Os sapatos com pontas viradas para cima surgiram no canto do palco, quase imperceptível, dado a escuridão do mesmo. Ali, o Pierrot observava o grande centro de luz onde o holofote projetava os espasmos de vida em seu universo de escuridão.
De máscara em face, de tinta em sentimento; o rosto do anfitrião da terra do nada parecia, como sempre, o que de maior havia em suas emoções. Todavia, ali, ele permanecia quieto. E assim permaneceu, por longos minutos.
- Diversas vezes, os sentires e dizeres da vida não se cruzam. - A fala saiu alta, concisa e séria. - Nessas horas, somos quase... assim...
E uma pequena bola de vidro apareceu no globo de luz, rolando, emanando aquilo que se transparecia da claridade que nela incindia. Os passos do palhaço de paradoxais emoções acompanhavam a bola de cristal, e, em momentos, ele estava no globo de luz.
Graciosamente, ele se abaixou e alcançou a esfera. Segurou em punho o pequeno e delicado objeto, e virou-se para o público, em sua face, permanecia um tristonho sorriso.
- Mas quando as luzes que indicam a vida passam, e permanece cá somente a escuridão de seus próprios pensares... - O holofote foi se apagando, até finalmente pouco se ver do palco.
- Os dizeres não mais importam, - O som de vidro se despedaçando de encontro ao chão. - e resta só você.
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segunda-feira, 2 de julho de 2012
Monólogo - 5
domingo, 20 de maio de 2012
Diálogo
E, veja bem, não haveria eu de me importar
Se, por um acaso ou descaso, sempre, ao seu lado
Eu acabar vendo o tempo, por nós, passar.
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Curtas Literárias - Encarecido Toque
Encarecido Toque
Batucava os dedos no volante, como se cada um daqueles pequenos toques fizessem com que o tempo que restasse, aguardando, reduzisse. Era engraçado, como depois de tanto tempo, distante, menos de um terço do dia conseguia ser tão angustiante de ser ultrapassado. Com os olhos fixos, ele aguardava que o portão se abrisse e que por ele passasse o motivo de tanta saudade.
Um suspiro, e o olhar desviado por um instante, notara que tinha prendido a respiração. Menos de um segundo depois, um pequeno estalo eletrônico o fez voltar os olhos novamente para a entrada. E naquele pequeno intervalo de tempo, deixou que o rosto formasse um daqueles sorrisos, um que só conseguia dar quando estava perto dela.
Ela vinha, enfim.
Impaciente, abriu a porta do carro e desceu a rua na direção dela; os olhares se cruzaram e o sorriso antes hesitante, agora se expressara por completo. Os braços abertos da amada lhe chamavam, e ele teve a vontade de correr na direção dela, mas quando via, já estavam próximos. Sentiu o calor do corpo dela, e ele afundou sua face junto dela. Não era preciso tantas palavras, na verdade, elas não precisavam nem existir naquele momento. Os curtos segundos que se passaram foram, ao mesmo tempo, uma eternidade e um piscar de olhos; o encarecido e necessitado toque pelo qual esperara em dias contados se encerrara.
Mas agora, já não era problema. Pois ela estava junto dele.
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Curtas Literárias - Gênese
Gênese
As mãos deslizaram no nada, brincaram no vácuo do silêncio. E acompanhando seus leves toques, seus curtos e mínimos moveres dos dedos, aos poucos, surgiu a luz por de trás de um horizonte de vazio. Um punho se fechou num brusco movimento, e a luz parou junto dela; o indicador da mão oposta, meio segundo depois, com distraídos brincares, deixou pingos aleatórios. E dos pingos, surgiram pequenas gotas de verde que começaram a se espalhar, tal qual a água de um jarro que é virada num único e contínuo filete, esbanjando de sua vitalidade transparente e transbordante no ponto em que tocava o solo negro.
E então, de súbito, as mãos se levantaram ao ar; fortes, graves, retumbantes, vívidas e onipotentes. Eram indestrutíveis, eram mãos de um Criador. E conforme seus fortes e bruscos movimentos se faziam, o mundo começou a se formar da mesma forma. E do nada, brotavam então florestas, rios, montanhas e mares conforme os braços dançavam no que agora, não era mais um nada, mas sim uma maluca – e ao mesmo tempo tão sábia - e descontínua – e ao mesmo tempo tão contínua – gênese.
Depois de infinitos segundos contados e precisos, em que as mãos do Criador se moviam de um lado para o outro inventando o mundo em que nem mesmo as palavras ainda existiam, seus braços, cansados e que procuravam por um alento; tomaram uma forma contínua, e a vida lentamente tomou um curso uniforme e calmo. E com este caminho de pedras tão linear, o mundo conheceu o tempo, e com o tempo, surgiu ali o dia e a noite. E dos dias vieram os tempos de vida árida e os terremotos, e das noites surgiram as tempestades e as enchentes. E o mundo começou a ganhar experiência, e forma, muita forma. Uma forma disforme, uma vivacidade que pendia entre o paradoxo e o tão óbvio. As mãos do Criador continuavam a se mover, e quando paravam, elas nunca realmente paravam. Pois eram como as pausas, os contra-tempos da dança.
E quando o mundo já havia tido de tudo, e quando o mundo finalmente conhecera o tempo e como ele moldava as coisas, e como ele criava e destruía tal qual fazia o Criador em escalas menores; as mãos, abertas e levantadas para o ar, se abaixaram bruscamente. E junto das mãos se abaixando, foi-se a luz, foi-se o mundo, foi-se o tempo.
O balúrdio sonoro viera de trás dele. Virou-se de frente para o público, ao mesmo tempo em que voltou ao casulo em que sempre se prendia. Esse, do qual só conseguia se livrar quando a orquestra era por ele regida. Estava ali, O Maestro.
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Volta?
Deixando-me levar pelas músicas, e pelos sentimentos que elas trazem consigo; eu acabei chegando até a tela branca do meu editor de textos mais uma vez. E, numa sensação que mesclava nostalgia e excitação, deixei minhas letras soltas mais uma vez. O que escrever? Talvez um conto, talvez uma poesia; para falar a verdade, eu sempre senti saudades da época em que digitava meus sentimentos com uma frequencia maior.
Olhando para trás, eu vejo ali uns vários textos meus. Contos, poemas, ou simples conversas que eu tenho com meu editor, conversas com aqueles que lêem das minhas palavras. Eu deixei brotar um pequeno sorriso, um para cada letra que eu acompanhava. E, de repente, me veio a vontade de voltar a digitar como sempre, como antes. Como uma forma de me libertar, como uma forma de deixar debandar a alegria, a tristeza, a minha existência.
Este é um pequeno recado, será que alguém passa por aqui, ainda? Tentarei deixar alguns caprichos meus por aqui, talvez dois, às vezes três, certamente um por semana.
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