As minhas mãos já estavam cheias de feridas abertas na época. Os professores eram, como sempre, severos ao extremo e a palmatória era fichinha perto do que eu sofria. Ainda mais comigo, o filho do grande Sir Grandford. Mas que diabos eu poderia fazer? Simplesmente não conseguia me manter acordado durante as oito horas de aula diárias que eles davam na escola para filhos de Influentes da sociedade.
Era lógico que tudo aquilo tinha um motivo, e mesmo com meu pai e toda minha família sabendo, eu não tinha nenhum privilégio. E toda noite era sempre o mesmo sofrimento, como se sempre eu fosse o mesmo louco. Sofria de insônia, a doença criava no antro da noite os maiores pesadelos para meus sentidos, não me deixando descansar em paz. E foi numa daquelas noites que eu conheci a alforria para tudo que me fazia mal.
Chovia forte e os trovões cruzavam os céus. Para pessoas normais, era simplesmente uma boa noite de sono, mas para mim, aquilo era a pior das noites da minha vida. As sombras feitas pelos trovões criavam fantasmas no meu quarto e eu só temia. No meu desespero, me encolhi no canto da cama e levantei a vela próxima ao corpo, junto da primeira coisa que havia ali. Folheava as palavras do livro quase sem sentido, tentando achar ali uma escapatória. E, de fato, ali estava ela.
As vozes sumiram, assim como todas as imagens que eu via de madrugada. Tudo porque eu gastava as horas de todas as noites debruçadas sobre os livros. Viajando em histórias mitológicas e fantásticas sobre grandes guerreiros e heróis. Também começava a usar a madrugada para estudar, e assim, com as notas altas, os professores não mais reclamavam de minhas sonecas durante a aula. Os livros me trouxeram a paz, e eu, aos poucos, abracei meu vício. Olheiras eram cada vez maiores, assim como minha pele se tornava frágil e pálida pela ausência da luz. Comia e bebia pouco, apenas me dedicando a leituras cada vez mais complexas.
Foi neste com este contexto que entraram no castelo Grandford. Membros da inquisição, abriram meu quarto e me prenderam, sobre acusações de magia negra e vampirismo. Diziam que eu estava cultuando o negro e o diabo, e o fato de eu já não conseguir olhar para o sol normalmente – devido à falta de costume, e unicamente a isso – assegurou mais ainda os fatos. Eu ouvi gritos de “Vampiro!” direcionados a mim enquanto ardia e agoniava na fogueira. E talvez, fosse isso mesmo. Não é o vampiro que transcende o tempo e o espaço com ajuda de um néctar sagrado chamado sangue? Era eu uma pessoa que transcendia qualquer barreira, com ajuda do meu néctar sagrado: A Leitura.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Durante Madrugadas
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