agente se culpava por aquilo. Diferente dos outros ali, o principal motivo pelo qual servia ao governo era algo nobre. Servir a população. Rapidamente esticou o braço para o banco da frente e pegou o rádio.
- Senhor! Não vamos conseguir escapar deles nesta velocidade! Precisamos ficar e lutar contra eles! Ou seremos dizimados um por um!
Não houve resposta.
- Senhor! Está na escuta!?
Mas a voz do Agente Ryan ainda não soava.
- Ei, Johm.
- Thomas? O que está acontecendo aí na frente?
- O Supervisor Ryan mandou o carro dele acelerar e já está longe de nós. Estamos sozinhos aqui e sem comando. Temos um carro, este que estou dirigindo. E mais três vans, uma já sob ataque.
- Fugiu!? Argh! O maldito é mesmo um covarde!
- É, e todos sabemos disto já faz um tempo, não é mesmo? Eu também poderia fugir, bastava acelerar mais meu carro e estaria junto dele em alguns bons minutos. Mas eu não sou do tipo que abandona os companheiros, sabe? E então, o que vamos fazer?
Johm, o grandalhão gentil ficou quieto por algum instante. Pensativo sobre alguma estratégia.
- Ei! Poderiam pensar mais rápido por aí!? Nós estamos quase sem o teto aqui!
Soou a voz do Agente que dirigia o último carro no microfone. A voz dele quase fora abafada por vários grunhidos agudos que soavam. Ele tinha de tomar uma atitude rápido.
- Formação de cerco fora da estrada! Vamos nos fechar e ver se conseguimos afastá-los com as Especiais, talvez consigamos pegá-las caso ganharmos tempo. Preparados?
As vozes dos quatro Agentes no volante, incluindo o que dirigia o carro de Johm soaram juntas:
- Sim senhor!
- Ótimo! Saltem para fora da estrada pela direita... Agora!

E seguindo seu comando, os quatro carros saltaram numa sincronia perfeita para fora da estrada. Adentraram um pouco para dentro das gramíneas e começaram a andar em círculos. Os quatro carros estavam formando uma perfeita circunferência em torno de um eixo imaginário marcado com raio de dez metros. A técnica dos Agentes Federais não podia ser questionada.
As Sombras, vendo a nova formação, se assustaram e afastaram-se da Van que agora era só um dos quatro carros que faziam o círculo. Enquanto dentro da van, um agente jogou a chave das algemas para trás. Gary e Dave se entreolharam e em seguida olharam para as chaves no banco.
- O que estão esperando!? Precisamos de qualquer ajuda possível agora! Soltem suas algemas!
Não foi preciso dizer duas vezes. Gary e Dave soltaram as armas e foram para cima do pequeno molho de chaves. Por sorte, qualquer uma delas abria as algemas e logo se viram soltos. Mal se libertaram, e pegaram de volta as pistolas quando a voz de Johm soou no rádio.
- Preparativos prontos!?
- Sim! - Responderam.
- Ótimo, vamos preparar para saltar.
- Sim senhor!
- Espere, Espere o que é isso de saltar!? - Gary interrompeu do banco de trás.
- Quando nós frearmos, todo mundo deve sair do carro com tudo e ir para centro do cerco, entendido?
- Tá. Acho que sim.
- Saltar! - Veio a ordem.
Os motoristas automaticamente pisaram com tudo no freio e puxaram o freio de mão. Os carros quase empinaram para frente mas pararam. Todos saíram dos carros numa velocidade incrivelmente rápida e foram ao centro. Todos os agentes estavam com pistolas apontadas para cima, mas Gary não estava ligando muito para isto. Ele correu para abraçar a irmã.
- Ann!
- Gary!
- Sem coisas melosas agora, garotos! Temos trabalho a fazer! - Veio a voz de um dos agentes.
Notando bem, Gary pôde notar que ele era um dos que estavam os vigiando no hospital, mais de manhã. E só então percebeu que tudo aquilo havia acontecido num único dia. Que dia! As sombras estavam sobrevoando o centro do círculo como se fossem uma cúpula de asas negras, os guinchados pareciam cada vez mais altos enquanto algumas passavam em rasantes bem próximos a eles. Eram onze agentes e os três. Johm parecia ter sido aceito como o novo Supervisor do grupo, pelo menos até aquilo acabar. Ele mirava, incessante sua arma para cima.
- Vão! Rápido! Foster e Peters! Peguem as Armas Especiais na van agora! Merry e Thomas também! Vão! O restante, dêem cobertura a eles!
- Sim senhor!
E assim, quatro agentes correram para dois lados opostos. Cada um em direção a uma das vans. Conforme se afastavam do centro, as Sombras começavam a se ousar mais dando rasantes cada vez mais próximos. Johm e os que ficaram atiravam contra elas ao menor sinal de perigo. As balas ricocheteavam em suas peles e as atordoavam, fazendo-as desistir do ataque.
- Tsc! São resistentes! Pensava serem mais fáceis de matar! - Grunhiu enquanto atirava. E num ato de distração, deixou de cuidar um dos lados de um dos agentes. A Sombra aproveitou a brecha e mergulhou com tudo, cravando suas garras no desesperado agente Foster e o levando para cima para desaparecer no meio da nuvem negra viva. Peters parou por um instante.
- Não pare! Vá e pegue logo as especiais! - Gritou Johm.
O agente o obedeceu e finalmente alcançou a van. Rapidamente abrindo o porta-malas e tirando de lá duas grandes maletas verdes e compridas. Para logo em seguida começar a correr de volta ao centro. Os tiros das pistolas agora soavam com cada vez mais frequencia, as Sombras estavam reganhando a confiança e atacavam mais.
Finalmente Peter chegou ao centro com as maletas. Ao mesmo tempo que Merry e Thomas chegaram com mais duas. Johm abriu um pequeno sorriso.
- É hora de tentarmos uma bela revanche! Cany, ajude Peters com as armas. Merry e Thomas, já preparem as suas também!
- Sim senhor!
E abriram as maletas com um identificador de digitais nos trincos. Elas destravaram e os agentes abriram-nas. Dentro de cada uma delas, havia uma grande arma de tiro, bem parecida com um canhão. Só que tinha apetrechos bem mais tecnológicos. Gary, Ann e Dave olharam para as armas, atônitos. E o canto do olho de Johm viu isto, um leve sorriso de satisfação o invadiu.
- Gostaram? Estas armas foram feitas especialmente para nosso departamento. Aquelas coisas nas costas dos agentes contem uma quantidade enorme de oxigênio sob pressão, são criadas chamas ali dentro e alimentadas por dispositivos ligados ao oxigênio. Criando uma quantidade enorme de chama em menos de poucos segundos. Nós a chamamos de Torpedos-de-Lava. Especializadas em eliminar coisas desse tipo, é nossa última aposta! Caso contrário, lamento dizer mas morreremos por aqui!
E a frase dele se finalizou, seguida de um grito vindo da esquerda, a Sombra agarrou um agente pelas costas e já estava no meio do caminho para a cúpula negra. Johm pareceu insatisfeito com a perda. Mas continuou atirando contra qualquer coisa que se aproximasse.
- Senhor, armas prontas!
- Façam a festa!
- Sim senhor!
E assim se levantaram do chão; Cany, Peters, Merry e Thomas. Eles seguravam a grande arma com as duas mãos e tinham um pequeno apetrecho de mira presos ao olho direito. As armas se ligavam por um pequeno cabo até uma espécie de gerador que eles carregavam como se fossem mochilas nas costas.
Levantaram a mira para o alto e dispararam. Vários Torpedos de chamas foram disparados contra a cúpula, e assim que chegaram até ela, se abriam numa teia gigantescas de chamas que engolia cerca de mais de cinco metros de área cada. Os olhos de Gary, Ann e Dave se iluminaram com a cena. As Sombras, ao sentirem as chamas gemiam e se afastavam bruscamente abrindo espaços na cúpula que permitiram até se ver parte do céu ali de dentro. A maioria ainda sobrevivia, mas algumas, mais próximas a área de contato da explosão de chamas simplesmente desapareciam como uma escuridão se dissolvendo em nada. Johm e os outros agentes agora assumiam apenas uma posição secundária, cuidando para que os Atiradores principais não fossem devorados num descuido. A cara do Agente grandalhão que virou amigo de Ann ainda não estava nada boa. Ann se aproximou.
- O que foi? Está funcionando afinal, não está?
- Sim, está. Mas não do jeito que eu imaginava. Pensei que eles iriam simplesmente queimar e começar a cair no chão aos montes. Mas as malditas são incrivelmente resistentes.
No geral; Ann, Gary e Dave estavam sentados de costas um para o outro no centro de tudo, Johm estava ao lado deles, cuidando para que nenhuma Sombra os atacasse. Cada agente que portava um dos Torpedos-de-Lava tinha ao seu lado mais um agente cuidando da retaguarda. A situação parecia até estar sob controle, até que numa sincronia incrível, cerca de vinte Sombras descessem contra uma dupla de Agentes. Peters disparou o torpedo, e as chamas engoliram a maior parte da Sombras, mas algumas romperam a fumaça para continuar o rasante. Não houve tempo para mais nenhuma reação. Elas mergulharam sobre os dois agentes, fazendo-os caírem no chão aos gritos, as garras fincavam-se neles, rasgando-lhes a carne facilmente.
Johm mirou a arma e disparo uma rajada de tiros nas Sombras, fazendo elas novamente levantarem vôo. Mas já era tarde demais, só restava os corpos dos agentes ali. Agora sim o grande Agente parecia tenso. O cerco fechou-se mais ainda, para poderem cobrir todos os lados, e ele virou-se para os três.
- Não aguentaremos por muito mais tempo. Eles estão atrás de vocês, então vocês precisam sair daqui agora mesmo. Do jeito que está indo, poderemos segurá-los por só mais alguns poucos minutos.
- Mas como vamos sair daqui!?
Gary estava um tanto incrédulo com tudo aquilo. Mas Dave ainda estava paralisado de medo. O agente rapidamente apontou para o carro.
- O carro é capaz de correr muito mais que as vans. Tanto que o maldito do Ryan fugiu de nós com um deles. Se vocês o pegarem e saírem daqui agora, terão uma boa chance de escaparem. O taxista aí sabe dirigir, não sabe?
- Sabe sim! Ele disse que quase virou piloto de corrida!
- Ótimo, ele pode sair daqui com vocês.
- Mas, olha pra ele. Está completamente desligado.
- Eu sei uma solução para isso.
E logo depois da frase, Johm deu um belo tabefe na cara do taxista. Ele caiu para o lado no mesmo instante, de volta a relaidade. Johm explicou para ele rapidamente o que falaram ali.
- Certo, certo. Eu posso dirigir sim.
- Perfeito! Esperem o meu sinal e vão correndo, as chaves já estão na partida. Só lembrem-se que o freio de mão está puxado. Alguma dúvida?
- Eu tenho... - Ann finalmente falou. - ... E você?
- Ora...
E Johm sorriu de leve, desviando o olhar. A garota havia, nos poucos minutos de conversa que teve com o Agente, adquirido uma grande afeição a ele. E provavelmente o agente sentia o mesmo em relação a ela. Ele fez um leve carinho na cabeça de Ann.
- Nós vamos tentar mantê-los ocupados o máximo de tempo possível. E depois vamos tentar evacuar, também. Talvez... Talvez nós consigamos sobreviver, quando eles notarem que não estão mais aqui, talvez eles saiam atrás de vocês.
- Mas e se isto não acontecer!? Vocês vão morrer!
- Se der nisso, quero que viva o resto de minha vida, e dê um alô para minha esposa e minha filha. Elas moram no Texas. Agora sem mais papo! Garoto, leve sua irmã daqui assim que eu gritar.
- Sim. Mas, para onde devemos ir, daqui?
- Bom, se vocês ainda acreditam um pouco em nós, peguem o carro em vão para o Arizona. O presidente de nosso departamento já está bem velho, mas ainda tem dignidade e é bem mais sensato que o Ryan. Para encontrá-lo, perguntem por Collins numa loja de conveniências de Koenut, uma cidade próxima do deserto. Digam que vieram sob minhas ordens, agente Johm Lenn, aspirante a supervisor.
- Tudo bem. E... Obrigado.
Disse Gary. Johm deu um peteleco na testa do garoto.
- Certo, preparem-se para correr.
E em seguida o Agente levantou-se, gritando algumas ordens para os seus Agentes. Um dos agentes que cuidavam da retaguarda dos Torpedos-de-Lava tinha morrido durante a conversa. Vítima das investidas das Sombras. Johm estava imóvel, apenas observando a movimentação das Sombras enquanto seus agentes disparavam em tempos calculados, esperando a ordem do agente.
- Agora!
Gritou ele. E os três dispararam em direção ao carro. Ao mesmo tempo, os três torpedos-de-lava se juntaram e dispararam uma rajada de Lança-chamas enorme que cobriu mais da metade da cúpula, fazendo as Sombras abrirem um grande espaço e se espalhassem pelo céu. Johm correu até o corpo do atirador do quarto Torpedo e pegou a arma para si, logo se juntando aos outros três. Os Walles e Dave já estavam no carro, prontos para saírem.
Johm virou os olhos para eles por um instante. O suficiente para ver Ann olhando-o.
- Não morra, Sr. Lenn!

Ela finalmente gritou. Ele apenas deu uma piscadela para ela. E em seguida, Dave arrancou com o carro noite adentro. Deixando-os para trás. A sua habilidade no volante estava se mostrando superior ao que Gary imaginava. Ele se mostrava completamente ligado ao carro, mesmo nunca tendo dirigido um daqueles antes. Em poucos minutos, toda aquela batalha contra as Sombras se tornaram apenas grandes clarões vermelhos ao longe.

Leia até o fim...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Fotos de Nuvens

Olá, meus poucos – e muito bons – leitores! Já faz algum tempo desde a última vez que me expressei mais amplamente pelo blog. E acho que mereciam alguma palavra vinda de mim. Eis que, ontem acabou me surgindo algumas boas idéias para dividir com vocês. Alias, na verdade as idéias vieram bem antes, mas foi ontem que elas afloraram.

Tinha acabado de sair do Karatê( Treinando duro para o exame. :x ) quando notei que o céu estava lindo. E, como alguns de vocês sabem, eu tenho o hábito de tirar fotos do céu em seus bons momentos. Puxei minha mochila pra descobrir que tinha esquecido minha câmera em casa. Perfeito, ainda podia apreciar a vista. E foi aí que notei: Eu quase nunca parava para observar o céu, e sim, a foto. Sabe como é estranho? A foto é linda, mas, ao vivo e a cores, na real, o céu é beeeem melhor e mais lindo. Mas eu nunca parava para notar isso. Tirava a foto e deixava por isso mesmo, continuava seguindo meu rumo. Então, o que eu tenho para dizer é baseado nisso. Muitas pessoas, se fixam demais numa meta, e acabam esquecendo de aproveitar o caminho até ela. Curtam mais a vida! E notem que não é só o final que importa, e muito menos menosprezem tudo isso! >:T

Sei lá, é um pensamento meio bobo. Mas achei que deveria dividir com vocês. Agora, vou tirar menos fotos e olhar mais para o céu. Acho que é o melhor que eu faço.
Leia até o fim...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dream Breaker

Não fiz correções, avisem caso encontrarem qualquer erro. 





Número de Série: 217-AB-38. Sou uma máquina de matar, construída pela NewDreams Corporation para serviços contratados. Fui feito sobre forma humanóide, e, para ser bem visto e aceito em qualquer sociedade, também me deram altos padrões de características positivas. Ou, como meu criador diz: “ É melhor um robô galante do que um Gordo Nerd. ” Nunca entendi a frase por completo, mas nunca questionei meus superiores, não tenho permissão e nem capacidade de tal ato. Sou uma máquina, afinal.
O principal objetivo de todas as minhas missões já efetuadas foi uma só: Assassinato. Já me envolvi diversas vezes, e em algumas, cometi falhas que levaram a intromissões dos Oficiais de Estado e Policiais. Mas, graças ao grande poder da NewDreams, as investigações nunca seguiram a diante. E assim, sigo cumprindo minhas metas conforme elas são anexadas a mim. Sem questionar, Sem contrariar. Apenas aceito a missão e vou cumpri-la.

Aquela, era mais uma missão de assassinato. Me recordo de data, hora e até mesmo a tonalidade de voz com a qual me foi dita a missão. Mas, como meu Criador meu aconselhou, não entro em detalhes minuciosos, isso não é do agrado de humanos. Por isso, serei bem breve. A Missão era um pouco diferente das demais: Devia vigiar. E, quando recebido o sinal, Assassinar.
No dia seguinte fui apresentado ao alvo.
- Querida, este é seu novo segurança. - Disse meu contratante.
- Desde quando pedi mais um para ficar na minha cola, papai!? Já chega disto! - Respondeu meu alvo, saindo do quarto.
A garota que tinha minha atenção deveria ter cerca de, no máximo, vinte e dois anos. Pela análise corporal, ela é considera atraente e sedutora para padrões humanos. Embora eu não tenha sentido nada com relação a ela. Tinha olhos azuis e um cabelo loiro claro. O contratante dos Serviços da NewDreams Corporantion era seu pai. Não fui informado de nomes, não me era necessário, mas sabia que era um grande mafioso. Tudo por dedução simples de vestimentas e rotinas.
E assim, me infiltrei na vida da família. Quase sempre andava calado, observando a garota, e andando dois metros atrás dela. Não haviam mais outros seguranças além de mim. A garota – que a início nem ligava para minha existência, começava a periodicamente me observar, e quando eu a notava, perguntava se havia algo errado. Mas nunca recebia uma resposta com sentido.
- Tem algo errado em mim? - Perguntei um dia que ela me observava durante uma caminhada num parque. Ela desviou o olhar e corou.
- Na.. Nada errado. Nada. - E continuou andando. - Escuta. Você, pode se aproximar mais de mim, se quiser...
- Está sentindo algum risco, Senhorita?
- Não... - E ela parou para pensar. - Quero dizer, sim! Estou com medo de que algo possa acontecer! Não poderia ficar mais perto de mim?
No mesmo instante, analisei a área do parque. Fora a mim mesmo, não havia mais nenhum risco para a vida da garota por perto. Mesmo assim, me aproximei alguns passos a mais do que os típicos dois metros de sempre.
- Não há nada de errado.
- E o que importa? Como tem certeza disto, alias? Seu trabalho é me dar segurança! Venha, se aproxime mais. - E quando dei mais alguns passos, ela agarrou meu braço e ficou grudada nele. Pelo sorriso que ela mantinha, ela parecia feliz pela minha companhia. Embora eu nada soubesse do assunto, afinal, não conhecia felicidade.

E com o tempo, mais ela tentava conversar comigo. Eu não entendia muito, mas respondia sempre que continha a resposta correta ou a que imaginava ser correta. O pai dela, meu contratante e o único que podia me autorizar a matá-la olhava tudo com bons olhos. Não entendia o que pretendia, até porque, sentimentos não são compreendíveis por uma máquina. Mas pela análise de padrões de expressões, ele parecia, como meu criador dizia: Macabro.
Mas isto não era do meu interesse. Alias, eu não devo ter interesse algum, apenas metas e como cumpri-las. E por isto, lá estava eu, novamente acompanhando a Senhorita Wallhard de perto, ela segurava em minha mão e os dedos estavam entrelaçados com os meus. Não compreendia aquilo, mas tudo indicava que ela tinha se apaixonado por mim, uma máquina. Entretanto, meus pensamentos sobre aquele dia foram bruscamente interrompidos quando ela parou, e me fez parar junto. Seu olhar estava triste, e ela o desviava de mim. Talvez eu fosse a fonte de seus problemas. Voltei até ela.
- Algum problema, Senhorita?
- Não.
- Desculpe discordar mas, parece estar com um.
Como eu tinha de aparentar ser humano, tinha de discordar de certas coisas ditas por eles.
- É que...
- Pode dizer, Senhorita.
- O que eu preciso fazer para te conquistar? Droga! - Explodiu ela.
- Não entendo o que quer dizer, Senhorita.
- Claro que entende! Tá na cara! Eu gosto de você, mesmo você sendo mais um segurança idiota contratado pelo meu pai pra ter um olho em mim! Só que... Você é diferente. Seu mistério acabou me cativando e agora... Agora não sei mais o que fazer! Droga!
- Senhorita, ainda não compreendo ao certo o que deseja.
- Eu desejo você! Droga!
- Se é o que deseja, não vejo porque não aceitar, Senhorita.
- O que?
- Isto mesmo.
- Você... Você tá falando sério?
- Já me viu de brincadeira?
- Não é só que.. Que... - E ela se calou e me beijou. Por sorte, tenho uma interface humana que foi feito devidamente para estas ocasiões. Ou seja, ela não beijou uma massa de ferro, e sim uma réplica perfeita do interior de uma boca humana.
E assim seguiram-se os dias. Meu alvo pareceu agora ficar mais próximo de mim do que nunca. Sempre me acompanhando, até quando não estava em serviço. Para quase qualquer lugar, ela me acompanhava. Talvez, caso sentisse emoções, eu teria me sentido extremamente feliz e agradável ao lado dela. Ou teria sido uma extrema chatisse aguentá-la. Mas como eu não sinto nada disto, foi apenas parte da missão estar sempre junto da garota. E assim meses se passaram. O contratante parecia estar gostando de tudo aquilo, e por isso, pagava sem remorso as contas mensais pelo meu aluguel para a NewDreams. Cheguei até a supor que ele gostaria que eu ficasse assim por alguns bons anos.

Mas minha hipótese foi falha. Oito meses depois de ser ativado para a missão, o contratante me chamou na sala dele, para uma reunião particular a portas fechadas. Entrei e permaneci de pé em sua frente. Não tinha necessidade de me sentar, e talvez nem tivesse tal direito. Ele fumava um grande charuto, cubano, pela minha análise de ar.
- Escute, você fez um ótimo trabalho até hoje.
- Não mais que minha obrigação, senhor.
Minha fala causou grande riso nele, não entendi o porque.
- Por isso adoro vocês, máquinas! Parecem que não aceitam elogios!
- É apenas a realidade, senhor.
- Ok! Ok! Mas vamos ao que interessa! Seu contrato vai finalmente chegar ao fim! Esta noite, quero que elimine o alvo. Já não aturo mais aquela pirralha!
- Como desejar.
- E mais uma coisa, deixe bem claro para ela que a matou. Isso vai ser ótimo.
- Como desejar.
E assim saí da sala dele. Meus sistemas ligados ao raciocínio tentavam ligar o porque de um Pai desejar matar a própria filha. Muitos poderiam ser os motivos, mas nenhum vinha a tona mais claramente. O que podia fazer era apenas me preparar para aquela noite.

O que não demorou muito. Passei o dia todo novamente com o alvo, e a deixei na porta de casa para seguir para o meu turno de vigia. Que naquela noite, serviria para outra coisa. Assim que ela fechou a porta, fui prepara-me para o assassinato. Destravei minha Sig Sauer e revi em meus dados a planta da casa. Nós, Máquinas de Matar temos sim armas embutidas pelo corpo que são bem melhores que qualquer arma de pequeno porte que um humano porta. Entretanto, para manter as aparências de um assassino comum, era preciso o uso de pistolas.
Era de madrugada, chegada a hora. Precisava parecer ter invadido a casa. Por isto, saltei o muro dela, e entrei pela janela da sala. Havia decorado o turno dos guardas, e passei exatamente numa brecha vista. Já dentro do loca, ativei a visão noturna de meus olhos para seguir. O quarto dela ficava no segundo andar e subi lentamente até lá. Porta destrancada, como era de se imaginar de uma jovem. Entrei. Logo que adentrei o quarto, liguei a luz.

Ela estava dormindo, se revirando na cama agora que a luz foi acesa. E lentamente espreguiçou-se ainda de olhos fechados, para levantar-se lentamente em seguida enquanto os abria.
- Mas o que está acontece... - E me viu. - Ora, o que está fazendo aqui a essa hora?
- Vim concluir meu trabalho, Senhorita.
Minha arma estava visivelmente apontada para ela. Mas a garota pareceu ainda não ligar os fatos.
- Como assim, querido? Não estou entendendo...
- Fui contratado para te matar quando a ordem me fora dada. Ela me fora dada esta tarde.
- Ei, calma. Como é? Não entendi nada, é algum tipo de brincadeira, não é? Vamos lá, abaixe essa coisa e venha aqui. Já que você já está no meu quarto. Porque nós não...
- Não é nenhum tipo de brincadeira.
- Hm?
- Não há brincadeira alguma quando disse que fui contratado para te eliminar.
E ela finalmente pareceu entender tudo. Arregalou os olhos e o sorriso desmanchou-se da face.
- Espere. Você, está falando sério?
- Exatamente.
- Então, você não se aproximou de mim porque gosta de mim?...
- Nunca realmente disse isso senhorita. Me aproximei porque foi de seu interesse.
- E agora você...
- Sim. Estou lhe eliminando.
- Não! Espera!
Ela entendeu o que se passava e agora, parecia querer evitar. Seus olhos começaram a ficar úmidos, lágrimas começaram a cair. Já fora informado antes delas, embora nenhum de meus alvos nunca tivera tempo para derramá-las. Esta era a primeira, e eu me questionava o porque das lágrimas.
- Depois de tudo que passamos juntos, você realmente não sente nada por mim?
Parei para que os sistemas de análise me dessem uma resposta. Mas os sistemas de raciocínio. E o que me dizia sobre o que era de um padrão humano me davam outras respostas. E assim, fiquei alguns segundos aguardando uma resposta. Enquanto isto ela se levantou, começando a dar passos em minha direção.
- Quer dizer que, mesmo me beijando e me tendo, você nunca gostou de mim? Responda-me!
Mas continuava sobre análise. Os dados demoravam para sair, coisa que nunca antes havia ocorrido. Mas, como ela não apresentava perigo algum para meu mecanismo, deixei ela agir como desejasse enquanto isto. A garota agora chorava aos montes, enquanto esticava as mãos em minha direção, lentamente.
- Escuta... Eu não confiava em mais ninguém além de você. Meu pai, nunca me amou de verdade, porque eu não sou filha dele de sangue. E minha mãe, morreu pelas mãos dele. Eu, não sei mais o que fazer. Se você me abandonar eu não sei mais... Eu...
O novo dado que ela me deu era o que confirmava uma das hipóteses sobre o porque de meu contratante me dar tão peculiar missão. Não era comum um pai assassinar a própria filha, mas caso ela não fosse, e fosse fruto de um adultério, ai os motivos são inúmeros. Analisando os novos dados ainda me contive de dar uma resposta. E foi enquanto ela notava isso que ela teve um pingo de esperança sobre mim. Sobre a hipótese de eu talvez contrariar meu superior e negar a matá-la.
- Só me responda isso, querido... Você nunca sentiu nada por mim? Mesmo?...
Era uma hipótese boa a se pensar alias. Rebelar-me. Não tinha um sistema de auto-destruição, e não podiam me destruir por controle remoto. Além disto, sou muito melhor que qualquer outro agente existente. E meu modelo é o mais moderno já feito. Não haveriam obstáculos contra os quais devesse temer caso me rebelasse. E, neste exato momento veio minha resposta para a pergunta dela:
- Não.
E puxei o gatilho, eliminando meu alvo.

Ainda não compreendo sentimentos humanos. E talvez, também não compreenderei nunca. Muitos deles, alias, viam-me como incapaz de realizar certos tipos de missões. Talvez a teia de filmes de ficção científica já feitas, onde o robô no final tem sentimentos, tenha influenciado suas mentes. Deveriam ser mais realistas.

Imagem: sad robot by ~natdatnl

Leia até o fim...

Os 8 Escolhidos - Capítulo 6

Novamente sem revisões, avisem caso acharem erros, por favor. =x 


Capítulo 6 – Histórias e Escolhas

O grande veículo de três rodas – Que Hórus chamava de Benny – parou depois de algumas horas, perto de um lago. Cenário não tão raro, não em Michigan. Gal havia adormecido; merecia, após tanta coisa que teve de enfrentar e ouvir numa noite só. Era impossível prever o quanto haviam andado, visto que Benny era diferente de qualquer outro automóvel já inventado.
- Bom, o que fazemos agora? - Disse Hórus, esticando-se na cadeira de motorista.
- Precisamos entrar em contato com outros Buscadores. Espero que aja mais deles, alias.
- É. E também, precisamos ver o que o garoto aí tem de especial.
- Isso podemos deixar para depois. Fomos bem rápidos desta vez.
- Não muda o fato que todo tempo é precioso.
- ... - Khalador acomodou-se melhor em seu lugar.
Enquanto isto, Hórus mexeu em alguns comandos do painel frontal. Estava começando a clarear, e o silêncio parecia reinar por ali.
- Que tal contarmos logo tudo para ele, Khal?
- Acho que ainda não está preparado.
- Eu acho que está.
- O que te faz pensar assim?
- Bom, ele já viu uma Sombra. E, tipo, ela matou o pai dele.
- Ainda sim é um garoto.
- E continuará sendo quando as Sombras estiverem à solta por aí. - Hórus tinha uma expressão séria na velha face. Ele também conhecia o terror daqueles monstros. Khalador soltou um longo suspiro e levantou-se de seu assento, indo em direção ao adormecido Gal.
- Tudo bem, acorde-o.
O velho desmanchou a face enrugada e sorriu para Khalador, saindo de seu assento para ir chacoalhar o garoto. Gal abriu os olhos lentamente, e relutante. Por um instante até imaginou se tudo que havia visto pudesse ser apenas um sonho. Sua esperança se desfez quando viu Hórus sorrindo para ele. O velho motorista era realmente bem mais baixo que qualquer outro idoso que já havia visto.
- O que há, garoto? Não queria saber de tudo? Aqui está sua chance!
Gal saltou no banco, tentando parecer mais acordado. A fala de Hórus havia atiçado sua curiosidade ao extremo. Khalador sentou-se ao lado do garoto, enquanto arrumava seu cabelo para que não ficasse na frente do rosto.
- Podem falar. Estou pronto para ouvir.
- Perfeito. Antes de tudo, qual o seu nome, garoto?
- Gal.
- Apenas isto?
- Não. Meu nome completo é Galahad Broadcase.
- Hm. Galahad. É um nome bem incomum por aqui, não é?
- É... Foi o nome de um dos cavaleiros da Távola Redonda.
- Távola Redonda? - Khalador disse, mais interessado.
- É. Sabe? O Rei Arthur, Lancelot? A espada na pedra e tudo mais?
- Não sou... daqui. Por isso não sei de nada sobre sua cultura.
- Bom, não importa mesmo. É só uma lenda boba.
- Não deveria subestimar lendas, Garoto. - Hórus intrometeu-se, enquanto virava o banco do motorista para trás para poder sentar-se de frente para ele.
- Não acredito nestas coisas. De qualquer forma, vão me explicar ou não?
O ar de Gal soava ainda mais ácido que antes. Se ele já era frio, agora ele praticamente parecia ter um coração de pedra. Khalador e Hórus se entreolharam por um segundo, para voltarem a fitar o garoto.
- Escute, Gal... - Começou Hórus. - Para escutar nossa história com atenção. É preciso que acredite em tudo que dissermos, por mais estranho que seja para você.
- Fale logo.
- Calma, garoto. Se não estiver calmo, não irá compreender tudo que falarmos... Veja bem, aquilo que o atacou algumas horas atrás, era uma Sombra. É assim que o chamamos. Eles são criaturas feitas de puro Caos e Destruição, e para isto são feitos. Para causar caos e para destruir.
- Certo, isso eu notei.
- Com o tempo, vários outros deles começarão a aparecer pelo mundo. Causando diversos imprevistos.
- Mas, eu não entendo... De onde eles vem? Nunca apareceu nada do tipo nos documentários de animais, quero dizer.
- Lógico que não. - E Hórus pareceu vangloriar-se por conter a informação correta. - Aqui começa o lado mais complicado de toda a história. As Sombras vem de uma energia negra, que apelidamos de Impiedoso Conquistador e...
- “Impiedoso Conquistador”? Vocês são bem criativos para nomes, heim?
- ...Vai me deixar continuar a história?
- Claro, claro. Prossiga.
- Perfeito. - E Hórus ajeitou-se na cadeira.
Khalador continuava calado, apenas observando toda a cena.
- Continuando da onde parei... hah, claro, Impiedoso Conquistador. Nós nunca conseguimos definir ao certo o que é ele, nunca tivemos nenhuma chance contra ele. Mas podemos confirmar que ele se alimenta de uma coisa: Dimensões.
- Espere. Espere. Dimensões?
- Sim. Já chego lá, calma. O Impiedoso viaja por entre dimensões e começa a destruí-las, pouco a pouco. No início, apenas parece que estão passando por uma série de acidentes. Como os que estavam ocorrendo até pouco tempo atrás; tsunamis, tornados, terremotos e essas coisas mais. Entretanto, conforme os dias passam, as Sombras vão começar a surgir para aterrorizar vocês. Pelo que vi de seus governantes, eles provavelmente vão tentar ocultar tudo o máximo que puderem, mas chegará a hora em que mais nada poderá ser feito para esconder a presença das Sombras. Elas irão logo levantar um grande exército negro e marcharão pela destruição desta dimensão. E, quando tudo estiver em ruínas, o Impiedoso irá aparecer para destruir o que sobrou.
- E onde vocês entram nessa história toda?
- Entramos nessa parte agora: Para cada nova dimensão que o Impiedoso toma para si, parte dele sobrevive e se anexa à energia negra do Impiedoso. Pode considerar esta energia negra como sendo um Planeta Sombrio, ou algo do tipo, que tem partes de vários restantes de dimensões destruídas. E junto disto, vem os sobreviventes. Pessoas que aguentaram a destruição das Sombras e foram pegas pelo Impiedoso para viver miseravelmente e nas sombras das sombras de sua energia negra. Não vou conseguir descrever para você o que é por lá, só te digo que o inferno parece fichinha perto dele. Mas o fato é que; nós sobreviventes, montamos pequenas alianças e tentamos, sempre que o Impiedoso se dirige a uma nova dimensão; salvar esta.
- Hah. Vocês.
- Exato. Viemos de mundos completamente diferentes. Khalador veio de um lugar onde a Magia e a Espada reinavam. Já eu, vim de um mundo onde tecnologia e telepatia eram a fonte de tudo. Mas ambos temos uma coisa em comum, nós sobrevivemos ao impiedoso e vivemos nele, na esperança de que algum povo algum dia possa derrotá-lo com nossa ajuda. -E Hórus se ajeitou no banco do motorista, tendo certeza de observar o garoto de frente.
- Certo. Certo. Agora esperem para ver se eu entendi. Vocês vieram de um comedor de planetas que...
- Dimensões.
- Que seja. Vocês vieram de um comedor de dimensões, para salvar este planeta da destruição total. Ambos vieram de dimensões diferentes e tem tradições diferentes. Mas estão aqui.
- Resumindo tudo, é, mais ou menos isto. Bingo! - Disse Hórus. - Sim, onde eu vivia também havia bingo.
- Perfeito. E como vou acreditar em tudo isso?
- Não é preciso que acredite para já estar acontecendo. - Cortou Khalador no mesmo instante. Rompendo de seu silêncio.
- Mesmo assim, ainda não compreendo... Porque vocês vieram justamente me salvar? Ora, deveriam usar desta missão para falar com o presidente, ou algo assim.
- Nós não podemos fazer nada se não for da nossa sina. Apenas uma pessoa deste mundo pode fazê-lo. E este, não é ninguém de outro. É um escolhido, uma pessoa que sua dimensão escolheu para protegê-la.
- E porque não foram buscá-la?
- Já buscamos, Gal. Você é o escolhido.
- Eu?
- Exato. O Escolhido é alguém único numa dimensão, pois que tem a capacidade de decidir o próprio destino, diferente dos outros, que já tem o destino traçado desde o momento em que a vida habita em seus corpos.
- Não, espera. Eu? Porque eu?
- Isso nem nós podemos explicar. As dimensões escolhem seus representantes, sejam eles garotos ou idosos. Já tentamos salvar uma dimensão onde o escolhido era um bebê.
- Não compreendo... E como vocês sabem que sou eu?
- Isto é simples. As primeiras Sombras que surgem numa dimensão vão atrás de um único ser. Do escolhido, e sempre foi assim. Temos Buscadores por todo o mundo, e nenhum obteve sucesso como nós. O que indica que você é o escolhido.
- E como tem certeza disto? Haviam tantas pessoas comigo! Gary, Ann, Meu Pai, Sr. E Sra. Walles... Todos eles foram atacados! - Gal parecia aflito, tanto que mal podia permanecer sentado naquele banco, observando Hórus e Khalador.
- Neste ponto você tem razão, garoto. Mas... - E Khalador o olhou com uma expressão séria. - Você tem outro sinal de ser o Escolhido.
- Qual?
- Sonhos, Gal. Nos últimos dias, você tem sonhado com o ataque das Sombras contra várias dimensões que já foram dominadas. Vendo várias batalhas finais e cenas de pessoas morrendo pelas mãos de vultos negros.
- ... - E daquela fez o garoto ficou em silêncio.
Khalador sentiu o que ele estava sentindo, ou pelo menos pensou ter sentido e o deu tempo para pensar. Enquanto se acomodava em seu lugar. Gal respirou fundo, tentando se controlar e olhou para os dois, novamente frio como sempre.
- E o que diabos eu vou poder fazer pela dimensão? Sou só um garoto. Tenho só 16 anos. Não tem como eu fazer algo.
- É aí que você se engana, Gal. Todo escolhido nasce com a capacidade de mudar o mundo. E tem várias características para o fazê-lo. Você apenas ainda não as notou dentro de si. Mas nós faremos isto acontecer.
- Então quer dizer que é só eu contra um comedor de dimensões? - Khalador abriu um sorriso e olhou para Hórus.
- Prossiga daqui, Cabeçudo.
- Cabeçudo é a senhora sua mãe, rapaz! - Respondeu automaticamente o velho motorista para voltar-se para Gal. - Bom, aqui vem a segunda parte de nossa missão, Gal.
- Missão?
- Exatamente, a missão dos Buscadores e do Escolhido. Veja bem, pequeno... Você é o único que pode mudar seu curso do destino, e assim, salvar a dimensão. Entretanto, existem alguns que tem a aptidão a lhe dar ajuda nos momentos mais críticos. Estes, são Sete, que também chamamos de escolhidos. Estão espalhados por todo este mundo, e precisamos reuni-los antes de fazer qualquer outro movimento. A morte de apenas um deles pode resultar na falha de toda a luta contra o Impiedoso.
- Ótimo. Então, vamos percorrer o mundo perguntando para cada pessoa que nós vermos: “Me desculpe, mas você é um escolhido?”. Excelente, adorei a idéia.
- Você é uma graça quando quer, Gal. - Disse Hórus, visivelmente ofendido. - Os Escolhidos também são os primeiros a serem perseguidos pelas Sombras. Só não possuem sonhos. Mas para isso, temos você.
- Eu?
- Exatamente. Agora que já está ciente de sua missão; com o tempo, alguns sinais irão aparecer para você. Mostrando para onde seguir até encontrar o próximo escolhido.
- Que tipo de Sinais?
- Isso varia muito. Houve um escolhido que, quase sempre causava um acidente sem querer. O primeiro a lhe socorrer era um outro Escolhido. Também, o Bebê que chorava mais a partir do momento em que chegávamos mais próximo de um deles. Você pode ter diversas visões ou sinais. Sonhos, Dicas, Vozes. Tudo é possível neste sentido, Gal.
- Certo, então, eu sou obrigado a ir com vocês, agora?
- Não. Isto é sua escolha, Seu caminho a trilhar. - Disse Khalador, interrompendo. - Mas vale lembrar que quanto mais tempo se passar, mais riscos você poderá correr. As Sombras sempre optarão por um escolhido, e sentem sua presença de longe.
- Grandioso, assim você me dá muitas escolhas.
- Não é nossa culpa, pequeno. - Voltou a falar Hórus com um sorriso na face. - E então, o que vai decidir? Precisa tomar uma decisão rápida.
- Por enquanto, nada. Posso ir lá para fora um pouco? Gostaria de um pouco de ar fresco pra pensar. Ou corro riscos fora desse triciclo?
- Benny.
- Certo, Benny.
- Pode ir. Estamos seguros por um tempo. - E Hórus virou-se para o painél, puxando a alavanca mais afastada. E logo depois olhou para Gal saindo do veículo.

Gary acordou com uma dor de cabeça matante. Abriu os olhos lentamente, apenas para sentir a dor de cabeça aumentar pela luz do Sol entrando pela janela aberta. Gemeu, e fechou os olhos, colocando as mãos sobre eles. Ficou assim por alguns segundos para fazer uma segunda tentativa.
- Onde diabos estou? - E abriu os olhos. Estava vestindo uma roupa azul-bebê bem folgada. E estava deitado numa cama branca, num quarto quase todo branco. Um hospital.
De súbito, todas as imagens da noite passada lhe vieram em mente, como um turbilhão de memórias esquecidas. Levantou da cama num salto, e só aliviou-se ao ver a Irmã na cama ao lado, ainda dormindo, calma e tranquilamente. Não lembrava como tinha chegado ali, só tinha certeza que havia desmaiado enquanto fugia com a irmã, após ouvir altos rugidos vindos de dentro do quarto. Tinha sido uma noite difícil, mas parece que agora tinha se acalmado. Voltou para a cama e respirou fundo. Ele não tinha mais pais. Eram só ele e a irmã agora. Foi quando um súbito pensamento lhe passou pela cabeça e ele olhou para o outro lado.
- Gal! - Mas do outro lado da cama dele, só havia a janela.
Talvez esteja em outro quarto, pensou ele. E direcionou seu olhar para a porta, mas sua visão foi uma bem diferente. Pela pequena janela retangular da porta, viu do outro lado um homem grandalhão de terno preto e óculos escuros, visivelmente olhando para ele. Paralisou na hora, não era para ter um grandalhão de terno preto, e sim, o velho Delegado Ryan. Ficou alguns instantes olhando para ele, até sua atenção ser desviada.
- Gary?... - Veio a baixa voz da cama ao lado.
- Ann! - E saltou da cama indo até ela. - Que bom que acordou! Está tudo bem com você?
- Sim... - Disse, quase inaudível.
Para logo depois entrar num silêncio desconfortável.
- Gary, o que aconteceu ontem... Não foi um sonho, não é?
- Eu... acho que não.
- Então, papai e mamãe.
- Sim. Só somos nós dois agora, Ann.
- E Gal? Onde ele está?
- Não sei. Não o vi depois que saltamos pela janela. Espero que esteja vivo. Mas eu realmente não imagino o que pode ter acontecido lá depois de nós fugirmos.
- ... - Ela suspirou. - Entendo.
- Não se preocupe! Ele deve ter ficado bem, Ann. Agora você só precisa se preocupar com você mesmo e...
Mas não terminou a frase. A porta do quarto se abriu, e dela entraram cinco homens de terno preto, igual ao que estava vigiando na porta. Eles se posicionaram enfileirados em frente aos irmãos, e logo uma última figura entrou na sala.
Vestia também um terno negro, só que este era visivelmente mais caro que os outros. Tinha rugas que mostravam sua idade avançada, e era o único que não usava óculos escuros, mostrando assim seus olhos castanhos que combinavam bem com o cabelo grisalho. O homem tinha uma leve feição rígida, e Gary sentiu arrepios ao vê-lo.
- Dormiram bem? - Soou a voz grossa do homem.
Gary e Ann apenas assentiram com a cabeça.
- Ainda bem. Acho que preciso me apresentar. Sou o Agente Federal Winston, e estou aqui pelo que aconteceu ontem na casa de vocês.
- Agente Federal? - Indagou Gary.
- Exato. Mas não se assustem. É só que... - E pareceu pensar um pouco. - É só que a polícia local não tem experiência o suficiente para lidar com uma situação deste porte.
- Espere, Espere, o que você quer dizer com “deste porte”?
- Ora, vocês sabem, o que aconteceu ontem na casa de vocês. Lamento muito pelos seus pais, mas nós precisamos de detalhes sobre o que aconteceu. Os vizinhos nos relataram sobre rugidos altos e selvagens. Vocês confirmam isto?
Gary e Ann se entreolharam por um segundo, e logo depois confirmaram com a cabeça.
- Ótimo. E vocês viram o que aconteceu?
- Nós...
Ann já ia falar sobre todo o incidente, mas Gary a interrompeu antes.
- Não. Nossos pais apenas disseram que estávamos em perigo e nos fez saltar do segundo andar.
- Hm. - Ryan não pareceu acreditar. - Tem certeza de que foi isto?
- Sim.
Gary trocou alguns olhares com Ann. Coisa de irmão, logo entenderam.
- E você, Ann? Foi isto mesmo que aconteceu?
- Sim.
Ann pareceu até mais convicta que Gary. Ryan deu um longo suspiro enquanto dava alguns passos pelo quarto. Como se estivesse tentando manter a calma. Puxou a cadeira do canto até o centro do quarto e sentou-se nela.
- Tudo bem. Vamos para a próxima pergunta. Havia mais alguém na casa? Fora vocês dois e o Sr. E a Sra. Walles?
- Sim. O Sr. Jeorge iria passar a noite conosco, por causa de um incêndio na casa dele.
- Apenas o Sr. Jeorge.
- Pelo que eu saiba, sim. - Continuou Gary.
- E o filho dele? Han... Galahad?
- Não sabemos dele. Parecia que também viria, mas não apareceu por lá na hora.
- Entendo. - E Ryan pareceu novamente desapontado.
- O que aconteceu? Digo, com meus pais e com o Sr. Jeorge? Eles realmente...
Gary já sabia da resposta, mas por mais doloroso que poderia ser ouvi-la oficialmente, ele queria. Só assim teria certeza de que seus pais realmente estavam mortos. Ryan confirmou com a cabeça.
- Sim. Estão os três mortos.
E Gary não precisou estar fingir para ficar com uma face abatida.
- Havia mais algum corpo lá? - Ann rompeu do silêncio.
- Mais algum? Porque haveria? - Ryan pareceu interessar-se no que Ann dizia.
- Por nada. A minha irmão só estava pensando se talvez Gal pudesse ter aparecido em casa.
Gary a interrompeu, antes que pudesse dizer mais alguma coisa que revelasse sobre seu amigo.
- Hah. Claro. Entendo. - E Ryan suspirou. - Bem, em breve serão levados para um orfanato. Mas até lá, ainda precisaremos fazer mais algumas perguntas durante as próximas semanas. Vocês não se importam, não é mesmo?
- Não. Tudo bem. - Ann disse.
- Ótimo. Então, vou deixar vocês descansarem. Até mais.
E o Agente Ryan mal fechou a porta e se afastou pelo corredor para Ann fuzilar Gary com seu olhar. Seu irmão estava tramando alguma coisa e ela sabia muito bem disto.
- O que foi aquilo, Gary?
- Não. Não tive um bom pressentimento sobre esses caras. Algo me diz que não podemos confiar neles. Ainda mais contar sobre Gal. Você ouviu, não foi, Ann? Ele está vivo! Não acharam o corpo dele lá em casa. Significa que podemos encontrá-lo.
- Gary, não me diga que...
- Claro. Estou saindo daqui agora mesmo para achá-lo. Você vem comigo ou vai para o Orfanato?


Assim que a porta se fechou atrás de Gal, ele finalmente pôde respirar. Recebeu informação um dia do que jamais tinha recebido a vida toda. E além disto, só agora ele parou para pensar na sua perda. Olhou para trás, certificando-se que os dois não o espiavam, e logo depois sentou-se escorado na roda de Benny, enquanto retirava seu tesouro do bolso.
Olhou a pequena bolsa por alguns segundos enquanto refletia sobre o que havia acontecido. É, agora estou sozinho de verdade. Foi o que pensou. E logo depois abriu lentamente o zíper. Ali dentro, havia uma foto da família inteira. Jeorge, Mancy, Gal... e Sarah. A Mãe tinha oito meses de gestação na foto, e a eles não poderiam estar mais felizes naquela época. Mesmo com tudo que tinham para se preocupar, fora o mês que mais aproveitaram. Era a única foto que havia sobrevivido, todas as outras já não existiam mais, e por isso Gal a prezava tanto.
Junto da foto, um pequeno pingente. Havia uma bailarina em cima de um único pé toda graciosa em seu dourado que a recobria. Aquele seria o primeiro presente que Gal daria para sua irmã. Olhou para ele por um instante e logo depois o pôs de volta na bolsa. E ficou a olhar para a foto. Seu Pai tinha morrido por ele. Gal juntou os joelhos para a face e abaixou a cabeça, começando a choramingar baixinho. E assim ficou por alguns bons minutos.
- Dói, não é? - Veio a voz de cima.
Gal rapidamente secou o rosto e levantou-se para ver quem falava. Khalador estava sentado sobre Benny, apoiado sobre as mãos para observar o dia clarear aos poucos.
- Como?
- Dói. Dói quando alguém dá a vida por você sem pedir nada em troca. Não é?
- ... - E Gal voltou-se a sentar em seu lugar. - É.
- Eu... Já vivi disto tantas vezes que cheguei à beira do suicídio. - E suspirou. - Mas parei para pensar. Eles jogaram suas vidas fora pela minha, não devia me desfazer da minha de um jeito tão estúpido. E é por isso que estou aqui hoje. Por eles.
O garoto pensou bastante antes de falar.
- Aquele seu Comandante, grande, com a marreta. Foi um deles, não foi?
- Como você...
- Os sonhos. Você mesmo disse, Lorde Khalador.
- Claro. Me esqueço deste detalhe.
- Você... Era um escolhido?
- Sim. Todo meu mundo dependia das minhas ações. Mas eu falhei. - E suspirou. - O General com a Marreta grande, se chamava Langus. Ele era um escolhido. Deu a vida para salvar a minha, quando a Sombra apareceu entre nós na nossa última batalha.
- Imaginei que era isso.
Gal se levantou sem pressa alguma e espreguiçou-se enquanto guardava a foto dentro da bolsa novamente. Khalador permaneceu quieto olhando o horizonte, um belo e grande lago se projetava na frente de Benny. Se aquela fosse outra ocasião, poderiam ter aproveitado melhor a vista.
- Pode me responder mais uma dúvida? - Gal rompeu o silêncio.
- Diga.
- Porque... Porque apenas a terra está sofrendo com isso? Quero dizer, a dimensão também inclui o sistema solar e tudo mais, não é?
- É uma boa pergunta. - Khalador disse sem voltar o olhar para o garoto. - Toda Dimensão tem uma alma. Viva e pulsante. A alma desta dimensão é a Terra e seus habitantes. Por isso, o Impiedoso domina primeiro aqui, para depois ir para outros lugares. Proteger a terra é o ponto chave de tudo.
- Hm. - Conformou-se Gal. - E... E como vocês sabem de tudo isso? Quero dizer; dos Escolhidos e tudo mais.
- Bom. Existem algumas dimensões, onde a profecia e o destino são consagrados. Eles previram tudo, e, após serem destruídos, os sobreviventes nos ensinaram sua sabedoria. Alias, nosso grande Líder é um deles. Se chama Rhurgon.
- Nome estranho.
- Sim. Todos da dimensão dele tem nomes parecidos com estes. Foi ele quem primeiro levantou o braço para se opor ao impiedoso após a destruição de seu planeta. Nós apenas o seguimos, até formarmos a Grande Oposição...
- Grande Oposição? Deixe-me adivinhar, este é o nome que vocês deram para a aliança.
- Exato.
- Feh. Vocês realmente não tem criatividade alguma para nomes.
- Não é culpa minha. - E Khalador esboçou um pequeno riso. Gal apenas o correspondeu com outra pequena risada. Para logo depois seguir-se um silêncio acalmante.
- Então, o que vai fazer? - Khalador rompeu o silêncio
- Não é óbvio? - Gal olhou para o horizonte. - Vamos, temos de encontrar outros sete escolhidos.
Leia até o fim...

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