quinta-feira, 30 de julho de 2009

A música do Coração - Parte 4


E daquela vez, a Solidão do Silêncio tinha vindo com força, como se quisesse tirar o atraso pelo tempo afastado do garoto. Thomas, depressivo e com o fone nos ouvidos, ficou sem sair de casa por alguns dias. Isolado do resto mundo. De modo que não foi se encontrar mais com Sophia. Talvez a única coisa que talvez o ligasse ao mundo fosse o sentimento de culpa por deixa-la esperando. O tempo continuou a passar, e, depois de duas semanas, parece que finalmente a Solidão do Silêncio deu uma tregua à ele. Ao mesmo tempo, a mãe pediu para ele ir comprar algumas coisas na conveniência da cidade. Saiu de casa com a lista no bolso e os fones no ouvido.


Não ficava tão longe, tanto que dez minutos depois de sair, Thomas já estava voltando com as compras nas sacolas. Andava sem pressa alguma, quando uma mão tocou seu ombro, virou-se e lá estava Sophia. Imaginou que estaria brava com ele, mas na face dela, viu uma expressão triste e de arrependimento. E de entender expressões, ninguém era melhor que ele. A garota não carregava nenhum caderno, provavelmente não esperava ver ele ali. Deixou os pés juntos e ficou balançando o corpo para frente e para trás com as mãos juntas nas costas, enquanto seu olhar fitava o chão.


O que foi? ” - Disse, com um movimento de cabeça rápido.


Porque não apareceu mais lá? ” - Veio da resposta, de um olhar de sobrancelhas arqueadas para ele.


Não sei. ” - Thomas respondeu com um balanço de ombro.


O que se seguiu foi um curto período de silêncio, que envolvia constrangimento e vergonha dos dois lados. Thomas, por não ter aparecido como combinado. E Sophia, talvez sentindo-se culpada por ter feito algo de errado da última vez que se viram. Os segundos pareciam durar minutos, até que Thomas suspirou, ele era o culpado e ela provavelmente estava chateada com ele. Recuou um passo, depois mais um. E virou-se de costas, começando a andar. Só parando depois de alguns dez passos para virar para trás e encarar a garota, ainda parada no mesmo lugar.


Até mais. ” - Fazia ele com um abano de mão. Ou seria um “ Adeus. ” ?


Não... ” - Disse ela, avançando um passo na direção do garoto que se afastava.


Não... ” - Mais um passo.


Por favor, se você partir, eu... ” - Começou a andar em um passo acelerado em direção a ele.


Talvez Thomas, naquele momento da sua vida, estivesse torcendo para que a garota continuasse aqueles passos rápidos. Talvez realmente tivesse pensado que era a última vez que se viam. Ou até mesmo, poderia estar pensando em encontrá-la no dia seguinte, agora que tinha se livrado da Solidão do Silêncio. O fato era que, independente do que ele estava pensando, tudo ocorreu tão rápido que o garoto não teve tempo de pensar em nada no momento. O que ela dizia através de seus gestos, nenhuma palavra no mundo poderia dizer mais claramente. Aquilo que ela fazia, não precisava de música, nem de melodia nem de qualquer coisa para se tornar mais forte que a Solidão do Silêncio.


Não se afaste de mim. ” - Dizia ela, abraçando seu braço com força.


... ” - Ele a observava.


Porque eu... ” - Olhou-o nos olhos, com uma mescla de tristeza e felicidade.


... ” - Continuou parado.


Porque eu acho que te amo, bobo. ” - Disse finalmente. Beijando o pequeno garoto na bochecha.


Pela primeira vez na vida dele, Thomas estava em dúvida sobre o que ela queria dizer com todos aqueles gestos. Toda a conversa mostrada acima para ele, era apenas uma das hipóteses no meio de muitas outras. Por causa disso, com a garota ainda grudada em seu braço, Thomas ficou pensando sobre o que e como deveria responder. Talvez deveria responder que não entendeu nada dos atos dela, mas não era aquilo que seu coração desejava. Uma daquelas hipóteses de todas que estavam em sua mente era a que ele mais desejava. Mas a dúvida o corria e ele não sabia o que fazer.


Mas o que é...


Numa sensação que Thomas nunca sentiu antes, uma onda de sentimentos invadiu seu corpo e mente de uma única vez. Eram pensamentos e expressões que esbanjavam amor, felicidade e alegria em cada parte deles. O garoto nunca tinha sentido aquilo, mas sabia que era uma belíssima sensação. Talvez fosse... Música? A doce melodia percorria sua mente, invadindo cada pequena porta dela mudando por completo a decoração de seus pensamentos. Sentiu aos poucos a presença da Solidão do Silêncio se esvair para nunca mais voltar e sentiu-se aliviado com o peso retirado por completo de suas costas. A melodia parecia ser tocada por um violino, mesmo que Thomas nunca tivesse ouvido um na vida, ele sabia de alguma forma. E inundava sua alma, revigorando cada parte de seu inteiro ser. Mas afinal, o que estava fazendo aquilo com ele? Piscou os olhos, e aos poucos a realidade foi voltando à ele. Piscou os olhos, e todo o jogo de luzes que pareciam iluminá-lo começou a se apagar. Piscou mais uma vez, e agora, o mundo ao seu redor foi tomando forma e cor, pouco a pouco. Piscou os olhos uma última vez, a música parou, e ele se viu de frente para Sophia, ela estava de olhos fechados com a face rosada como maçãs.


Também te amo. ” - Tinha sido sua resposta, com o beijo que tinha dado em Sophia. O beijo que revelou, que a verdadeira canção que Thomas estava destinado à ouvir era outra, uma bem mais forte e bela que qualquer outra que o violinista pudesse tocar. No fim das costas, sorriu para a garota, e jogou o fone de ouvido de lado, na estrada.




Fim.


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