sábado, 11 de dezembro de 2010

Relatos Mirins - Reeditado

ㅤE ainda vale a pena ressaltar a genialidade infantil.
ㅤ – Filha da Puta?
ㅤ A funcionária parou o que estava fazendo.
ㅤ – É, ué. - Respondera o garoto.
ㅤ – Por que me chama assim?
ㅤ – Mas, seu trabalho não é colocar preço nas coisas?
ㅤ – Quase sempre, é sim. O que é que tem?
ㅤ – Então! Meu pai sempre te chama de filha da puta.
ㅤ – Mas eu nem conheço seu pai!
ㅤ – Mas eu acho que ele te conhece bem, fala de você toda hora. Qual seu nome?
ㅤ – Evellyn.
ㅤ – Ah, desculpa, acho que confundi. - Dizia, observando o resto o mercado. Como se tentando achar alguma velha gorda chamada Inflação colocando frangos congelados nas prateleiras refrigeradas.
ㅤ Mas confundir termos com realidade ainda é algo bobo e fácil de se corrigir.
ㅤ – Desculpa, moça, ele acaba entendendo errado o que a gente fala por aí. Sabe como é né? Crianças.
ㅤ Pior é quando vem aquela pergunta tão matadora para seus progenitores.
ㅤ – Mãe! Como é que eu nasci?
ㅤ Deixando de lado todas as cegonhas e repolhos do universo, sempre há aquele:
ㅤ – Pergunta para o seu pai. Estou ocupada.
ㅤ – Não sei, vê lá com sua mãe, Guri.
ㅤ Como se seus pais conspirassem na tentativa de gerar um novo acelerador de partículas, botavam o filho no maior loop infinito de sua vida; enchendo a mente do pobre coitado com todas as mentiras possíveis, desde uma novela nos capítulos finais que não poderia ser interrompida pela irritante voz aguda do moleque, até os desvios clássicos.
ㅤ – Não tem tarefa pra fazer, não?
ㅤ Ou, quem sabe:
ㅤ – O Papai te conta depois, tá?
ㅤ E assim a mente hiperativa do garoto permanecia naquela utopia mágica, quem sabe não tivesse sido encontrado na frente de casa num cesto de madeira? Olhava-se no espelho constantemente, procurando por ali uma marca de raio feita por mago malvado, ou talvez olhava para o céu antes de dormir, pensando que seus verdadeiros pais estivessem salvando planetas e aguardando para que ele crescesse.
ㅤ É toda essa brincadeira maldosa que molda os filhos para seus atos espertinhos, anos mais tarde. Como se deixar o termômetro encostado na lâmpada fizesse a mãe acreditar que estava com febre e não poderia fazer aquela bendita prova de ciências.
ㅤ – Mas olha, mãe, tá marcando 38!
ㅤ A mãe vinha com aquele ultimato, pior que os avisos do BOPE antes de acabar com a graça dos traficantes:
ㅤ – Levanta logo ou eu chamo seu pai, heim!
ㅤ A figura do simpático Seu Joaquim se distorcia na mente do menino – ignorando todos os presentes de natal atendidos, cujo agradecimentos, infelizmente, se voltavam para o velhinho de roupa vermelha, assim como todos os doces comprados sem que a mãe soubesse. Subitamente a silhueta idealizada tinha cinco metros a mais de altura, largura, espessura; carregava um grande chicote de couro numa mão e na outra um machado idêntico ao que o garoto vira
ㅤ Dali, era um único salto para abandonar a cama.
ㅤ O menino ia para o colégio e causava a maior tragédia mundial:
ㅤ – Colando, filho? Não foi isso que eu te ensinei!
ㅤ Mas pouco ligava para mãe, tremia mesmo era para a imagem do carrasco Joaquim se materializando novamente, agora montado no dragão novo que apareceu no Bakugan e seus amigos lhe contaram durante a aula, antes da prova.
ㅤ Todavia, pior do que tudo isso, é quando o garoto tenta se endireitar.
ㅤ Geralmente, tudo acontece para provar que ele continua sendo o moleque pimentinha do bairro, mostrando toda a verossimilhança da Lei de Murphy. O menino se depara com a cartinha especial e brilhante – praticamente irresistível! – que o amigo deixou cair quando ia embora; ou, ele se vê de frente para o pacote de bolachas que a empregada, Dona Soraia, ingenuamente deixara sobre a mesa, aos ávidos alcances dos braços do menino.
ㅤ Não demoraria dois minutos para o amigo voltar com os pais e dar de cara com o garoto batendo bafo com a cartinha brilhosa. Não demoraria dois segundos para seus pais voltarem para a cozinha, dizendo que esqueceram de pegar a lista de compras, só para se depararem com ele com a mão na massa – ou na bolacha.
ㅤ Quando tudo isso não acontecia, a coisa ficava séria:
ㅤ – Conta pra gente, filho o que está acontecendo?
ㅤ E aí, começou! O garoto vira o anjo da família, e, em troca, os pais fazem uma busca desenfreada pelo que está errado, como se devesse, por natureza, ser uma peste. Câmeras para ver se a Dona Soraia não batia nele, visitas ao colégio em busca de pedófilos ou mal-encarados, e, no fim, termina sentado num divã. Um homem de óculos e cabelo penteado milimetricamente lhe mostrando um monte de borrões escuros e lhe pedindo para ver o que via, como se ele fosse cego.
ㅤ Desistia! Que os pais sofressem porque a puberdade estava chegando!

4 comentários:

  1. Hahahahaha boa Tadashi, eu acho que vc era um desses meninos hiperativos que vibiam enchendo os pacovás dos seus pais, hahahahaha.
    Eu era meio bobão, e pra falar francamente eu nem me lembro bem de recordações boas da minha infância. Sabe eu estavapensando em falar no meu post que escreverei hoje sobre as lembranças da infância e depois de ler o seu post acho que foi um incentivo a mais.
    Hahahahaha, minhas lembranças são tristes mais eu vou colocar um humorzim pois hoje graças a Deus tudo melhorou!
    Um abraço amigão!

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  2. KKKKKKKKKKK! Adooorei, Tadashi! Texto muito legal mesmo! Eu também acho mesmo que você era um desses meninos curiosos que queriam saber de todas as coisas e que ficava fazendo perguntas que seus pais não sabiam como responder! rs
    Realmente as crianças sempre têm medo do pai! Pelo menos eu nunca ligava para as ameaças da minha mãe, mas quando tocava no nome do pai... hauhauahua!
    Continue escrevendo, você tem talento, cara! :D
    Beijo ;*

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  3. Ei Tadashi passei pra te desejar uma ótima semana abençoada por Deus, e te falar que eu atualizei o blog com um texto incomum pra mim... Hahahaha, sempre escrevo besteiras mas dessa vez é mais sentimental.

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  4. Adorei esse texto! Ficou engraçado x). É diferente doas textos que você escreve normalmente, mas eu achei que ficou muuuuito bom!
    :)
    Espero ter tempo para voltar a acompanhar seu blog.
    Beijos

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