segunda-feira, 26 de abril de 2010

A outra face da moeda



Desgraçados! Miseráveis! Hipócritas e Malditos! Desejo do fundo de minha corrompida alma que todos eles queimem nas brasas mais quentes do Inferno! Afinal de contas, o que eu fiz para merecer tudo isso? Sim, eu sei, já matei muito. Centenas foram aqueles que morreram para que eu pudesse me degustar do sangue deles. Mas o que mais eu poderia fazer!? Sou um vampiro, ora! E alias, não disse isso como se isso fosse um desgosto. Foi com os olhos da noite que eu pude ver o quão fulo eu era quando ainda caminhava sobre o sol. O quão ignorante eu era.



ㅤ Nunca consegui entender o porque de me caçarem como se eu fosse uma aberração. Um monstro. Afinal de contas, já vi com meus próprios olhos bispos e padres – aqueles que representam Deus na terra – fazerem coisas bem piores que os meus. Pedófilos, Sadomasoquistas, Membros da Inquisição, Assassinos... E acima de tudo, louvados pelo povo e pelo Rei! Aqueles sim são os monstros! Causam mais dor e morte que eu nunca causaria em minha eternidade de não-vida.
Também, há os Templários energúmenos. Idiotas que disseminam o nome de Deus cortando a cabeça de outros. Aquelas guerras são tão inúteis que me fazem ter vontade de vomitar - se eu ainda pudesse ingerir algum alimento comum, claro - . Mas de qualquer forma, continuam lá. Intactos. Como os heróis de uma civilização cega e alienada. E mesmo assim, quando vêem o corpo de uma bela donzela caída com o sangue escorrendo aos montes pelo pescoço, gritam e clamam com terror contra mim.

ㅤ Para mim, o que resta? Óbvio. Reuniram-se contra mim. Cravaram-me uma estaca no peito cujo coração não batia a séculos e perdi todos os poderes e a capacidade de me mover livremente. Fiquei vegetativo, e mesmo assim sabendo de tudo que ocorria. Como um horripilante pesadelo. E, quando me dei por mim, lá estava, amarrado numa tora de madeira com correntes pesadíssimas, de frente ao horizonte.


ㅤ Ouso dizer sim, minha morte é a mais horrível que se pode ter. O sol surgiu e eu senti minha pele queimar bruscamente até se tornar cinzas. Gritei com força, balbuciei palavras de raiva e tentei me livrar daquele terror que era ser jogado a tortura mais terrível. Mas de nada adiantou, sofri até o último momento. Até que tudo que eu possuía no mundo físico não fosse nada mais que pó cinzento.

E agora, cá estou.
ㅤ ㅤ
ㅤ Um fantasma. Uma personificação da maldade. Um demônio intangível pronto a causar o horror para aqueles que me causaram o terror. Pois afinal, sempre viram Vampiros como os horríveis. Mas, o que mais os humanos poderiam ser? Hipócritas Malditos!

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