domingo, 2 de agosto de 2009

O Cubo


Existem vários universos. Uma porção infinita de cada tipo. Uma porção infinita de cada tamanho. Essa história, conta especialmente o que aconteceu em um destes universos. Aquele universo se limitava à um grande cubículo de vidro, tinha o tamanho de um quarto espaçoso. No meio do grande cubo, havia uma parede de vidro, que dividia o local em duas partes. Não havia nada além do cubo, nem dentro, nem fora dele. A única coisa que existia ali eram dois seres. Dois espíritos de luz, que viviam um em cada lado do cubo.


Eram pequenas bolas brilhantes que flutuavam emanando sua personalidade de acordo com o tom de luz. Quando se enfureciam, a luz ficava vermelha. Quando estavam alegres, a luz tomava uma amarelo ofuscante. Quando estavam tristes, elas brilhavam em púrpuro. Haviam diversas outras cores que eles podiam assumir, mas isso, de nada importava. O Seres de Luz tinham uma vida triste, onde a única coisa que podiam fazer, era ficar flutuando pelos seus lados do cubo. Triste, para nós, pessoas. Para eles, era uma vida normal. Quando olhavam para o lado e viam o ser de luz que ficava do outro lado da parede de vidro, achavam que fosse o próprio reflexo.


É engraçado ver como dois seres que vivem tão perto um do outro podiam ao mesmo tempo estarem tão distantes. A ponto de até acharem que são os únicos em todo um universo. Afinal, o cubo não deixava de ser um universo. Provavelmente eles poderiam muito bem viver assim pelo resto da vida, assim como milênios já se passaram com eles acostumados com o reflexo. Mas o impensável destino sempre encontra um jeito para que tudo na vida se desenrole do modo mais peculiar.


Crack!


Foi o som que se fez ouvir, quando um dos seres, por acidente, bateu forte demais na parede de vidro. Do outro lado, o outro ser de luz assustou-se, ele não havia feito aquilo. Porque seu reflexo havia feito? Enquanto isso, o ser que fez a rachadura se perguntava porque seu reflexo não se deformou pela quebra do espelho. Junto com a quebra daquela pequena parcela da separação deles, surgiu também uma quebra no pensamento já feito de ambos os lados.


A principio, nada ocorreu. Ambos os lados tentaram continuar suas vidas como sempre foi. E por um tempo, aconteceu realmente isso. Mas a rachadura continuava ali, provando que algo de errado existia. Certa vez (pois não era possível decidir se estava de dia ou de noite), um ser de luz estava bem na frente da rachadura da parede, observando-a de perto. E, por coincidência ( ou quem sabe destino ), o outro lado também estava ali. Fazia a mesma coisa. A proximidade dos dois era tanta, que pareciam um único brilho, separado apenas por alguns centímetros de vidro quebrado. De modo que já não havia como discordarem, não estavam sozinhos. Surgiu então a vontade de se comunicar. E foi assim que eles aprenderam a usar a voz.


- Olá? - Soou a voz de um espírito, pela primeira vez no cubo.


O espírito do outro lado atirou-se contra a parede oposta, assutada. Ouviu alguma coisa, e entendeu o que havia ouvido. Ficou afastada da parede por vários minutos, antes de tomar coragem para aproximar-se dela. Ficou a frente da rachadura novamente, e sua voz nasceu.


- Olá. - Segundos de silêncio constrangedor seguiram-se.

- ...O que você é? - Voltou a voz.

- O habitante solitário deste mundo. Você vem de onde?

- Sempre estive aqui. Também habito esse lugar.


Uma dúvida nasceu nos seres de luz. Imaginavam, os dois, se seus reflexos diziam a verdade.


- Você tem nome?

- Não, nunca precisei me apresentar antes ...E você?

- Também não.

- Então...

- É, seria bom se nós tivéssemos algum nome para chamarmos um ao outro.

- É...

- Então?

- O que?

- Alguma sugestão?

- Não, não penso em nada. E você?

- Hm... Que tal... Não, nada.

- Vamos, diga.

- É.. que tal: Amor?

- Amor? Palavra estranha.

- Veio na minha mente, não posso fazer nada.

- Pode ser esse nome mesmo. Tem algum significado?

- Não que eu saiba.

- Então, pode ser. Amor.


E partir daquela vez, eles começaram a conversar. Não sempre, porque não havia tantos assuntos à se falar daquele lugar. Mas agora que tinham um ao outro, eles podiam fazer várias coisas, como sincronizar danças e movimentos no espaço do cubículo, para pura e simplesmente passarem o tempo.


De repente, quando não faziam nada, um tédio mortal os assombravam. Coisa que não aconteciam antes, quando estavam acostumados à viver naquela imensa solidão que era o pequeno cubo de vidro. Era engraçado ver como as coisas mudavam. Vantagens e Desvantagens.


- Amor? - Disse um ser, certo dia.

- Fale.

- Será que só nós dois habitamos esse lugar?

- O que te faz pensar assim?

- Não sei, comecei a pensar hoje: Agora, podemos conversar sempre que quisermos. Mas antes, eu imaginava ser o único do cubo, que eu era o centro de todo esse pequeno universo, e que eu era para quem o mundo nasceu.

- Pensava do mesmo jeito. Antes daquela rachadura que você fez.

- Sim. Mas agora que eu descobri você, fico imaginando se não há outros, como nós.

- Hm. - Pausa – Também já pensei nisso. Mas acho que não há mais nada.

- É. Já tentei até quebrar outro vidro. Mas não consigo.

- Estamos sozinhos por aqui.

- Não exatamente. Temos um ao outro, não é? - Amor se iluminou em amarelo forte.

- É.


Houve alguns minutos de silêncio, como se preferissem que aquela conversa terminasse ali. Mas logo, uma idéia veio na mente de Amor. E ele desejou compartilhá-la.


- Fico pensando. Talvez existissem outros mundos.

- Outros cubos, igual à este?

- É, ou talvez não. Coisas maiores. Lugares cheios de seres da mesma espécie.

- Isso deveria ser no mínimo bonito de se ver.

- Sim. Desejaria estar num lugar desses?

- Talvez.

- Talvez?

- É. Seria bom se eu o encontrasse nesse lugar. Poderia ser tão grande que às vezes me perderia de você.

- Amor, e se houvesse mais um por aqui. O que faria?

- Não sei.

- Nada? Nem um mínimo palpite?

- Não. É sério.

- Mas então, e se...

- Vamos parar com esse assunto, Amor. - Disse um espírito.

- Porque?

- Não sei, algo em mim diz que desejaria parar com ele.

- Se você quer...

- Sim.

- Então, tudo bem.


E finalizou-se aquele assunto. Assim como muitos outros foram finalizados, seja por falta mais coisas à se falar, seja por discussão de um. Houveram brigas, também, discussões e muitas outras coisas. Mas eles já dependiam um do outro para conseguirem viver felizes. O tempo, que parecia não passar, acabou progredindo. Séculos, em uma vida normal passariam ali como segundos, ou talvez como uma grande eternidade. E, não se sabe quanto tempo depois, depois de milhares de conversas, surgiu uma idéia que nunca havia aparecido antes. Uma idéia que ambos os lados decidiram seguir.


- Pronto, Amor?

- Sim. Pronto, Amor!


BAM!


O impacto dos dois seres de luz contra a parede de vidro. Eles por séculos ( ou milênios ) viviam conectados apenas pela rachadura, mas agora, desejavam de pura alma ficarem mais perto fisicamente. Talvez a grande amizade criada. Talvez o grande amor criado. E juntos, lá estavam eles, ferindo o muro que os separavam. A cada batida deles, um leve tremor no cubo, e mais ramificações na rachadura, que começava a tomar quase todo o vidro. Eles iriam conseguir! Era a força de vontade que puramente movia os dois, os impactos não doíam, pois seus corpos eram feitos de luz, mas a cada nova batida, eles sentiam mais a resistência da divisão falhar. Era como se tivessem corpos.


A missão de derrubada daquilo durou dias, talvez anos, talvez séculos. Mas nenhum dos dois desistiu. Cada nova rachadura era comemorada, e cada vez que o vidro tremia, eles vibravam nos seus tons de amarelo. A voz ficava mais forte, e eles podiam até sentir o calor da proximidade que aumentava a cada instante. Era a hora esperada. Eles iam...


- O que...

- ...é isso?


A parede de vidro quebrou-se em milhares de fragmentos, que começaram a cintilar num azul-claro. E logo, desapareceram. Não houve som, foi puramente o desaparecer deslumbrante da parede. E, ao mesmo tempo, todo o cubo se quebrou. Como se fossem serpentes saindo da água, rachaduras fortes e vistosas começaram a cobrir o cubo inteiro. Ele iria se quebrar. Aquele mundo iria desaparecer. E assim, a alegria dos Amores se tornaram desespero. Voavam em volta, batendo no cubo, inutilmente tentando parar as rachaduras que desabavam o lugar, mas nada mudou os fatos. Os dois seres de luz voltaram-se um para o outro quase ao mesmo tempo, como se entendessem o que aquilo significava. E logo se aproximaram, sem pressa, enquanto tudo em volta desabava. O vidro do cubo sumia, brilhando do mesmo modo que a parede fez-se para sumir. Mas nada mais importava, os dois seres de luz juntaram-se e se tornaram uma única luz, puramente branca. Agora estavam unidos.


- Amor?

- Sim?

- Tem algo para expressar tudo isso?

- Não sei...

- Talvez...

- Amor? - Disseram ao mesmo tempo.

- É, a única coisa que podemos pensar agora. - Disse, rindo baixo.

- É... - Consentiu o outro.

- Amor?

- Hm?

- Estamos juntos.

- Sim.


E assim, o cubo desapareceu. Mas a luz continuou a brilhar forte por mais alguns segundos, antes de desaparecer dali. De sumir completamente daquele pequeno cubo que prendia toda a liberdade dos dois seres, que agora eram um único, chamado amor. E quase ao mesmo tempo, em um universo totalmente diferente, Eduardo, um jovem estudante deslumbrou a visão de uma bela jovem. Seu coração acelerou mais forte, e ele abriu um grande sorriso bobo ao vê-la passar tão despreocupada. Talvez aquilo fosse o nascimento do amor dentro dele?




Fim.


Um conto pequeno e meio bobo, que surgiu em na minha mente dois dias atrás. Agradeço ao Cristiano, amigo antigo que é o dono do Blog Mil Faces da Loucura, por me dar a inspiração para este conto aqui, com uma das histórias dele. E antes que me perguntem, não, não vão ser todos meus contos que irão retratar sobre amor. O que estou produzindo agora irá dizer sobre algo completamente diferente (ou não, rs). Esperem mais atualizações em breve. Junto do final dessa história, também vai uma dedicatória especial à este mesmo Cristiano. Que por meio de uma conversa tão simples, me abriu os olhos para algo que estava bem na minha frente. Agora, já poderei estudar para o vestibular com vontade. Pois Meta e Sonho andam juntos. Talvez a conversa pelo msn, tenha dado um dos melhores frutos da minha vida. Pois ela decidiu meu futuro. Valeu, Poste, porque você fede bastante (Piada interna).

2 comentários:

  1. Grande Tadashi, escreve bem meo caro, nem imaginava q escreve-se ^^
    aparece la no blog q criei! da uma forcinha la! =D

    Abraço!!!

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  2. Inspirador e enlevante. Adorei esse conto aqui. *-* /Kirche

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